junho 16, 2013

Protestos de São Paulo


Vou escrever sobre os protestos, mas não sobre o motivo, causas e consequências. Esclarecendo a posição multidimensional de onde eu falo, por muitos anos usei o transporte público da cidade onde morava. Há muito tempo não sou usuária, mas já peguei ônibus lotado me segurando para não cair pela porta e chegar na aula às 7 da manhã. Por um tempo também andei à pé para economizar a passagem. Também experimentei metrô com ar condicionado e estofado novinho. Tive carro usado (não era semi-novo) e também carro zero quilômetro. Exatamente agora não estou morando no Brasil, apesar de poder voltar a qualquer momento, para qualquer cidade que eu goste. Posso ainda, ficar mais um tempo aqui onde estou.

Eu não sou contra nem a favor à questão "aumento de 20 centavos nos bilhetes de ônibus de São Paulo". Nem saberia falar se a causa não é justa pelos motivos acima citados. Não tenho o que dizer sobre os tais "filhos mimados da classe média que pagam o busão com a mesada". Mas não concordo com a violência praticada pela polícia, nem com os tiros e repressão ideológica. Não gosto da cena onde vi policiais avançando sobre pessoas. Tenho muito medo disso. Mas não pretendo me intrometer na questão política "a corrida presidencial começou um ano antes, por isso um partido político instiga a massa contra o outro e o possível candidato às próximas eleições".

MAS eu quero falar sobre um ponto esquizofrênico do povo brasileiro que apareceu nessas disputas de facebook, blogs, jornais e afins.

Para estabelecer uma base de entendimento preciso fazer aqui um parâmetro comparativo. Olhando as fotos de protestos ao redor do mundo vejo que 98% das pessoas carregam cartazes que dizem respeito ao tema principal do protesto. E eu entendo que alguns temas são mais específicos e outros mais amplos.

Estados Unidos, pelo fim da guerra no Afeganistão.

Costa Rica, protesto contra produtos transgênicos.


Estudantes na Itália, sobre os cortes na educação.

No Egito, contra a ditadura e opressão social.

E no Brasil sobre...
Transporte público... só que não! (figura de linguagem passiva agressiva)

Na verdade, essas milhares de pessoas estão a vários dias nas ruas porque elas reivindicam uma coisa diferente de preço de tarifa de transporte? Quer dizer agora precisamos explicar para o mundo (literalmente) que as palavras "tarifa" e "0,20" constam no dicionário da língua portuguesa como: "insatisfação com a violência, inflação, carga tributária ou juros"? Ou "o povo não aguenta mais a falta de investimento em questões sociais básicas e a crescente impunidade"?

Eu estaria num protesto com qualquer um desses temas centrais, pois ainda estou insatisfeita com tudo isso. Então me pergunto por que será que usamos tanto esse "dizer sem falar", essa passividade agressiva? Depois ninguém entende porque não somos levados a sério. Vou explicar, porque divulgamos ao mundo praia,  mulheres, carnaval, mulheres nuas, malandragem, mulheres de biquini, favelas e prostituição, mas queremos que as pessoas entendam outra coisa? E qual seria essa outra coisa? Pois sinto informar que as pessoas entendem bem o que falamos e entendem mal o que fica subentendido, mas isso é outro post.
Então esse é o melhor que tenho dizer: até o momento falta assertividade*.

*Quer ser mais assertivo? Leia e pratique isso.

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Esse artigo não tem a intenção de divulgar a ideologia política de nenhum partido, grupo, aglomeração ou protesto. A ideia é compartilhar um pensamento que me ocorreu.

Isabela: designer, estudou psicologia clínica, especialista em tecidos automotivos, trabalha inclusive com análise de tendências de design e comportamento humano. Está morando fora do país, por isso tem coisas interessantes para compartilhar.

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