fevereiro 03, 2014

Medicina, alimentação e a discussão de gêneros.

Oh, então isso explica...
Vou avisando o público masculino do blog que este post contém assuntos femininos. O que não quer dizer que homens não possam ou devam ler. Ao contrário, recomendo que leiam (pode ser que ganhem uns pontos por isso). Ainda acho que comentem com namorada, esposa, irmã, mãe, amigas e colegas para gerar uns bons insights sobre o assunto.

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A medicina especificamente pensada para a população feminina ainda é algo difícil de encontrar no mundo, mas a necessidade de avanços neste campo cresce a cada dia. Não estão falando aqui sobre órgãos e problemas especificamente femininos, pois isso já temos. Na verdade, consideram aqui a falta de dados sobre o funcionamento dos órgãos comuns sob a perspectiva da vida, do corpo e dos hormônios da mulher.

Quando médicos pesquisam uma doença, em geral eles consideram o corpo humano. Isso quando não pensam no corpo masculino e expandem os resultados para os outros. Mulheres, adolescentes e, às vezes as crianças entram no "pacote" da aplicação teórica do assunto. Mas aos poucos foram verificando algumas prevalências e relevâncias que não faziam parte do universo masculino.

Sabe-se hoje que a mulher sofre consequências distintas de uma mesma doença. Por exemplo, sentimos um ataque cardíaco de maneira diferente (veja mais aqui). Outra realidade é a do ácido acetilsalicílico que poder evitar AVCs em mulheres, mas não em homens. Essa mesma droga predispõem hemorragias internas em homens, mas não em mulheres (veja mais disso, em inglês aqui). Efeito que pode não ser nem bom, nem ruim, dependendo do que você precisa, mas é diferente e merece outro tipo de interpretação.

Nas entrevistas que ouvi nesta semana de Conferências sobre o Futuro da Nutrição duas pesquisadoras me chamaram a atenção por se dedicarem ao estudo de problemas comuns aos dois sexos, mas com foco nos efeitos no corpo da mulher. Dra. Helayne Waldman Dra. Robynne Chutkan. Elas falaram de consequências sui generis que uma mulher tem com o consumo de um alimento, no uso de um produto químico ou um remédio.

Dra. Helayne falou sobre os químicos minúsculos que entram no nosso corpo todas as vezes que usamos produtos de beleza no rosto ou no cabelo. São microscópicas, às vezes nano partículas que não nos damos conta das consequências ao longo da vida. É tão pouquinho ou só de vez em quando, não é mesmo? Depende. Depende de fatores como predisposição genética, se é usado todos os dias, se é um produto muito barato, geralmente de baixa qualidade contaminado, se foi feito com corantes (veja mais disso aqui) e também a potência do ingrediente usado na composição. Conhecemos as principais portas de entrada do corpo (boca, nariz, ouvidos, etc) e esquecemos que os poros também o são. Eles são pequenos, mas são muitos e tem acesso imediato à corrente sanguínea. Afetam todo o nosso corpo e, por consequência os nossos comportamentos.

Então ela falou da deficiência de zinco que contribui para o câncer de mama. Este é um elemento que aumenta os níveis de progesterona e é fundamental para a reconstrução das células mamárias, assim como o iodo. Depois comentou sobre a injusta competição entre o iodo e os químicos que são colocados na água, como cloro e flúor (na pasta de dente também). O iodo sempre perde a briga na hora de ser absorvido pelo corpo, assim como perde para o bromato e os pesticidas (outro texto de pesticidas e saúde da mulher aqui). Nem adianta comer mais sal iodado porque a quantidade dos outros químicos é grande e ganha a competição.

Dra. Robynne é outra incrível pesquisadora que tem estudos específicos feitos em mulheres. Ela enfatizou o fato do intestino feminino ter 10 cm mais que o do homem fazendo com que uma endoscopia demore mais tempo. Além disso, o fato do sistema digestivo feminino ser mais complexo por simplesmente haver mais órgãos competindo por espaço numa barriga que além de tudo precisa ser reta ou nem existir.

Ela explicou que um componente do ibuprofeno pode, a longo prazo, causar danos no sistema digestivo gerando alargamento e inchaço nos intestinos. O mesmo acontece com a reposição hormonal e com os adoçantes artificiais. Esclarecendo os vários casos de problemas intestinais em mulheres que preferem alimentos sem calorias, mas cheios de adoçantes artificiais que irritam as vísceras.

Um outro assunto, conhecido também no Brasil é a soja. Deve ser evitada pela maioria das pessoas por ser, em geral transgênica e cheia de pesticidas. Os homens e as mães de menino (tem um texto bonito sobre isso aquideveriam evitar porque a soja contém um hormônio feminino vegetal que vai desbalancear os hormônios masculinos. Também não devendo ser consumida diariamente pelas mulheres que já tem excesso de estrogênio no corpo, ou seja, endometriose, TPM ou que estão em reposição hormonal.

Em geral todas falaram de um equilíbrio entre alimentação e a microflora intestinal, as emoções e os hormônios. Mais difícil conseguir essa maestria com o passar das primaveras ou conforme vamos educando os filhos, cuidando da casa, fazendo faculdade, tomando umas vodcas, viajando a trabalho, cuidandos dos pais idosos ou exercendo a profissão, que ainda por cima nos paga menos (um belo vídeo sobre isso aqui).



Um texto em inglês com detalhes do assunto, aqui.

Pode gostar de ler mais sobre a discussão de gênero no texto A discussão de gênero, sexo e balé na Suécia.

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Isabela: designer, especialista em tecidos automotivos, estudou psicologia clínica, trabalha inclusive com análise de tendências de design e comportamento humano. Está morando fora do país, por isso gosta de compartilhar as coisas interessantes que encontra pelo caminho.

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