Busquei nos dicionários disponíveis e não
encontrei o significado de remelecostreco.
Sem empáfia, e por minha própria conta resolvi explicar essa e outras. A pessoa
é cheia de nove horas? Tem o nariz empinado? É acostumada com rasgação de seda e tapete
vermelho estendido à sua chegada? Poder-se-ia dizer então:
- É cheia de remelecostreco!
Pode ser afetada ou pedante no jeito de
andar e falar. Poderá ainda ser daquelas que come angu e arrota caviar. Não
interessa. Basta-nos termos convivido com alguma algum dia para sabermos como é
difícil estar próximos de nossos semelhantes que ostentam tais características.
Alguns se sentem superiores, perfeitos, incapazes de uma falha. Tem o rei na
barriga, são donos da verdade ou se acham muito superiores. No linguajar de
hoje “Se acham”! São vistos em toda a
parte, passam à frente do resto da população, querem honras, glórias e
reconhecimento pelo que fazem certo, ou deixam de fazer errado.
Esturriquei meus neurônios entrevistando alguns
destes seres tão especiais a descobrir o porquê de agirem assim. Até hoje não
cheguei à conclusão satisfatória. Se são pobres e orgulhosos como se declaram
alguns... deveriam ser orgulhosos de sua pobreza primeiramente. Se algum dia
foram reis sem perder a majestade quando coroa já haviam perdido, o que ganham
com a ostentação do poder que já não possuem? É mais fácil, para nós outros
(com defeitos diferentes), imaginar quanto gastam nessa ostentação útil/inútil.
Ostentação útil seria aquela a render
alguma benesse.
Ostentação inútil seria a que, além de nada
render de bom, ainda dá prejuízo.
Exemplo do primeiro caso é do amo falido a se
endividar, para manter a aparência de bem sucedido e que até consegue realizar
bons negócios com a nata da sociedade local onde se infiltrou.
Vejamos para o segundo caso: a madame recebe convidados para o chá das
cinco com pompa e circunstância. Escolhe o melhor figurino
em seu desgastado guarda roupa, procura combinar bolsa, calçado e cinto, escova
as madeixas que deixarão à mostra seus brincos de zircônia. À mesa: toalha de
linho belga bordada à mão, louça inglesa decalcada com florais, taças de
cristal com lavanda para os dedos dos convivas de fino trato... que vem falar
sobre novos cálculos e medições da propriedade para reajuste de imposto, ou
nova oferta de indenização do órgão federal pertinente para a desapropriação daquele
imóvel. A própria indumentária e conduta da senhoria levou os doutores da lei a
colocarem valores altos para as taxas e baixos para os ressarcimentos partindo
do pressuposto que a proprietária não carecesse tanto assim de dinheiro.
Tudo explicável, nem sempre justificável.
Para exemplificar melhor um ser
escalafobético, tem de se tentar entender a expressão: “cheio de remelecostreco”.
Acho que você vai gostar de ler outros Contos da Beth, aqui.
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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