fevereiro 07, 2014

O cãozinho misterioso

A casa já estava toda fechada às vinte horas, quando o telefone tocou:

_ Boa noite comadre Daniela. Posso dar uma chegada aí para conversarmos?

_Claro, já estou abrindo a porta Ledinha. Seja sempre bem vinda!

E as duas sentadas uma em frente à outra trocavam ideias sobre vários assuntos. Contavam as proezas de seus cãezinhos de estimação, quando olhando para a porta escancarada, perceberam...

_ Veja só, foi só falarmos em cães, para aparecer um aqui na sala.

A amiga olhou bem o bicho que se aproximava e exclamou:

_ Acho que não é cachorrinho...

_ Não é mesmo. Deve ser um... GAAAM BÁÁÁÁ!!! Soooo...

_ Nada de escândalo comadre Ledinha. É mesmo um gambá, já está aqui e agora é tratarmos de chispar ele pra fora.

E as duas:

_Chispi! Chiispiii, chispiiiiii!

E o gambá, ao invés de voltar por onde veio, mudando de rumo passou por debaixo da escada que levava para os quartos entrando na copa. Mais que depressa Daniela, a dona da casa, correu a fechá-lo naquele cômodo. Assentou-se para continuar a conversa com a amiga que, espantada, já com o celular na mão, ia chamar seu marido para tirar o animalzinho de dentro da casa.

_ Não vamos chamar ninguém não. É hora de dormir. Amanhã, com a luz do dia, abro a casa e o gambá vai-se embora. Fim!

_Que é isso Dani? Você vai dormir com o gambá?

_ Vou não. Meu quarto é lá em cima...

_ Mas comadre, pensa bem... Trata-se de um animal silvestre dentro da sua casa.

_ Silvestre, mas inofensivo desde que não se sinta ameaçado, portanto o deixarei na copa. Não tem alimento nenhum ali. Os armários estão fechados... não sinto ameaça alguma.

E a outra insistente sugeriu:

_ Vamos então pelo outro lado, abrimos a porta da cozinha que comunica com a copa e... o bicho vai embora.

E lá foram as comadres. No fundo do corredor escuro, dois olhos brilhantes... Assustadas voltaram correndo para dentro de casa.

_ Será um gato?

_ Pode ser... dos comuns ou gato do mato. Sei não amiga. Aliás, por aqui nunca se sabe... 

Ledinha, muito das teimosas, ligou pro marido:

_ Benzinho, tem um gambá aqui na casa da comadre.

_ E o que vocês querem que eu faça?

_ O quê? Quero você aqui para mandar o bicho de volta para a casa dele!

_ Huuuum... Verei o que posso fazer. Ligarei daqui a pouco, ’ta bem?

Dali a pouco chegam dois: compadre Antônio e seu irmão Benedito que foi logo perguntando...

_ Cadê o gambá?

_ ‘Ta fechado na copa.

_ Então me traz um pedaço de pau e um balde. Vou tentar pegar o gambá no balde e levá-lo para fora de casa.

Ledinha trouxe os objetos e foi o Benedito cercar o animalzinho daqui e dali até conseguir direcioná-lo para a saída da cozinha.

Antônio? Escada acima!

Mas o gambá não saiu sem lançar seu perfume que foi se espalhando pelos cômodos da casa.

Daniela, meio chorosa:

_ Aí Ledinha! O que faço agora com esse cheirão dentro de casa?

_ Simples! Vamos dormir lá no meu apartamento.

E seguiu a comitiva pela rua rindo da vingança do intruso.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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