setembro 28, 2018

Chuveiros

Por Elisabeth Santos


© Raphaelgunther

Ah que delícia uma chuveirada num dia quente, num chuveiro bom! Não sendo exigente em matéria de marca, chuveiros novos são todos bons.

É o que muita gente pensa, porém um dia repensa. Pois até o melhor desses aparelhos poderá entupir devido a problemas com a água que estiver caindo dentro dele. O problema complica quando qualquer um de nós, “os chuveiristas”, tenta tomar um bom banho no inverno, e uma gota teimosa desviando caminho cai gelada em nossas costas. Aprendendo a manha, sabendo de antemão que dali sai o pingo que causa arrepio, a gente entra no banho pelo outro lado. A gota teimosa bate no vitrô. Nossa esperança é que o vidro fique limpinho.

Com a continuidade do uso desse útil aparelho elétrico, acrescido da água barrenta do tempo chuvoso poderão aparecer outros jatos fininhos em direções diversas. Uma tortura em qualquer estação do ano.

A gente quer se banhar, e na verdade tem que pular de cá pra lá e de lá pra cá, para assim conseguir molhar o corpo. No momento da ação da bucha espumante, fechamos o registro d’água. Com esse tantinho caindo... Questionamos se seria mesmo necessária a tal manobra.  

Soluções amadoras descartemos todas: sopro, escovação, palito, desentupidor de fogão a gás, nada disso resolverá. Melhor trocar o chuveiro.

Quem fará o serviço será o bombeiro hidráulico. A escolha do objeto elétrico, na loja especializada ou mesmo no supermercado, poderá ser feita por qualquer um de nós que temos o hábito de boa chuveirada diária. Escolheremos pela quantidade de fileiras de orifícios que o aparelho tiver. Quanto mais melhor. Estaremos garantindo o banho molhado porque banho a seco... ninguém merece.



Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

setembro 24, 2018

Convivendo com um passivo-agressivo, o livro, capítulo 4.1

Atendendo a pedidos, cá estou eu dando continuidade ao resumão do livro do Dr. Scott no qual ele combina experiências de consultório, de amigos e observações sociais sobre a convivência com um passivo-agressivo.


Lembrando que nada substitui a leitura do livro do próprio autor. Esse texto tem a intenção de ser a base introdutória para um assunto complexo que merece ser relido várias vezes durante o longo e duro processo de amadurecimento.

Eu faço o que eu quero.

O homem passivo-agressivo: como ele amadurece desse jeito

O Dr. Scott escreveu este capítulo para todas as pessoas que vivem perguntando como esse homem ficou assim? É claro que cada pessoa é única, mas algumas teorias serão detalhadas por ele.

Paisagem e linhagem

Estímulo e genética são as responsáveis por quem somos hoje. Vários psicólogos aceitam o equilíbrio de forças entre os dois componentes formando temperamento e depois o caráter adaptativo.

A natureza se baseia em genética, DNA e trata do aspecto determinante do ser humano, ainda que não contem a nossa história completa. Existem linhas psicológicas que estudam características físicas que podem ser futuros determinantes de traços de personalidade. O social é trazido pela também pela família, mas ainda pela escola, pela igreja, pelos modismos e outros componentes do cotidiano. Os psicólogos investigam quais estruturas sociais criam essa personalidade e por isso focam no desenvolvimento infantil para descobrir essas influências.

A criança é o "pai" do homem adulto.

O passivo-agressivo ficou parado no passado. Emocionalmente frágil, ele tem essa falta de sensibilidade com os outros sendo que a auto defesa é o escudo de proteção dele contra o mundo.

Como ele se tornou passivo-agressivo: um resumo

Raramente um só incidente é a causa de uma situação complexa como essa. As histórias de vida de pessoas costumam carregar vários elementos memoráveis como: abandono, humilhação, o encontro com um herói, se casar ou receber um prêmio. Como essas histórias são contadas pelo próprio paciente, os psicólogos entendem que elas são muito passíveis de distorção. Vamos seguindo...

Outro ponto de ponderação do autor é nos lembrar que as histórias de infância desse homem são ainda uma percepção sobre o acontecido. Isso quer dizer que não necessariamente foi o que os pais dele fizeram. É fácil culpar os pais, mas eles não podem ser 100% culpados pela pessoa que esse homem se tornou.

O mais importante então é saber como ele se comporta com eles. deixando para segundo plano o relacionamento dele com irmãos e outras pessoas. Por exemplo, se ele "te dá uma gelada" - fica sem falar com você por um tempão - pode ter certeza que isso é um hábito que vem desde a infância o protegendo dos pais numa conduta adaptativa às situações do dia-a-dia.

Mais especificamente assim... O pai o manda obedecer uma regra dizendo "Quem você pensa que é para discordar de seu pai?", ou a mãe o humilha "Esses meninos de hoje pensam que sabem das coisas.". Machucado por seu pai, ou sua mãe, ele nega o problema ficando em silêncio e se expressando da única arma que dispõe, pois suas palavras não valem nada e ainda são usadas contra ele. Dessa maneira ele aprende que não demonstrar sentimentos aos amigos, colegas de escola e professores.

Com o tempo ele vai usar o mesmo tratamento com o marido, a esposa, o chefe, os colegas de trabalho, pois ele acredita que eles têm o poder de o machucar tanto quanto seus pais o fizeram. Agora temos um comportamento entranhado na personalidade do ser humano.

O autor dá um exemplo que pode ser passar desapercebido de muitos. Numa entrevista de emprego o rapaz fica em silêncio, encarando você criando um ar de desconforto entre as perguntas. A mulher então fala desenfreadamente tentando desfazer a parede de gelo que ele criou. Ela na verdade queria dizer: "Você não precisa ficar aí como uma peixe morto olhando para mim. Eu não sou a sua mãe."

Primeiras pistas: Começo da infância e passividade-agressiva

O primeiro problema que muitas mulheres enfrentam com ele é a inconsistência. Ele é autosuficiente, mas também é assustado e precisa que você o ajude. É o conflito pessoal entre a dependência e Scott promete falar mais sobre isso no próximo capítulo.

Este homem se lembra de ser incompatível e contrariado desde muito pequeno, justamente numa fase da vida onde somos totalmente dependentes. Inconscientemente ele espera ser tratado por outros assim como ele foi tratado na infância, com discordância. Nada é suficiente e as desilusões provam exatamente isso, ainda que elas sejam armadilhas criadas por ele. De alguma maneira ele acha que é merecedor de tratamentos especiais. Obedecer é pedir demais dele já que seus pais o controlavam demais, ou o castigavam sem pesar os motivos.

O passivo-agressivo começa sendo "o do contra",
especialmente perante as figuras de autoridades.


Outro exemplo bacana que abrange a possessividade é descrito nesse momento. Digamos que a mãe dele tenha sido muito controladora - esse é o fato que ficará na cabeça dele. Agora ele está com você e acredita que você seja igual a ela. O que ele faz então? Ele se mostra vago sobre quando vocês vão se encontrar no sábado. Pede que você aguarde um contato com os detalhes de horário e local para se verem. Perto do final da tarde, sem ter recebido nenhuma mensagem dele, você tenta ligar, mas ele não atende. Você deixa mensagem para que ele ligue de volta para você. Depois de algumas horas ele te liga nervoso porque você ligou várias vezes... pronto, aí está a prova de que você é possessiva!

Esses tipos criam relacionamentos insatisfatórios somente porque eles são muito familiares a eles. Enquanto criança ele se sentia inseguro ao ficar longe de sua mãe, como adulto ele vai ter vergonha de sua dependência. Assim começam os jogos de dependência versus poder que ele vai jogar até que se torne um adulto.

***



O livro: Living with the Passive-Aggressive man; Coping with the Personality Syndrome of Hidden Aggression - from the Bedroom to the Boardroom, de Scott Wetzler, Ph.D. Em tradução livre Vivendo com o homem passivo-agressivo; Lidando com a Síndrome de Personalidade da Agressão Encoberta - da Cama à Sala de Reuniões. Autor: Scott Wetzler, Phd., New York, 1992.




setembro 21, 2018

Amamentando

Por Elisabeth Santos

Estando no tempo certo do desmame de sua filha, Sulamita teve alguma dificuldade. A criança não querendo largar o leite do peito, também não aceitava o alimento na mamadeira. Conversando com sua comadre, esta lhe deu a ideia de estar sempre vestida com blusa não decotada, e na cama usar só camisolas abotoadas até o pescoço. Sulamita, entusiasmada, seguiu o conselho da amiga contando com o resultado positivo. Quanto às blusas, deu tudo certo. Não vendo o peito da mãe e a mãozinha não o alcançando, aceitou outros tipos de alimentação.

Aconteceu que de manhã, saindo de seu berço, vendo a mãe dormindo, subiu em sua cama, e engatinhou até a altura do peito. Estava tampado pela camisola! Tentou desabotoar sem conseguir. Puxou a roupa da mamãe, mas não conseguiu abrí-la. Tentando outras táticas sem êxito, engatinhou até o fim da camisola longa e entrou por baixo ficando ali a mamar sossegada.

Sim, a jovem mãe tinha acordado e prestado atenção nas peripécias da filhota, se segurando para não rir.

Passados uns meses o leite secou totalmente e a menina já havia aprendido a comer frutas com suas próprias mãos e assentar-se à mesa de refeição com os pais, comendo de tudo.


Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

setembro 17, 2018

Convivendo com um passivo-agressivo, o livro, capítulo 3

Atendendo a pedidos, cá estou eu dando continuidade ao resumão do livro do Dr. Scott no qual ele combina experiências de consultório, de amigos e observações sociais sobre a convivência com um passivo-agressivo.

- O seu nome é Dave?
- Sim! Meu nome É Dave!
Obrigado pelas BEBIDAS GRÁTIS!
Daves pela vida!!!

Lembrando que nada substitui a leitura do livro do próprio autor. Esse texto tem a intenção de ser a base introdutória para um assunto complexo que merece ser relido várias vezes durante o longo e duro processo de amadurecimento.


Quem cai no conto do homem passivo-agreesivo?

O autor começa o capítulo jogando uma batata quente no seu colo... E essa batata vai te deixar um pouco irritada, aviso. Se no capítulo anterior ele falou como você pode contribuir como passivo-agressivo, consciente ou não. Agora  ele vai focar em como você se apresenta para um cara desse tipo.

Ela se pergunta "Isso tudo é minha culpa? Eu falei ou fiz alguma coisas para provocar essa resposta?" ele responde: "Talvez sim." Porque todo relacionamento tem duas pessoas e a sua atuação é tão importante quanto a dele. Ele exercita o poder sobre você e geralmente consegue o efeito desejado. Não somente quando você é assertiva ou submissa, mas nas pequenas dicas que você dá.

Se você está lendo esse livro, afirma o autor, é porque tem problemas nesse relacionamento e o jeito mais fácil - por estar no seu controle - de mudar as coisas é mudar a si mesma. Auto conhecimento ajudará você a ver com exatidão quando se permite ficar num relacionamento que é insatisfatório ou que te restringe. Antes de mais nada verifique seu medo de abandono, ou separação.

A questão (estar com ele) parece um bom negócio quando você precisa preencher esse vazio, ainda que perdendo sua segurança. Afinal esse tipo, o passivo-agressivo não irá te rejeitar diretamente. Entretanto, esse preço pode ser um pouco alto de se pagar até que você esteja pronta para a mudança.

Algumas personalidades tendem a: vítima, salvadora e autoritáriaamos. Vejamos em qual delas você se encaixa.


A vítima

É o tipo que está sempre se desculpando por ter demandas ou necessidades. Ela pensa, com triste aceitação que é "melhor estar com ele do que ficar sozinha" ou "foi o que eu consegui para mim". Entram no relacionamento com esperança de ele melhore e sentem-se segura por serem amadas embora não tenham tanta intimidade com ele. 

A vítima, em geral se doa muito, mas para pessoas que nunca vão poder retribuir. Um dos exemplos é de uma paciente que estava noiva do cantor que nunca havia sequer composto uma música para ela. O rapaz chamado George fazia com que ela não se sentisse adequada para ele, nem mesmo se sentisse amada.

De fato Jane sabia que o tal relacionamento se parecia muito com o que havia tido com sua mãe. Para ela, o amor era facilmente associado com subtração, humilhação, promessas vazias e palavras não ditas. Ela cresceu sem saber como pedir as coisas que queria, afinal privação era o menu de todo dia. A ajuda veio em forma de reconhecimento de padrões de comportamento, do tipo: cancelar um encontro 10 minutos antes do horário, ou brigar sempre antes de irem dormir.

Jane aprendeu que abuso não é amor, mas amor pode ser usado como arma para abusarem dela. Que ela estava se humilhando por migalhas para estar ao lado de alguém que não dava a mínima para ela.


A autoritária

Algumas mulheres que se envolvem com homens passivo-agressivos gostariam que os homens se sentissem confortáveis para falar honestamente. Entretanto, autor percebeu que isso nem sempre é verdade, pois a autoritária não aceita um não como resposta. 

Pode até ser que o passivo-agressivo inicialmente desejasse expressar seus sentimentos, mas então ele é interrompido por uma desaprovação. Mais tarde ele não falará e ninguém será capaz de tirar palavras de sua boca. Afinal para a autoritária o mais importante é conseguir as coisas do jeito que ela quer.

No exemplo do Dr. Scott, Andreia mais se parece como uma chefe do que a esposa de Frank. Há tempos ela se recusa a ouvir o que ele tem a dizer e o destrata na frente de amigos. Ela está insatisfeita no trabalho e também no amor, sendo assim, desconta sua raiva no marido passivo-agressivo. Com receio de não poder recusar um pedido de sua esposa, ele não mais responde, vira de costas e sai andando. Atualmente a conversa não existe entre os dois, ele dorme na sala controlando a situação sexual do casal.

A primeira dica para resolver este caso é entender o próprio desejo de controle. Saber que a pessoa que está livre para falar também é livre para ir embora. Igualmente, é preciso aprender a receber um não como resposta, saber ser rejeitada. Lembre-se que o passivo-agressivo não tem nenhum medo de dizer não quando tudo o que você queria era ouvir um sim.


A salvadora

Existe uma tensão entre a mulher do tipo salvadora e o passivo-agressivo. Ela é a "mulher por trás de um homem de sucesso", a base e aquela que vai resgatá-lo. Ainda que baseada em motivos altruístas ela o superprotege transformando o relacionamento  (pessoal ou de trabalho) em algo maternal. Agindo como a "mamãe" dele você valida as tendências auto destrutivas dele - seja por algum vício, ou ainda pela incompetência social de se fixar num trabalho.

Mark e Rita se davam muito bem, mas recentemente ela tem reclamado da passividade-agressiva do marido. Entre outras coisas, ela notou que ele faz com ela seja vista como a "bruxa má" perante os amigos do casal. Ela é definitivamente a extrovertida, enquanto ele é o tipo que perde a estação do metrô indo parar no bairro perigoso da cidade por puro descuido.

Ao se sentir incompetente, na verdade
o homem não está muito longe de ser impotente.


Dr. Scott percebe que Rita está focada somente nas dificuldades do marido. Ela se esquece que ela também participa do distanciamento do casal. É preciso lembrá-la que antes de qualquer coisa, ele está sempre ao lado dela a acalmando. 

Todas as vezes que você age como uma figura de autoridade perante um passivo-agressivo, você assume uma responsabilidade que é dele e o estimula a ser dependente. Em doses homeopáticas você contribui para o tal comportamento. Neste caso, a dica prática do autor é: não conserte a pia que ele prometeu consertar, nem ligue para o encanador. Se fizer isso ele vai entender que você é a dominadora se ofendendo pelo seu poder. A resposta dele será a rejeição reforçando em você a ideia de que você não é boa o suficiente para ele. 

Como você já deve ter entendido, o passivo-agressivo é vulnerável e desajeitado com as mulheres. Quanto mais rápido você se reconhecer em um dos três estereótipos citados nesse capítulo melhor vai entender porque atraiu esse tipo para sua vida. Ironicamente, o passivo-agressivo também te protege da ansiedade de mudar.

Força! Agora você tem uma grande chance de parar isso que está te machucando e construir um ótimo relacionamento, no futuro.

***


O livro: Living with the Passive-Aggressive man; Coping with the Personality Syndrome of Hidden Aggression - from the Bedroom to the Boardroom, de Scott Wetzler, Ph.D. Em tradução livre Vivendo com o homem passivo-agressivo; Lidando com a Síndrome de Personalidade da Agressão Encoberta - da Cama à Sala de Reuniões. Autor: Scott Wetzler, Phd., New York, 1992.

setembro 14, 2018

Pique Esconde

Por Elisabeth Santos
© Richard J Thompson

Brincando de Pique Esconde estamos nós até os dias de hoje, que já não são... “da nossa infância querida que os anos não trazem mais.”

Eu brinco, tu brincas, ele brinca, nós brincamos...


Eu escondo, tu escondes, ele esconde, nós escondemos...


Não. Nós não conseguimos nos esconder. O serviço de Telemárquete nos acha onde quer que estejamos nós, a escondermo-nos!


Afinal por que me escondo se nada devo? Escondo-me justamente por nada dever, e também achar que tenho o direito de fazer o que bem quiser e entender dentro da minha própria casa, sem ficar ouvindo ofertas de algum negócio super vantajoso. Alias vantajoso para mim é que não há de ser! Vantajoso para quem está vendendo ou ofertando?


Sim! Ninguém faz ligação para um dos meus telefones para oferecer:


_Hoje você está recebendo um milhão em sua conta bancária como doação para pagar contas, presentear amigos, dar uma festa, gastar como quiser sem nem ter a declarar!


Também do jeito que as falcatruas correm soltas, acho que eu ia desconfiar e recusar-me a receber: “_Esmola demais até Santo desconfia”, já dizia meu bisavô, fervoroso em suas devoções.


E o Santo, mesmo muito Santo que seja, pode desconfiar sim: _ Aquilo não seria uma esmola, pois vem com um pedido dos grandes. Daqueles classificados como milagre. Eu não mereço. Ninguém merece!


Parodiando: “Eu me sinto infeliz como infeliz se sente, longe da Pátria amiga o aventureiro audaz...”

_ Eu me sinto feliz, feliz como passarinho a voar, longe de telemárquete protegida em meu lar!

Que jeito? Queixar-me com quem? Reclamar aonde?

E quanto mais deixo de atender ao telefone, mas o telemárquete liga. A Dona Bina, Cara Bina, amiga fiel, faz sua parte:

“_ Não atenda! É o Téle de novo!” - Afinal o que quer o Téle de novo?

Resolvo ouvir pela última vez: _ Bom dia, como vai você?bem graças a Deus, não é mesmo?que ótimo que tudo está indo bem com o emprego, a família, os vizinhos e o noticiário repleto de coisas boas né?o dia está lindo, os índices da bolsa estão melhorando para os investidores sem exceção, o país na santa paz, nada de desemprego, nada de crimes bárbaros, e sim muito conforto, saúde, dinheiro sobrando pedindo para ser gasto nos vantajosos planos que estou propondo-lhe hoje.hoje, só hoje.agora.é pegar e não largar pelas ultras vantagens oferecidas nessa oportunidade única.não.não responda não, antes de ouvir até o final o que tenho aqui para clientes fiéis.um pacote.sim um pacote imperdível. por apenas o dobro do preço que você investe conosco mensalmente, o quádruplo das vantagens que já tem disponíveis para os másters, os seniors, os especiais dos especiais.sem assinar ou apresentar documento algum a mais do que já tenho aqui diante dos meus olhos, você poderá falar ao telefone, ver filme na TV, ficar na internet vinte e quatro horas, ou mais, diariamente pelo resto da sua vida fazendo inveja a todos os amigos.mas eu ainda não disse tudo.não responda antes que eu termine de listar o que ainda nem chegou na metade.já pensou na vantagem de nem parar para fazer refeições?poder estar acompanhado pelo seu aparelho estando no wc?ouvir seu sinal mavioso enquanto faz amor,dorme,toma café, faz caminhada,visita os amigos,assiste a cerimônia religiosa,faz compras na feira,no magazine, no brechó da esquina?engole a água pura e cristalina da fonte natural,colhe vegetal orgânico, arruma a salada que nem terá tempo de provar?bebe cerveja com colegas, paga a conta sorrindo,pega o carro no estacionamento já com o áudio do aparelho no último volume.vai e volta para o trabalho sem precisar trabalhar, sem ter nenhum pepino a descascar, sem nenhuma amolação, nenhum pedido do chefe para ontem?tudo e muito mais.pegar ou largar pois não terá segunda, terceira ou milionésima vez.é só neste exato instante, momento, átimo de segundo que estou a oferecer-lhe tanta exclusividade.alguma pergunta?não, não pergunte já.vou adivinhar o que lhe passa pela cabeça.você deseja dirimir uma pequena dúvida, eu sei.deseja assuntar... se com tantos favores, por tão baixo custo não vai ter atravancamento, linha cruzada, grampeamentos indevidos, ligações de presídios de máxima a mínima segurança, atropelamentos, roubo de cargas eletrônicas, pane total ou quase no sistema, filas no atendimento hospitalar por desgaste nervoso dos habitantes, creches e escolas sem responsáveis, se enfim o sol vai voltar a brilhar... o mundo a passar quase desapercebido pelas quatro estações do ano, astronautas perdidos no espaço emaranhado por ligações que nem sabem donde vieram, ou para onde ‘tão indo...Perguntarei para a chefia. _Tú... tú... tú...


Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".               

setembro 10, 2018

Porque deixar bilhetinhos mal educados é um ato passivo-agressivo sim, Senhora!


Experimentos científicos como este aqui devem ser realizados num laboratório onde amostras podem ser monitoradas para se certificar que elas não serão contaminadas. Esta amostra definitivamente pode agora estar contaminada, estando aberta ao relento, então toda o seu árduo experimento científico pode estar perdido.
Por favor retire seu experimento desse lugar onde as pessoas se encontram e não apreciam a ciência como você.
 
Se a música está muito alta, você é muito velho.

Roubar plantas é um ato baixo e mesquinho.
O que vem depois disso? Bater em gatinhos?
Você é um idiota!

Uma poesia amigável
Novo vizinho, seja bem vindo
Pelos sons do meu teto
você é um dinossauro?

Como vai?
Esse lugar (número 56) pertence a um residente.
Não madei te rebocar hoje, mas na próxima vez,
engenhoca... NA PRÓXIMA VEZ!!!

Por favor mantenha a porta fechada!!!
Obrigada!!!


Por favor não use a fonte Comic Sans -
nós somos uma empresa da revista Fortune 500,
não uma barraquinha de limonada.

Por favor não me aperte com muita força, seja gentil.
Sinceramente, os abacates.


Outros textos que você vai gostar pode estar por aqui.

Convivendo com um passivo-agressivo, o livro, introdução

setembro 07, 2018

Ideias

Por Elisabeth Santos
Tenho muitas ideias de como salvar animais, apenas nem sempre tenho meios de executá-las. Para salvá-los de algum sufoco em que se envolveram inesperadamente, até que é fácil para mim que gosto desse ofício de salva-vidas.

Muitas vezes os próprios procuradores de encrenca não colaboram na operação salva bichinhos e aí... não tenho meios para tira-los do enguiço. Ao vir morar na casa onde moro, encontrava pássaros atordoados, caídos próximos ao muro pintado de azul céu. Pegava o binóculo para observar: eles vinham voando, voando, e distraídos pelo alimento que vislumbravam ao longe... TUM! Batiam a cabeça no suposto céu azul a murar meu pedacinho de chão!

E lá ia eu acudir mais uma vítima de uma miragem, ilusão de ótica ou qualquer outro nome que se possa dar ao fenômeno. Muito que bem, ‘garrei a pensar, chegando à conclusão que seria melhor mudar a cor do muro. Raciocinei por eliminação, imaginando-me um pássaro:

_ Verde? Não, pois ia assemelhar-se a vegetação. Amarelo? Também não, pois com a claridade do sol poderia ofuscar-lhes a vista. Vermelho vivo eu é que não haveria de querer no muro da minha residência! Então me decidi pelo marrom tijolo e ainda simulei com tinta branca, limitações parecidas com pedras e tijolões.

_ Quem haveria de arriscar-se? Ninguém, não é mesmo?

Deu certo o estratagema até que começaram a aparecer bichinhos afogados na piscina. Só poderiam estar com sede! Comprei uma fonte de concreto armado, própria para jardim, e mandei instalar. A água não seria desperdiçada naquele constante fluir, pois através de uma engenhoca, vinha a cair novamente.

Deu certo! Pelo menos por uns tempos...

Dalí a alguns dias os passarinhos começaram a vir visitar-me na minha própria casa! Tudo bem? Não! Eles entravam facilmente e não achavam por onde sair. E eu matutando:

_ O que vieram fazer aqui dentro, com tanta opção no meu (ou nosso) território?

Algo me dizia que tentavam encurtar o caminho do multicolorido jardim para o verde pomar, e se perdiam no labirinto de corredores e demais cômodos da casa. E agora?

A vassoura tinha cabo curto, mas dei um jeito de estendê-lo, e fui atrás para direcionar a saída ao intruso.

Algumas vezes a “operação salva aves” foi acertada e outras vezes não. Tive de fazer o enterro com honras e glórias para um batalhador valente.

Por que estou acrescentando isto? Porque, embora colocando quirela aos pássaros da natureza, eu observava que eles disputavam entre si com bicadas, uns querendo o quinhão do outro.

Ainda não entendi, pois havia água, alimento e espaço para todos. Acho que ainda terei muito a desvendar...




Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".