Era
uma vez um boi que não tinha a cara preta. Admirava-se no espelho d’água sem
perceber que a lagoa, com o passar do tempo, virou brejo. Assim foi o boi para
o brejo. Lá se encontrou com a vaca atolada. Ela tinha pastado antes num
mandiocal. Tanto faz a vaca, o boi, ou os dois juntos irem pro brejo. Se fosse
um rebanho, só conseguiria atolar-se no Pantanal. Rebanho é coletivo: tem
muitas patas de vaca e muitos pés de boi.
Salvaram-se
graças à sabedoria popular: na travessia do rio pantaneiro, o boi de piranha é
colocado à frente da boiada. Enquanto as carnívoras se deliciam com o banquete,
atravessa o boiadeiro seu rebanho a salvo. Se o condutor fosse mineiro, daria o
boi para não ter disputa com o peixe, e daria a boiada para não sair de disputa
alguma.
A
boiada era responsável pela destruição das matas, para ter onde pastar. A procura
da carne estava em alta, era preferência internacional, exigia grandes espaços
na terra e no ar.
Concluiu-se depois de florestas e florestas
mortas que a camada de ozônio também estava indo embora, por causa dos gases
emitidos pelo gado. Só essa que faltava! O que não tinha solução, solucionado
não estava. Agora era tratar de reflorestar e dizer pro boi da cara preta pegar
o menino que tivesse medo de careta. A careta era a da fome.
Lá ia
a vaca pro brejo de novo.
Se,
aonde a vaca vai, o boi vai atrás, seria melhor cuidar para que não fossem
extintos do planeta.
O que
será que existe muito além daquele brejo? A garantia da sobrevivência das
espécies todas?
Nem
que seja copiando a velha idéia do Noé, era um caso a se pensar urgentemente.
Não é
só boi sonso que arromba curral. Acuado, qualquer boi ou animal de outra
espécie, tende a atacar. Já pensou um hambúrguer querendo atacar a humanidade?
Não sendo isto literalmente possível, através do mau colesterol sim. É tratar
de diminuir a ingestão de carne para sermos vegetarianos que nosso aparelho
digestivo pede e agradece.
Voltando
à salvação das espécies, sem planeta, de nada adiantaria. Na arca de Noé
estariam todos juntos: os carneiros, os lobos, e os repolhos representando todo
o reino vegetal. De timoneiros, um casal da espécie animal racional. Rumando
todos para um universo em expansão.
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“Boi, boi, boi,
boi da cara preta
pega esse menino,
que tem medo de careta”.
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Dormiu?
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".