dezembro 29, 2017

De Fogões

Por Elisabeth Santos
©  | Dreamstime Stock Photos

Depois do fogão a lenha, chegou à minha terra natal, a novidade da substituição deste combustível por palha de arroz. Passados uns tempos apareceram, um por vez, na loja especializada: o fogão a querosene, o elétrico, e por último o fogão a gás que permanece firme até os dias de hoje na maioria das residências daqui.

Quanto à geladeira a querosene, só era vista em algum estabelecimento comercial, que necessitava manter alimentos em baixas temperaturas.

Parece que a população do interior não fazia questão de aguardar mais um tempo, para ter em suas casas um refrigerador prático, de fácil manejo, ligado à tomada elétrica.

Então, no tempo da cozinha sem geladeira, de fogão feito de alvenaria, movido à lenha, ou palha de arroz... A atividade culinária não era nada fácil!

Gastava-se meia hora para acender o fogo, e aquecer a trempe. Até ferver a água do café, e o leite, outra meia hora. Aí sim se podia usar água quente da torneira, e até assar alguma quitanda no forno acoplado ao fogão, e tudo ficava resolvido: crianças a caminho da escola, adultos para o trabalho, o dia bem começado!

Passou pela cabeça do primogênito da família, ao arrumar emprego, trazer um presente surpresa, da cidade grande diretamente para o interior de Minas. 

Realmente surpreendeu! A cozinheira olhou desconfiada para aquele lindo fogão azul, de seis bocas, duas portas de fornos, e ainda por cima, ornado por uma fileira de oito botões.

Foi trazida uma mangueira que se conectou a um botijão de treze quilos de gás, e o susto ficou completo! Donana fez o sinal da cruz e afirmou que ali não haveria de cozinhar mais. Dona mamãe se comprometeu a ensiná-la, mas ela continuou irredutível.

Tinha medo de o botijão explodir.

Levaram-no para fora da cozinha, donde foi feito um orifício na parede para passar a mangueira. Nem assim Donana aceitou experimentar. Para não perder a cozinheira, e ficar muito tempo procurando outra, aquele cômodo abrigou dois fogões, um bem longe do outro, sendo que o novo, por cima da tampa levava um guardanapo bordada a frase: “Deus proteja este lar”!

E protegeu até o emprego da cozinheira, porque mesmo anunciando no Rádio:

“Procura-se auxiliar de cozinha, que saiba lidar com fogão a gás (de seis bocas para alimentar dezoito); dois fornos (para assar meio cento de quitandas ao dia)”, nem meio candidato apareceu.

O mérito, daquele maravilhoso fogão delegado a um segundo plano, foi despertar o gosto culinário nos adolescentes da família. Nenhum dos seis quis aprender o arroz soltinho, o feijão de caldo encorpado... Mas pavê, docinho, bolo de aniversário, pizza e todas as novidades da época, foram ali treinados diariamente.

Tempos depois, apareceu uma cozinheira para substituir a aposentada Donana. O fogão à lenha pode então ser demolido. As surpresas: o choro do menino de três anos, deduzindo que não ia ter almoço e jantar mais; a nova cozinheira que deixava uma chaleira d’água fervendo, o dia todo na chama do gás, e a comida em banho-Maria para o último que chegasse da rua. É isso. Doninha (nome da nova empregada) não havia ainda adaptado seus conhecimentos de uso de fogão demorado, para fogão rápido no cozimento.

A filha dela sim! Tem geladeira com funções diversificadas, micro ondas, cafeteira, panelas elétricas e ainda sabe fazer um autêntico churrasco na brasa!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".  

Hoje um novo dia

Por Elisabeth Santos


Encarar como novo o dia que estou vivendo: página em branco onde escrevo o que desejo.
Não olho para trás, nem pros lados. Sigo em frente determinada sobre o que almejo para o novo dia, e os seguintes.

Vou só, por um caminho nunca trilhado, pois a vegetação não é a mesma; a água que corre por debaixo da ponte onde estou também é outra.

Disposta a livrar-me das velhas frases, fases, azes... deixando asas crescerem para um voo imaginário em céus nunca antes sobrevoados.

Assim começo minha nova vida diante de um novo dia que amanhece. Não se trata de recomeço, pois não pretendo conseguir as mesmas coisas de uma maneira diferente. Entrego-me a algo não vivido, com nova mente, mas não novamente. A consciência do que quero, e do que aprendi nos erros e acertos das experiências vivenciadas anteriormente, guiam-me. Nada sei do território que estou pisando, dos segundos que o tempo percorre, da água que beberei. No instante certo, a flecha certeira do pensamento porá em minha boca a palavra certa.

Penso, logo existo.

Penso e não desisto.

Penso e insisto.

Insisto em mostrar-me como sou, em verbalizar o que sinto, em escrever o que está no meu direito.

Gostaria muito que seres humanos não estivessem se gladiando, destruindo o que de bom já foi construído, destruindo o planeta. Penso nas gerações que virão, mas não verão as coisas bonitas que vi.

Como seria bom se cada povo se respeitasse, com respeito a todos os outros povos, a respeito de posse, território, costumes, espiritualidade, cultura etc.

Seria ótimo para todos que houvesse uma aceitação das diferenças.

Tudo isto, não seria tudo, mas meio caminho andado. Nada poderia barrar pensamentos diferentes sobre o contexto, mas quem sabe pudéssemos entrar num acordo? Parece que quanto mais conhecimento de causa, mais medidas contrárias aos desejos humanos afloram.

Da mesma forma que uma mente sã estaria num corpo são, não pode haver uma convivência sadia num planeta em destruição.

E como está difícil atingirmos um nível de compreensão, ação para salvá-lo, salvando-nos! 

Sobreviverão os que se adaptarem melhor à ordem do dia, que muda a cada dia. 





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".  

dezembro 27, 2017

Como as pessoas celebram o Ano Novo

Assim como no Brasil, no México usam calcinhas de cores que significam... por exemplo, amor - vermelho, dinheiro - amarelo e assim por diante. Clique na foto para saber o básico. 



Os japoneses fazem uma festa onde funcionários e patrões bebem muito (muito mesmo), e ficam relaxados. A festa é chamada de bonenkai - esqueça o ano que passou.



Durante as 12 badaladas os filipinos pulam bem alto. Muitos dizem para os joven que ajuda no crescimento. Eles também não gastam nem um centavo no dia primeiro, pois eles acreditam que tudo o que acontece no primeiro dia do ano vai se repetir nos outros 364 dias.



Há meia noite, os equatorianos queimam bonecos gigantes que imitam as pessoas que eles não gostam. Eles são chamados de monigotes ou anos velhos e podem ser personagens, inimigos ou até políticos. Já pensou se a moda pega no Brasil?


Na Dinamarca as pessoas quebram pratos na porta dos outros. Diz a lenda que quem tiver mais louça quebrada, tem amigos mais fiéis.



Na Sibéria eles se vestem de Papai Noel e plantam árvores de Natal no fundo dos lagos congelados. O record é de um mergulhador que desceu 3,5 metros. Dizem que dá sorte, se o mergulhador não morre congelado...



Quem mora em São Paulo vai à praia no dia 31 e antes do amanhecer pula 7 ondinhas no mar. Dizem que dá sorte.



No Rio de Janeiro as oferendas à Iemanjá enchem a praia de barquinhos e oferendas como perfumes, frutas, velas e incensos.



Em Minas, como em todo o Brasil, a gente se vestia de branco e colocava a calcinha da cor que atendia o pedido do ano seguinte. Também fazíamos a superstição da romã; a tal que manda comer 3, jogar fora 3 e guardar 3 na carteira para trazer dinheiro. Na ceia abria-se um espumante (que a gente chamada de champagne mesmo), comia peru recheado com farofa, lombo de porco com abacaxi, frutas cristalizadas, cereja marrasquino, nozes e castanhas. Se o número de pessoas era grande, como era comum na tal "tradição, família e propriedade", ainda haviam jogos que hoje chamariam de dinâmicas de grupo para agitar a garotada.

dezembro 22, 2017

Guia Turística

Os casarões e o estilo barroco de arquitetura do Sul de Minas Gerais.

Todo mundo deve ter tido um dia de atender um turista em sua cidade, ou em qualquer outro lugar. Turistas aparecem do nada, e quase sempre precisam de uma informação a mais do que as que já têm no celular ou GPS.

Eis que estou saindo da Academia e me deparo com um casal de jovens turistas. Vendo o casario colonial da cidade, manifestaram o desejo de visitar um deles, para conhecer mais um pouco de como viviam as famílias do século passado. Tinham uma curiosidade sadia, e resquícios de lembranças da casa de algum antepassado. Dentro daquelas casas de portas e janelas bem maiores que as de hoje; com altura (ou pé direito) avantajada, qual seria o estilo de móveis, fogão, utensílios, enxoval, enfim?

Entabulamos conversa e ofereci-me a guia-los dentro do casarão colonial, herança da família.

Sala de visitas impecável; sala de jantar com mesa para doze ou mais talheres, e cristaleira combinando; copa ainda com a mesa marchetada e desdobrável; quartos de poucas camas e muitos colchões empilhados; banheiros e cozinha reformados, pois seria impossível voltar-se ao tempo de banhos de banheira; de fogão a lenha no espaço doméstico, para mais de vinte familiares em férias por ali.

A decoração de fotos emolduradas das seis últimas gerações; arranjos florais, e muitas lembranças.

No espaço externo, os turistas admiraram-se com a quantidade de pessoas calculada para os períodos de férias: rancho de pingue pongue, e pebolim; quadra de vôlei; campinho gramado para chutar bola; mesa de jogos inclusive baralho.

Surpreenderam-se com a mangueira de folhas novas e verdinhas mesmo depois de podada até o toco!

E os turistas deixaram uma ideia a ser aproveitada fora do período de férias, quando todos os espaços ficam cheios de gente (verdadeira enchente): colocar o casarão à visitação cobrando-se um ingresso módico, deixar uma mesa posta com café e quitandas para quem quiser pagar o preço provando daquelas inigualáveis delícias, difíceis de encontrar nas padarias.

Pau a pique: broa de fubá assada na folha de bananeira.

Pamonha: iguaria de milho verde ralado, cozida na própria palha.

Geleia de jabuticaba.

Queijo fresco.

Bolo de vários tipos.

Pão de queijo.

Tudo acompanhado de refresco de uvaia geladinho, ou café coado na hora, com os melhores grãos do Sul de Minas.

_ Até fiquei com água na boca, uai.

_ Bateu saudade, viu?

_ Vontade de tomar conta do negócio?

_ Nenhuma. Queria sim, estar desfrutando dessas maravilhas!

Isabela e Edison turistando em Beagá



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

dezembro 15, 2017

Romaria à Aparecida

Por Elisabeth Santos

Católicos do Brasil tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida, e a devoção os leva a ir até o Santuário, em Aparecida do Norte, pelo menos uma vez na vida.

Aqui do Sul de Minas, todo ano, saem romarias a pé até aquela cidade, para agradecer bênçãos recebidas; pedir alguma graça especial; e também pagar alguma promessa feita.

E lá vai a Romaria.

Quem foi uma vez acaba voltando noutras oportunidades.

Depois de uma boa caminhada, a primeira parada, saindo de Campanha, é em Olímpio Noronha. A cidade oferece aos romeiros uma Creche onde possam jantar da marmita que trouxeram, e dormirem nos colchões tirados do caminhão. Aliás, neste tem tudo que possam precisar: mantimentos; pão; medicamentos; fogão; utensílios de cozinha; e a mala de cada um.

A bandeira com a imagem da Santa vai à frente. Em seguida vão os grupos, sendo que a equipe do trabalho, embora com a mesma devoção, segue pelo asfalto dentro do caminhão. Estes são os que se deitam a descansar mais tarde que os outros, e às duas horas da manhã já estão arrumando a primeira refeição do dia.

À medida que a turma acorda, se alimenta, e tendo água encanada, ajuda a lavar as canecas.

O almoço geralmente é em outra parada, por isso o caminhão ultrapassa os caminhantes, monta a cozinha, pega água na nascente, e ao chegarem os caminhantes encontram tudo pronto. Comem com gosto, daquela comida caprichada, feita com tanto carinho.
Estão no município de Maria da Fé, o clima mais frio nas Minas Gerais. Chegando à cidade, os romeiros são recebidos no Clube onde farão a refeição, e a pousada. Descarregam o caminhão novamente. Voltam a carregá-lo antes do amanhecer. Ninguém reclama. É a penitência escolhida por eles, prosseguem satisfeitos, e dispostos a subir a Serra da Paciência, tão íngreme quanto tortuosa. A Bandeira, novamente à frente, lá no alto aguardará a turma reunir-se, pois nesse trecho mencionado, cada qual vai ao seu ritmo.

E a Romaria segue o roteiro, a mesma rotina, levando um pouco mais de cansaço ou pés mais doloridos. O que têm sobrando é força de vontade, fé e devoção à Padroeira.
Enfim a última parada, e o tão sonhado momento de chegar ao Santuário!

Ajoelhados rezam juntos.

A despedida é no Terminal Rodoviário, após pegarem cada qual sua bagagem no caminhão. Em poucas horas estarão em suas casas, ao lado dos familiares, contando detalhes e causos curiosos da Peregrinação.

Ninguém duvide que alguns estarão fazendo planos para o próximo ano, juntamente com esses colegas de agora. É por isso mesmo que há quem faça esse caminho até Aparecida anos seguidos: vinte, trinta e cinco, e quase cinquenta!

Ninguém se arrepende do que escolhe definitivamente, de corpo e alma. Tudo em louvor à Senhora Aparecida, padroeira do Brasil!







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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

dezembro 08, 2017

De volta

Por Elisabeth Santos
© Fromac
ID 1461024 | Dreamstime Stock Photos

Depois que Dom Ratão caiu na panela de feijão antes mesmo do seu casamento com Dona Baratinha, ninguém do Reino da Bicharada quis servir feijão em dia de festa.

O rei que conduzia a princesa Aurora ao altar para casar-se com seu encantador príncipe, ofereceu aos convivas três dias de festa. Serviu feijão? Não!

O feijão ficou esquecido por séculos a “seculoruns”, até voltar em apetitosa feijoada. Em dias amenos, almoço com este tradicional prato brasileiro, agrada muito.

Quem não ficou satisfeito com o feijão daquela forma guarnecido foi a família dos Três Porquinhos. Afinal feijoada tem pé de porco, orelha de porco, carne de porco como ingredientes originais. Mal comparando, teria sim um porco caido no caldeirão do feijão antes da festa!

Chapeuzinho Vermelho ia pela estrada a fora levar uns doces para sua avó. Na metade do caminho encontrou o João do Pé de Feijão. Conversa vai, conversa vem ele a convenceu a levar uns feijões para a vovó cozinhar em sua sopa. E ela aceitou, mas deixando cair um grão viu-o brotar e crescer com tamanha rapidez, que atingiu uma nuvem. Claro que ela, assustada, fugiu correndo.

Quem passou por ali em seguida, deve ter sido Branca de Neve. Colheu vagens daquela planta tão linda para preparar o jantar dos sete anões. Cada qual reagiu de um jeito: Feliz elogiou; Dunga repetiu; Atchim foi curado dos espirros; Mestre quis a receita da cozinheira; Soneca comeu até ficar com os olhos arregalados; Dengoso precisou colocar açúcar no feijão; Zangado lavou a panela sorrindo!

Quando a bruxa ali chegou trazendo a sobremesa de maçã vermelhinha, ninguém aceitou o presente por estarem satisfeitos!

Em seguida chegaram João e Maria que estavam perdidos na floresta. Branca de neve e os Sete Anões não tendo no momento refeição pronta a oferecer, assobiaram chamando a Fada Madrinha da Gata Borralheira. Esta, com a urgência que a situação exigia, e já estando de memória fraca, apontou sua varinha de condão para a estrada onde passava a carruagem do Gato de Botas. Adivinharam, né? Não deu outra... A carruagem virou abóbora fazendo o Marquês cair e bater com a bunda no chão.

Depois dos devidos pedidos de desculpas, sentaram-se todos à mesa para apreciar Abóbora ao Molho Agridoce.

Ao aparecimento de Peter Pan e companhia limitada, todos ali voltaram voando para seus devidos lugares nas páginas dos Contos de Fadas.


Na Terra do Nunca cada qual conta sua versão dos fatos!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

dezembro 01, 2017

Chuchu e Xuxuzinho

Por Elisabeth Santos


Coleciono em meu caderno várias receitas de chuchu para as refeições cotidianas. Como tem suave sabor, chuchu combina com muitos outros: azeitona, carne, camarão, queijo, ovos etc.

Quem estiver no comando do fogão poderá experimentar complementos diversos, temperos exóticos, e novas maneiras de apresentação do prato, fugindo do tradicional refogadinho. Em salada, empadão, suflê ou simplesmente num molho branco coberto de queijo ralado, o chuchu mudará de cara sem perder suas boas propriedades.

De brincadeira ouve-se por aí, que este fruto tem três vitaminas, a saber: “A” de água; “B” de bagaço; “C” de casca. Não é bem assim, entretanto. Numa pesquisa “internética” é possível desvendar os componentes secretos desse alimento. A quantidade de ingestão, para aproveitamento total de seus benefícios ao organismo... Desconheço.

Se acaso for recomendado para todo dia, um prato cheio, pode-se enjoar como se enjoa de qualquer outro alimento que não seja arroz/feijão.

Quanto ao xuxu e ao xuxuzinho, são expressões carinhosas reinventadas, e muito utilizadas pelas pessoas para: elogiar, demonstrar carinho e agrado.

Observando o chuchu quando nasce e está em fase de crescimento, é fácil saber donde veio inspiração para frases elogiosas usando “xuxuzinho” como adjetivo.

Observem.





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

novembro 24, 2017

Imaginação e realidade

Por Elisabeth Santos



Nem sempre a mentira é intencional. Idosos, por exemplo, vão contar um episódio passado, e citam fatos ocorridos em outro contexto. É um probleminha da memória desgastada pelo tempo.

Passado disso, não sendo decorrente de alguma doença, ao contar detalhadamente um causo, a imaginação sim, poderá estar agindo... a todo vapor. A vapor como os trens de ferro, quem sabe fora dos trilhos, se isto fosse possível.

Juca Pinduca começava suas histórias assim:

_ Na escuridão das ruas do povoado, à meia noite passava o lobisomem da corrente. Os moradores fechavam as janelas, sondavam pela fresta e nada viam. Escutavam, e se arrepiavam, com o barulho do metal se arrastando nas pedras do calçamento. Lá adiante, numa esquina, a “coisa” soltava um uivo, e sumia sem deixar rastro!

_ Quando na pensão que eu morava apagavam-se as luzes do corredor, ouvia-se um subir dos degraus da escada, muito estranho: ti, ti, tum; ti, ti, tum; ti, ti, tum... Era uma ratazana velha com uma deformidade na ponta do rabo. Decerto que ela queria alcançar o forro da casa, e se transformar em morcego como seus ancestrais. Morcegos não passam de ratos, que a partir de certo tempo criam asas.

_ Lembro-me certa feita, que indo buscar peixe pro almoço, o açude estava tão cheio, que preferi abrir o guarda sol e encher ele de tilápia.

_ Estou recordando do episódio da sucuri nadando no rio. Primeiro ela deixava o veneno dos seus dentes pontiagudos numa folha da margem pra vir depois buscar. Nunca errava a folha da árvore!

_ Uma vez, numa caçada à onça nas terras do patrão, ela abriu a bocarra e acertei o tiro na sua goela. Quando ela caiu, percebi haver acertado duas! Bem que desconfiei do baque depois de atirar. Quem mandou andar em dupla, né?

_ Não tem erro não, gente: se a coruja piar alguém ali vai morrer!

_ Se ela não piar... é porque morreu!




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novembro 17, 2017

Simples, simplório, simplista.

Por Elisabeth Santos

Vista das montanhas mineiras.

Era simples.

Tornou-se simplório.

Hoje é simplista.


Simples e natural, era simplesmente descomplicado!

Simplório, quando se esqueceu dos seus direitos, lembrando-se apenas do que tinha de deveres.

Simplista ao resolver que poderia ser muito mais ao reduzir aquele mundo de senões, exceções, adendos, entrelinhas da leitura que sempre fez de Humano/Humanidade.


Seu pai detestava a teoria simplista. Lembrava-o de Darwin, mas não era nada disto que o pessoal ao seu redor falava, posto que desconhecesse a pesquisa do tal cientista.

Então, depois dessas preliminares, quem nasceu simples: aprendendo o amor, o respeito, a educação... em família, num lar...

Prosseguiu sua formação em uma escola, que passava também princípios éticos...

Conviveu numa sociedade justa.

Esteve pronto para enfrentar desafios naturais da convivência sadia com seus ajustes diários, pois cada ser humano tem suas particularidades. A  índole, a personalidade, a consciência, o livre arbítrio!

Nada disso se encaixa numa teoria simplista.

Restou ser simples ou simplório. Poderá ser as duas coisas, ou não ser nem uma, nem outra. E qual será escolhida como primeira? Qual ficará como segunda ou última opção?


A teoria simplista cai por terra por não funcionar onde existe o interesse próprio. E este, pelo que se tem conhecimento no nosso mundo, nunca deixou de se fazer presente. 



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