dezembro 06, 2013

Se pano de prato falasse


Os panos de pratos são muitos dentro de uma cozinha doméstica tradicional.

Um especificamente para secar o vasilhame das refeições, outro só para fogão e pia; mais alguns: para cobrir pratos lavados que estão no escorredor; para enrolar rocambole; acabar de tirar a água do trigo de quibe que ficou de molho; espremer o leite do coco fresco ralado; e aquele muito especial, confeccionado em linho, utilizado para enxugar taças de cristal sem deixá-las embaçadas ou, o que viria a ser pior, com fiapos!

Se existe uma coisa que aborrece profundamente a dona de casa, se rainha da cozinha e do lar, é misturar as funções do bendito! Por este motivo inventou-se estampas para distingui-los e salvá-los da promiscuidade. Os melhores, nesse caso, para evitar “misturança” são os estampados e os lisos; os felpudos e os de algodão cru; bordados ou pintados; com barra ou de biquinho de crochê, renda ou laser, cá estão eles, fazendo parte do meu, do seu, do nosso dia a dia.

Inovações sempre presentes no vasto tema levam a crer que, panos de pratos com mensagens atravessaram os séculos vinte e vinte e um. Sejam sérias ou divertidas; em caracteres gráficos, ou só desenhadas mesmo; sugestivas ou “indagativas”; seguem humildes ou gloriosas pelo vasto mundo culinário!

Ouvindo certa marchinha de carnaval, saíram às ruas os talheres batendo nos pratos, donos de casa, em uníssono: -“Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato!”. A este protesto seguiram outros, que não foram levados a sério: -“Minha cueca ‘tava guardada, foi um presente que eu ganhei da namorada!”

Naquele bloco carnavalesco não só o proprietário da peça de vestuário se mostrava revoltado com o roubo da cueca, mas a segunda ala formada de donas de casa indignadas com a suposta utilização nada ortodoxa daquela peça na cozinha! Não bastassem esses, na terceira ala, poderia vir a namorada protestando por ter comprado cueca cara, de griffe, na “boutique das cuecas” para vê-la assim tão “vulgarizada”... E só então, surgiam os estandartes da quarta ala, a mais viva, que lucrou com a ideia “roubada”. Dizem que era uma certa designer têxtil. Esta sim lucrou algum. 

Desmanchando a peça íntima masculina bem nas costuras, tirou molde sobre um pano de prato e lançou a nova estampa num estandarte, no sambódromo virtual.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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