novembro 24, 2017

Imaginação e realidade

Por Elisabeth Santos



Nem sempre a mentira é intencional. Idosos, por exemplo, vão contar um episódio passado, e citam fatos ocorridos em outro contexto. É um probleminha da memória desgastada pelo tempo.

Passado disso, não sendo decorrente de alguma doença, ao contar detalhadamente um causo, a imaginação sim, poderá estar agindo... a todo vapor. A vapor como os trens de ferro, quem sabe fora dos trilhos, se isto fosse possível.

Juca Pinduca começava suas histórias assim:

_ Na escuridão das ruas do povoado, à meia noite passava o lobisomem da corrente. Os moradores fechavam as janelas, sondavam pela fresta e nada viam. Escutavam, e se arrepiavam, com o barulho do metal se arrastando nas pedras do calçamento. Lá adiante, numa esquina, a “coisa” soltava um uivo, e sumia sem deixar rastro!

_ Quando na pensão que eu morava apagavam-se as luzes do corredor, ouvia-se um subir dos degraus da escada, muito estranho: ti, ti, tum; ti, ti, tum; ti, ti, tum... Era uma ratazana velha com uma deformidade na ponta do rabo. Decerto que ela queria alcançar o forro da casa, e se transformar em morcego como seus ancestrais. Morcegos não passam de ratos, que a partir de certo tempo criam asas.

_ Lembro-me certa feita, que indo buscar peixe pro almoço, o açude estava tão cheio, que preferi abrir o guarda sol e encher ele de tilápia.

_ Estou recordando do episódio da sucuri nadando no rio. Primeiro ela deixava o veneno dos seus dentes pontiagudos numa folha da margem pra vir depois buscar. Nunca errava a folha da árvore!

_ Uma vez, numa caçada à onça nas terras do patrão, ela abriu a bocarra e acertei o tiro na sua goela. Quando ela caiu, percebi haver acertado duas! Bem que desconfiei do baque depois de atirar. Quem mandou andar em dupla, né?

_ Não tem erro não, gente: se a coruja piar alguém ali vai morrer!

_ Se ela não piar... é porque morreu!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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