novembro 10, 2017

Coração

Por Elisabeth Santos

De vez em quando, um bom exercício para a memória é tentar repetir versinhos que se decorava na primeira escola:

“Armas, num galho de árvore, o alçapão; E, em breve, uma avezinha descuidada, Batendo as asas cai na escuridão.” (da literatura infantil brasileira, O pássaro cativo)

_ O que mais tu te lembras, garoto?

“...Eu me lembro! eu me lembro! Era pequeno E brincava na praia; o mar bramia E, erguendo o dorso altivo, sacudia A branca escuma para o céu sereno...” (Casimiro de Abreu)


_ Está valendo, vamos em frente!

“Oh! que saudades eu tenho Da aurora na minha vida, Da minha infância querida, Que os anos não trazem mais!” (Casimiro do Abreu - A saudade da pátria e da infância)

_ Esse exercício está muito nostálgico. Passemos para a segunda etapa.



_ Não entendo o porquê de tanta nostalgia numa pessoinha tão jovem...

E a resposta veio rápida como uma flecha a surpreender o interlocutor:

_ “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Blaise Pascal)

_ Sim eu sei bem. A tarefa de hoje é pesquisar onde a memória falhou ao reinventar esses versos, e justificar citando as razões, que seu coração teria para tal.


***

“Coração, és como o sino
Na Egreja do Sentimento:
Ora bates de tristeza,
ora de contentamento.

Se queres saber do meu peito
Seu coração ouve um dia,
Pelo tocar do sino
Se sabe da freguezia.

Sino, coração da aldeia.
Coração, sino da gente.
Um a sentir, quando bate,
Outro a bater quando sente."

Auto do fim do dia de Antonio Corrêa D'Oliveira




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


Um comentário:

  1. Poesia é tudo de bom na escola, e na vida. Ouvindo cantigas populares (Lavadeiras de Almenara p.ex.) percebo que é muito mais vivência poética da vida que o estudo da métrica ou da rima a gerar sons melodiosos, agradáveis, sentimentais.

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