março 05, 2014

Cuidado com o "fisgo d'um", um causo mineiro.

Outra coisa boa de passar uns dias no interior do Brasil são as histórias, ou melhor, os causos contados pelos parentes mineiros. Este eu ouvi ontem e é baseado em fatos reais, de fonte fidedígna.

As terras do Sô Jão lá perto das montanhas.

"João da Penha era plantador de grandes terras lá do interior de Minas Gerais. Conhecido pelas riquezas, o uso de roupas simples e o inseparável facão pendurado na cintura. Homem matuto de costumes campesinos que fazia questão absoluta, por assim dizer, de ir até o gabinete do prefeito para pagar todos os impostos de sua gleba.

Nilton Chaves era o prefeito da tal cidadezinha de 8 mil habitantes da região. Afamado por receber os conterrâneos com o coração aberto e os inimigos políticos com palavras cautelosas. Tinha grande compaixão pelos aflitos e necessitados de assistência.

Acostumado com o cotidiano da roça, naquele dia, Sô Jão fazendeiro amanheceu com os primeiros raios de sol para honrar o compromisso dos tributos municipais.

_ 'Dia. - cumprimentou Sô Miguel, funcionário do financeiro.

_ Bom dia, como tem passado o Senhor, Seu João?

_ Tô aqui pra pagar as pedência do terreno.

_ Sim, Senhor. Sente-se que vamos logo resolver o assunto.

Ajeitando o facão foi sentando e ouvindo a prosa do Senhor funcionário.

_ Aqui está o valor total e o Senhor vai ver que este ano temos um acréscimo referente à manutenção das estradas da zona rural de nossa cidade.

João, astuto que era, olhou atravessado e disse:

_ Mas as estradas que vão dar nas minhas terras não viram esse tal de benefício. - respirando fundo, completou o sertanejo:

Pois que o Senhor não me venha com essa gabola, com risco d'eu tirá o fisgo d'um. - acariciando o facão,

De veras nas estradas das redondezas da fazenda do Sô Jão não tinham passado um tratorzinho sequer. E Seu Miguel conhecedor do pavio curto do conterrâneo João foi tratando de ir até o gabinete do prefeito argumentar.

_ Seu Prefeito, o João da Penha está aqui dizendo que se cobrarem o imposto referente as estradas ele vai tirar o "fisgo dum". Que é que eu faço?

_ Tudo bem, Miguel, manda ele vir falar comigo que eu resolvo a peleja.

Voltando à sala, Miguel anuncia:

_ Tudo certo, Seu João, o prefeito vai receber o Senhor agora mesmo.

Depois de um cafezinho e um dedo de prosa saem de dentro do gabinete os dois compadres abraçados. Então o prefeito sorrindo amarelo finaliza o argumento:

_ Miguel, anote aí na caderneta que o Senhor João da Penha vai acertar o valor (pausa) quando e como puder.

O fechamento da história foi uma dívida perdoada e muitos fígados preservados."


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Isabela: designer, especialista em tecidos automotivos, estudou psicologia clínica, trabalha inclusive com análise de tendências de design e comportamento humano. Está morando fora do país, por isso gosta de compartilhar as coisas interessantes que encontra pelo caminho.

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