julho 20, 2013

Xodó

Xande no armário da vovó.

Xande tinha um gato chamado Xodó.

Não era um gato comum, nem era um gato que brincasse de “vivo/morto”.

Xande, xodó da vovó.

Xodó, gato do Xande.

Simples assim.

Xodó era pretinho que nem piche.

E gostava de peixe, imaginem!

Na chácara da vovó, vez por outra aparecia um gato sem dono.

Andava no muro... Descia e...

Sondava a porta da cozinha atrás de um alimento qualquer.

Via o Xodó, gato do Xande, e corria.

Sumia no mato.

Quando aparecia novamente, estava ligeiramente diferente.

Ou seria um outro?

Um irmão do gato do muro... Ou um primo?

A dúvida surgiu quando o pessoal da chácara percebeu um cheiro estranho no jardim, e era um cadáver de gato.

Morrera envenenado o pobrezinho.

Assuntando aqui e ali, com outros chacareiros, cada qual contou um episódio semelhante:

_ O gato saia do mato; andava nos muros; sondava as portas das cozinhas, e... Sumia vivo para aparecer morto.

Fizeram uma reunião de condôminos a fim de discutir o crime ambiental.

Alguns moradores contaram casos de sumiço de alimentos de suas cozinhas.

Ninguém assumiu ter posto veneno num sanduíche para exterminar gatos enxeridos.

A avó de Xande interrompeu o chá da hora de dormir, colocou nos ombros um chalé xadrez, fechou a porta com chave, e chegando atrasada na reunião do condomínio falou:

_ O gato está vivo!

_ Como se o vimos morto?

E ela:

_ Estou falando do “gato de Xande”, entendam. Ele também teria morrido comendo sanduíche de peixe, mas está vivinho. Acho que o gato do jardim não morreu envenenado não. Pelo menos não propositalmente.

_ Dona Xuxa, por favor, vê se não complica mais a questão: O Xodó de Xande não está por aí caçando comida, pois é muito bem tratado. O gato do mato não haveria de entrar na sua cozinha para “gatar”, não é mesmo? Lá teria de enfrentar o gato da casa. Então vamos concluir assim: este caso não tem nada a ver com o gato de Schrödinger. As propriedades do condomínio não poderão ser letais para animais de nenhuma espécie. Se virmos pelas redondezas gatos andando sobre muros e telhados, serão considerados vivos. Se estiverem imóveis estirados no chão, serão considerados mortos. A afirmativa é que “gato não ressuscita NEM MORTO”.

_Mas como? – tentou retrucar vovó Xuxa ajeitando os óculos- se eu acabei de ver um gato igualzinho ao descrito como morto e enterrado no jardim e até fotografei aqui no meu celular. Vejam!

As pessoas presentes na reunião levantaram-se para ver a imagem do gato, e constataram:

_ Parece, mas não é. À noite todos os gatos são pardos!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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