janeiro 11, 2014

Conflitos familiares e alimentação, um caso real.

No estado da Pensilvânia, uma criança de 6 anos, chamada Amy foi proibida de ver sua mãe. Os pais estão brigando na justiça pela guarda da criança, basicamente por questões alimentares. Cindy, a mãe da menina evita que ela coma glúten e outros alergênicos comuns aqui nos Estados Unidos. 

A  dieta não foi exatamente o resultado do divórcio do casal alguns anos atrás, mas aumentou consideravelmente as divergências entre eles. Steve tinha problemas anteriores com bebida e logo nos primeiros anos de casamento resistiu à prisão quando foi pego perturbando a ordem pública. Nessa época também estava desempregado. Ele havia sido motorista e fazia entregas num caminhão quando perdeu a esposa e a custódia de Amy, mas ele podia ficar com a filha uma semana por mês.

O divórcio afastou Cindy e Steve, mas os conflitos persistiam entre eles. Basicamente porque a mãe queria que Amy fosse uma criança saudável e havia retirado da alimentação tudo que percebia fazer mal para a criança. Entre eles: glúten, soja, leite de vaca, castanhas e açúcar refinado. As escolhas foram baseadas em observações do comportamento da garota e outros sintomas gastrointestinais que a mãe percebia. Também pelo teste positivo (leve) de alergia ao glúten, ao leite de vaca e a soja. Ela pensava, "como seria a reação de Amy se ela comesse aqueles alimentos todos os dias?"

Entretanto, Steve seguia o senso comum ao não acreditar que a filha deveria evitar comidas que ele considerava saudáveis e necessárias para o crescimento de uma criança. Agora empregado e com renda fixa, ele se recusava a cooperar com as restrições alimentares da filha mesmo tendo sido obrigada pelo juiz. No dia do julgamento ele disse que seguia a dieta, mas não conseguiu responder o que era glúten, nem mesmo quais alimentos tinham a proteína.

Nesse ponto da história o pai recorreu da sentença, ganhou e a partir daí arrumava uma desculpa atrás da outra para a mãe não encontrar com Amy. Nesta idade a criança ainda não tem escolha, ou sequer depoimento a ser considerado na corte. Steve ganhou acusando a ex-esposa de problemas comportamentais e mentais. Além de exageros a respeito da interpretação do resultado do teste que para ele eram apenas leves.

Era de se esperar que fosse um caso complicado, a criança só comia os alimentos "proibidos" uma semana no mês, quando estava com o pai. O advogado de Steve, o juiz e muitas testemunhas não acreditam nessas alergias ou que elas tenham reflexos no comportamento de uma pessoa. Acham que alergia se manifesta somente no físico com vermelhidão ou coceiras. Então, a ideia de uma indução psicológica por parte da mãe parecia mais lógica para eles.

Disputas a parte, podemos analisar a dieta tentando interpretar cada uma das restrições começando pelo açúcar. Desde muitos anos sabe-se que o consumo do açúcar refinado deve ser limitado e causa de obesidade, diabetes, cáries, dentre outras doenças (1). O açúcar também está relacionado aos alimentos com pouco ou nenhum nutriente, como os refrigerantes. Sabemos bem disso, mas tomamos mesmo assim e isso é outra discussão.

Cindy também quer que a filha evite a soja, pois o teste apresentou uma leve alergia. Vários estudos (2) relacionam o grão aos problemas celulares, sem contar o fato de ser um alimento transgênico. Além da soja, ela também quer restringir o leite de vaca e as castanhas que são os dois alimentos com mais de alergia ou intolerância comprovada (3) nos Estados Unidos. 

Vamos agora analisar o glúten. Estudos são consistentes no impacto positivo de se retirar a proteína da dieta das crianças com doença celíaca ou alergia ao glúten. Contudo, pesquisas mais recentes também (4) comprovam os benefícios da dieta sem glúten em autistas e crianças com TDHA ou deficit de atenção.

Pode ser que a mãe tenha mesmo um comportamento paranoico controlador a respeito da dieta. Pode ser que o pai não veja os problemas da alimentação livre porque ficava com a filha apenas uma semana depois de 3 semanas de "desintoxicação" na casa da mãe. Bem provável que os advogados, médicos e psiquiatras sejam ignorantes para nutrição, os poderosos efeitos dela numa pessoa. Entretanto, o evidente aqui é ser uma história que se repete todos os dias, em maior ou menor grau, na casa de alguém com restrições alimentares.


*Adaptado do texto publicado na revista científica Journal of Gluten Sensitivity, de autoria do médico, professor e celíaco Dr. Ron Hoggan, autor do livro Dangerous Grains.
Referências do texto:


(2) Continuous in vitro exposure to low dose genistein induces genomic instability in breast epithelial cells. Cordain L, The Paleo Answer. Wiley & Sons. Hoboken, NJ, 2012 p. 72- 147.

(3)  Cordain L, The Paleo Answer. Wiley & Sons. Hoboken, NJ, 2012 p. 72- 147.

(4) Wheat-free diet gives food for thought (precisa fazer login). Carroccio A, Mansueto P, Iacono G, Soresi M, D'Alcamo A, Cavatario F, Brusca I, Florena AM, Ambrosiano G, Seidita A, Pirrone G, Rini GB. Non-Celiac Wheat Sensitivity Diagnosed by Double-Blind Placebo Controlled Challenge: Exploring a New Clinical Entity. Am J Gastroenterol, 2012, Jul 24.




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Isabela: designer, especialista em tecidos automotivos, estudou psicologia clínica, trabalha inclusive com análise de tendências de design e comportamento humano. Está morando fora do país, por isso gosta de compartilhar as coisas interessantes que encontra pelo caminho.
ATENÇÃO

Todo o material escrito na seção ALERGIA tem somente a intenção de informar com referências. Você não deve de jeito algum deixar de conversar e comunicar seu médico sobre suas decisões de trocar ou parar de tomar qualquer remédio, suplemente ou começar a fazer qualquer tratamento. Por favor use o bom senso, faça sua própria pesquisa. Consulte seus especialistas quando resolver fazer alguma substituição que afete sua vida.

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