janeiro 03, 2014

Teiú e Corcel

Encontre o Teiú. Dica: à esquerda, na sombra do carro.

O menino gritou a mãe para vir ver. Era um lagarto medindo uns sessenta centímetros, um terço de corpo, dois terços de rabo semelhante a uma cobra. Passeava pelo jardim, sossegadamente, de vez em quando punha a língua de fora.

Mãe e filho abriram a internet a investigar. Concluíram ser um Teiú...

Muitos meses daquele ano o bicho foi visto por ali. Ora perto da água, ora perto da pedra... sempre procurando algo para beber, se alimentar... de preferência ao calor do sol.

Sumia por uns tempos, reaparecia maior, ou menor. Como não poderia ter encolhido, os adultos daquela chácara tentaram explicar ao menino que o Teiú constituiu família e aquele um que apareceu agorinha era o filhote daquele outro, desaparecido ano passado.

Ficava mais fácil contar de que maneira apareciam teiús do que explicar como desapareciam.

Um dia, em suas voltas pelo jardim, Teiuzinho encontrou a porta aberta e entrou na sala da TV na hora da telenovela e arrasou! Chamando mais atenção que a atriz principal do horário nobre na telinha, completou sua visita de reconhecimento e saiu quieto como havia adentrado. Muito senhor de si e senhor daquele ambiente, com certeza! As pessoas ali quietinhas. As crianças, por via das dúvidas, puxaram os pés pra cima do sofá.

Certa vez, Teiú jovem foi visto entrando em sua toca de PVC existente no terreiro com a finalidade de escorrer água da chuva. Depois mudou de casa. Foi morar na abertura da parede que arejava o porão. Não era muito difícil descobri-lo em cada novo endereço. Sua cauda comprida o denunciava.  

De outra feita, já bem crescidinho e pesado, rodeou os canteiros, e... sumiu pra rua pelo portãozinho semi aberto.

Foi uma pena! O menino e sua mãe temeram pela vida do amigo lagarto. No mundo de informação que obtiveram no Google tinham ficado sabendo que a carne de Teiú era muito apreciada naquelas redondezas.

O menino já virou um rapazinho. O carro da mamãe virou celebridade. E o Teiú? Foi flagrado debaixo do Corcel estacionado ao lado da residência familiar. Para que ele não fugisse, e tivesse o triste fim dos ancestrais, o amigo fez barulho na lataria do carro e fotografou a calma do bicho procurando um novo esconderijo.


Acho que você vai gostar de ler outros Contos da Beth, aqui.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leave your comments here.