novembro 22, 2013

O meu e o nosso pão

Uma padaria em Orange County, Califórnia.

O italiano chegou ao interior do Brasil com sua família e foi apresentar-se de casa em casa. Num "italianês" bem gesticulado vendia seu pão, ou seja, apresentava-se como padeiro e tantava fazer uma freguesia fiel. Contava seu sonho de vir morar numa terra boa que nem a nossa, criar seus filhos, e tornar-se elemento integrado e útil à sociedade local.

As crianças daquela casa visitada por ele atendendo a porta, ficaram curiosas a sondar do corredor, a conversa na sala de visitas. Era domigo, não iam à escola mesmo, o jeito era erranjar distrações. Pouco entenderam do que ali era falado, e na ânsia de matar a curiosidade, empurraram a porta cerrada, e rindo muito, caíram amontoadas uma nas outras bem no centro das atenções. Os pais iam esbravejar, mas o italiano não deixou. Isto foi entendido rapidinho e fugiram dali correndo, numa algazarra peculiar.

Mais tarde, todos em volta do café das 14:30 horas, a questão foi aberta, junto com o "pão da casa": _Até que seria interessante experimentarem comprar pronto o pão de cada dia ao invés de o sovarem e assarem na minúscula cozinha de fogão e forno a lenha todas as manhãs. Sendo que os que fossem pegar o trem das 5h sempre saiam só com o café com leite por não dar tempo de acender um fogo forte capaz de esquentar o forninho a tempo... parecia tentadora a oferta do Sr. Giovanni.

Garantiu e cumpriu: toda manhã, antes das 5h, lá estava o pão na janela da frente da casa, entre vidraça e madeira de modo estratégico a ser alcançado pelos moradores somente.

O alimento em questão trazia características do país de origem: no formato de broa redonda; casca morena e firme; muito substancioso por dentro, e saboroso do começ ao fim. Para os adultos era visto e assim apreciado. Para as crianças, sem sempre. Havia os desdentados, de pouca idade; os banguelinhas dos dentes de leite;  os preguiçosos de mastigar e os adolescentes acostumados com o aspecto convidativo da manteiga derretendo sobre a fatia do pão quentinho. A solução, para os menores, era umedecer pão no café com leite. E aos outros restava resmungar até acostumarem com a novidade.

O tempo foi passando, adultos envelhecendo, adolescentes amadurecendo, crianças se tornando adultas...

Reuniam-se no Natal, saboreando pão italiano molhado no azeite, acompanhado de queijo e vinho, que se tornaram tradição naquela casa e por que não dizer na cidade inteira!

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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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