agosto 17, 2013

Confiteor


Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.
Sigmund Freud

Conflitos nada mais são que ajustes da alma aos fenômenos externos. Confessar conflitos da alma, lavá-la num tanque de espuma, alvejá-la, por para corar e secá-la ao sol, é tudo de bom.

Quem não sabe fazer isto, é tratar de aprender enquanto há tempo com as lições da vida. Chegar à média dos cinqüenta anos com a moringa vazia não dá!

Assim lavando a alma, livra-a das culpas que não tem. Pode ser que algum dia tendo-as, o refazer o trajeto, acrescido de arrependimento, clareiem sua aparência exterior.

O dia da faxina é um dia especial sem ser. Um dia que nasce com a luz do sol mesmo que sua figura não apareça. Poderá ser o dia em que só seu brilho seja percebido e seu calor sentido. O que nas proximidades estiver pode não ter também silhueta delineada, feição definida ou sombra. Nada importa. Só a percepção lúcida de que a hora é agora, que um minuto de adiamento seria provar a eternidade.

Será a música ou simplesmente o som; o olor ou simples odor, suficientes para determinar a importante data de se confessar o conflito, livrar-se para sempre da culpa indeterminada, ou infundada, e dos medos.

Chegando o dia de o medo virar pavor e imobilizar as pernas no caminhar em direção à luz do fundo do túnel, será esta a data de voltar à faxina. Separar o que não presta pra nada do que pode ser reutilizado; o que serviu alguma vez e não serve mais; o que está avariado sem chance de recuperação, do que ainda poderá ser resgatado por ter sido muito bom anteriormente. Tentar não se iludir ou ser levado pelas inverdades ouvidas de outrem. Seguir em frente de cabeça erguida.

Determinar, quando teve início a mudança do que trouxe do berço, para o lado contrário não foi difícil, só doloroso. E quanto...

Enxergar com os olhos da alma o que havia de errado naquele raciocínio perverso de esperar os acontecimentos para ver se a embarcação virava, também não foi difícil determinar. Impossível era compreender onde estava a lógica de aguardar, aguardar sem uma palha mexer, um fim inexorável para o início de nova etapa ao retorno da esperança e da felicidade. Se o tempo determinado para a jornada terrena, não está à mercê da criatura, por que fazer planos para “quando isto ou aquilo acontecer”? O que se busca pode estar ali, ou não. As circunstâncias poderão não ser as mesmas de agora. As pessoas ao redor também não. Portanto nada de esperar solução sem agir pela felicidade possível aqui e agora. Decurso de prazo é o nome dado ao que está vencido sem ter sido buscado. Livre arbítrio, liberdade são direitos natos das pessoas. Deixando de procurar o culpado, buscando antes o objetivo final, se ganha o momento presente. Era o que precisava fazer e fez sem medo.

Enfrentou idéias opostas, conversas envelhecidas, argumentos gastos, cara feia, nariz torcido e seguiu sua legítima vontade pela primeira vez sem nenhuma outra interferência.

Sentia-se muito bem como há muito tempo não sentia.

De novo retomava as rédeas do destino convicto de que nada devia a ninguém. O que lhe deram, era seu de direito. Quem quisesse cobrar-lhe algo poderia ouvir um curto e grosso:_ Fez porque quis! Ou não seria cada qual o responsável pelas escolhas feitas neste mundo? Com ou sem conflito. Confesso!    


 “Como as pessoas nos tratam é o KARMA delas; o modo como você reage é o seu KARMA.”
Trulshik Rinpoche


Depois de receber emails com dúvidas sobre o título, Cofiteor, segue uma dica.
Cofiteor = eu confesso.
Veja mais sobre o assunto aqui.


Vai gostar de ler todos os Contos da Beth.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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