novembro 11, 2013

China, produção e criatividade


Muitos anos atrás eu estava conversando com um colega muito bem impressionado com a produção industrial da China, quando ouvi o seguinte comentário. "Não demora eles estão criando também!"

Estávamos falando de inovações e eu respondi "Não! SE acontecer, vai demorar muuuito." Falei sem piscar, mas baseando-me na vivência em ambientes com pessoas criativas (familiares, colegas e amigos). Adicionado os anos que trabalho como designer têxtil, o tempo no belas artes,  a faculdade de design de produto e finalmente o curso de psicologia.

"Como assim? Fazendo tantos produtos, várias vezes, é claro que vão acabar criando coisas também!" - retrucou ele.

Seria bom se fosse assim, mas... não. Não é assim que a coisa funciona.

A repetição de uma tarefa na verdade só garante que você fez muitas vezes aquela coisa e deve ser capaz de refazê-la. Ou seja, não é porque alguém faz um objeto inúmeras vezes que vai conseguir mudá-lo, criando um novo produto à partir daquele. Menos ainda criar uma nova tecnologia. Sorry Sr., essa premissa não existe.

Sabemos que uma novidade ou inovação é algo difícil de ser alcançada nos tempos atuais. "Nada se cria tudo se copia." É um deboche, mas também uma constatação de que não é fácil fazer algo que é totalmente novo, ou que não existia antes. Inúmeros livros tentam estreitar o caminho para a originalidade. Todos eles ajudam, mas um ambiente propício parece ter mais êxito.

Um ambiente criativo é um lugar mais amplo que qualquer galpão de reprodução e montagem de produtos. E não falo de espaço físico. Estou falando de um local virtual que vai além da copia e engloba pesquisa, desenvolvimento e aplicação.

O processo criativo, por sua vez, precisa ser contínuo, sustentável e nascer da interação exata entre o ambiente e do processo. Existem ainda outros princípios básicos para que a inovação aconteça. É necessário, antes de qualquer outra coisa na vida, poder questionar... sem sofrer represálias por isso. Então é bem ai que as dissonâncias começam. Questionamentos não são bem vindos em governos autoritários e nem podem ser, pois quebram a ordem do poder dominante. São posturas opostas que se repelem, sempre.

Coragem para correr riscos é também muito importante para a metodologia da inovação e igualmente incompatível com governos autocráticos. Nas empresas é necessário ter abertura às ideias de funcionários desconsiderando a hierarquia e essa é outra dificuldade cultural do oriente. 

Sem fazer juízo de valor e considerando fatos culturais, um dos traços do povo chinês é a passividade. Eles se sentem bem só de fazer o que lhes foi pedido. Outro característica é o medo de errar. Comportamentos que os distanciam de ter uma capacidade inovadora inata.

Paciência, persistência e confiança são outros atributos essenciais para o processo de inovação. A cultura oriental tem esses traços, mas a maioria das outras condições (as mais importantes eu diria) está em desacordo com a linha vital chinesa.

Eles podem mudar essa característica e destacar frente ao mundo? Sim. Nesse exato momento estão se esforçando para tal. Mas ainda que, à partir de hoje, fosse solicitado a cada chinês que ele criasse algo, esse movimento demoraria a se concretizar. Simplesmente pela falta de familiaridade com o processo imaginativo do cérebro.

Um começo dessa mudança de paradigma poderia ser a quantidade de patentes que a China registra hoje, mas elas são patentes de empresas estrangeiras com fábricas no país. Ou seja, para conseguir um modelo parecido com o que existe no Vale do Silício a China ainda precisa se reinventar. 



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Isabela: designer, estudou psicologia clínica, especialista em tecidos automotivos, trabalha inclusive com análise de tendências de design e comportamento humano. Está morando fora do país, por isso gosta de compartilhar as coisas interessantes que encontra por ai.

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