Foi com o rabo do olho que percebi um
movimento na água da piscina. Quando olhei de longe achei que era um sapo ou
uma rã. Chegando mais perto, percebi que aquele animal querendo sair sem
conseguir era um gambá. Tive de dar a volta na piscina para pegar uma tábua de
salvação. Ele acompanhou meus passos nadando muito bem. Tentava agarrar-se na
borda lisa, e... nada. Por isso nadava!
Já que eu ia sair dali para buscar a
vassoura, aproveitei para trazer também a máquina fotográfica. E o bichinho
estava lá. No mesmo ponto que o deixei.
Meu know how de salvamentos de “invasores”
eventualmente caídos n’água estava aumentando:
Já salvei um morceguinho. - Como é que ele
foi parar ali?
Lagarto por duas ou três vezes.
Um filhote de bem te vi.
Algumas rãs e sapos...
Tarântulas. E sei lá mais o que...
Chegou a vez do gambá porque já não existia
o cachorro de vigia no quintal. Era isto!
O cachorro sempre latiu bravo para os que
ousassem adentrar seu quadrado.
Fora da piscina, espantava cobras e lagartos.
Eu, por minha vez, já salvei muitas aves
que ficaram presas no alambrado que cerca a horta, ou dentro de casa: de gavião
a beija flor. Salvei da morte certa um pica pau que bateu no vidro da janela e
uma rolinha caída do ninho na boca do cachorro.
Até aqui tudo bem. A cobra na entrada da
minha casa eu... matei! Mil perdões pedi à mãe natureza, mas matei. Sempre me
disseram que cobra não corre no chão limpo. A varanda cimentadinha e ela lá.
Cabeça erguida, língua de fora. Joguei-lhe uma pedra sem acertar. A danada
deslizou para dentro do canteirinho de onze horas, peguei um facão na cozinha e
fui à caça.
Quando as vizinhas souberam, comentaram:
_Você não deveria ir procurá- la pois não
presta procurar cobra.
_Não presta porque quem procura acha. –
dizia Donana.
_Não presta porque onde tem uma, tem duas.
– explicava Ducarmo.
_Não presta porque os antigos já diziam
isto. - concluiu Samaria.
Insatisfeita com tais explanações quis
saber do professor de ciências, ouvindo o seguinte:
_Sentindo-se ameaçadas, algumas espécies se
escondem e preparam o bote.
Um frio percorreu-me a espinha. Acho que
pela primeira e última vez: cacei, achei, matei e tirei o couro de uma
serpente.
O capinador vem limpar o quintal todo mês,
os restos de comida ficam bem tampados para não atrair roedores, entulho só
fica parado de um dia para o outro e estou criando umas galinhas d’angola.
_E se aparecer outra cobra dessa no
portãozinho do seu alpendre? - perguntou a criança muito curiosa.
_Com uma vassourona na mão direi a ela que
esta é a minha casa e ela deve ir para a casa dela. Fique na sua! - Gritarei
com firmeza.
_Então é ado, ado, ado, cada um no seu
quadrado?
_É! Ou asa, asa, asa, cada qual na sua
casa, pois há espaço para todos no mundo.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que “escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia.”
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