maio 23, 2014

Porque você é uma pessoa cheia de remelecostreco!

Cheio de remelecostreco!

Busquei nos dicionários disponíveis e não encontrei o significado de remelecostreco. Sem empáfia, e por minha própria conta resolvi explicar essa e outras. A pessoa é cheia de nove horas? Tem o nariz empinado? É acostumada com rasgação de seda e tapete vermelho estendido à sua chegada? Poder-se-ia dizer então:

- É cheia de remelecostreco!

Pode ser afetada ou pedante no jeito de andar e falar. Poderá ainda ser daquelas que come angu e arrota caviar. Não interessa. Basta-nos termos convivido com alguma algum dia para sabermos como é difícil estar próximos de nossos semelhantes que ostentam tais características. Alguns se sentem superiores, perfeitos, incapazes de uma falha. Tem o rei na barriga, são donos da verdade ou se acham muito superiores. No linguajar de hoje “Se acham”! São vistos em toda a parte, passam à frente do resto da população, querem honras, glórias e reconhecimento pelo que fazem certo, ou deixam de fazer errado.

Esturriquei meus neurônios entrevistando alguns destes seres tão especiais a descobrir o porquê de agirem assim. Até hoje não cheguei à conclusão satisfatória. Se são pobres e orgulhosos como se declaram alguns... deveriam ser orgulhosos de sua pobreza primeiramente. Se algum dia foram reis sem perder a majestade quando coroa já haviam perdido, o que ganham com a ostentação do poder que já não possuem? É mais fácil, para nós outros (com defeitos diferentes), imaginar quanto gastam nessa ostentação útil/inútil.

Ostentação útil seria aquela a render alguma benesse.

Ostentação inútil seria a que, além de nada render de bom, ainda dá prejuízo.

Exemplo do primeiro caso é do amo falido a se endividar, para manter a aparência de bem sucedido e que até consegue realizar bons negócios com a nata da sociedade local onde se infiltrou.  

Vejamos para o segundo caso: a madame recebe convidados para o chá das cinco com pompa e circunstância. Escolhe o melhor figurino em seu desgastado guarda roupa, procura combinar bolsa, calçado e cinto, escova as madeixas que deixarão à mostra seus brincos de zircônia. À mesa: toalha de linho belga bordada à mão, louça inglesa decalcada com florais, taças de cristal com lavanda para os dedos dos convivas de fino trato... que vem falar sobre novos cálculos e medições da propriedade para reajuste de imposto, ou nova oferta de indenização do órgão federal pertinente para a desapropriação daquele imóvel. A própria indumentária e conduta da senhoria levou os doutores da lei a colocarem valores altos para as taxas e baixos para os ressarcimentos partindo do pressuposto que a proprietária não carecesse tanto assim de dinheiro.

Tudo explicável, nem sempre justificável.

Para exemplificar melhor um ser escalafobético, tem de se tentar entender a expressão: “cheio de remelecostreco”. 



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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