janeiro 24, 2014

O ovelha negra

Levava uma vida sossegada.

Ou pêlu menus nus trinque: di cada coisa nu seus lugá, e cada lugá na suas coisa.

Gostava de sombra e água fresca.

_ E dus meu burrico à sombra tamém.

Meu Deus! Quanto tempo eu passei sem saber... Uh! Uh!

_ Qui síria capaiz di mudá u rúmu dus treim, mas num pudia dexá di sê eu.

Foi quando meu pai me disse :

_ Vem cá aprendê matá pôrcu, fazê linguiça, churiçu, i banha. Lavá tripa n’água corrênti du riáchu. 

Vem vê cumué fáci cumê bem, icunumizá, inda ganhá dinhêro vendênu u qui sobra. E eu:

_Num quéru sabê di matá pôrcu não meu pai.

... Filho, você é o ovelha negra da família!

_ Xiii... apelô! – imbóra u sústu preguntei purquê. - Afiná das conta inda num sei u mutívu di falá tam már dum bichim tam mansinho... Só pruquê é diferênti, siô?

Agora é hora de você assumir. Uh! Uh! E sumir! ...

_ Ingurinha mêmu eu tava pirdídu nus meu pensamêntu. Agora é meus pensamêntu qui sumíru túdu inguar num ridimúnhu. To quaz distrambeiádu siô! Pirdi u rúmu i num sei mais si é prêu assumi as tarefa di matá piru, frângu, pôrcu i ovêia di quaqué cor, ou chegô a veiz dêu sumi nu roçádu...

Não vale a pena esperar.

_ Ah váli sim! Cumé qui num váli? Vô pidi uma ispricação bêim pidída. Aí sim póssu sumi...

Tire isso da cabeça.

_ Tíru não pruquê num fui eu qui puis.

E ponha o resto no lugar. Ah! Ah! Ah!

_ As inxada, arádu, machádu ... ‘ta bão. Faca di matá capádu... sei não. – e levantou o chapéu de palha com dois dedos, coçando a cabeça com outro dedo... da mesma mão.

Não adianta chamar, quando alguém está perdido, procurando se encontrar.

_ Pirdídu eu meu pai? Trabaiându di sór a sór? Tô não! Sei múintu bem u qui quéru i u qui num quéru. Importa mi lá si trabáio múintu cá na lavoura. Eu num quéru é matá criação di jêitu ninhum. 

Sô vegetariano! Nada di sê “o ovêia preta”! Sô sim “o ovêia verdi da famía”.

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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Um comentário:

  1. Particularmente reconheço: escrever em bom "caipirês" é difícil. Acentuar torna-se necessário para o leitor identificar mais facilmente o teor do diálogo. Lendo em voz alta, para mim mesma, consigo entender melhor. Agora... por que a escolha da Rita ... é fácil explicar: - Sou fã de carteirinha das suas composições!

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