setembro 14, 2013

Barba Azul


Existe uma pesquisa séria sobre o assunto: o que a cultura de cada lugar repassa para a criança em matéria de medos e segredos embutidos nas canções de ninar, cantigas de rodas, brincadeiras, contos de fadas etc. e tal.

Sem querer aprofundar o assunto citarei um exemplo de cada, que fizeram parte da minha infância povoada de bruxos, benzedeiras e feiticeiras, vindos do campo para a cidade junto com a babá negra  e analfabeta, mas muito, muito querida mesmo!

“NANA NENEM QUE A CUCA VEM PEGÁ, PAPAI TA NA ROÇA MAMÃE INVEM JÁ, JÁ.”

Era pro neném dormir. Se ele pudesse entender a letra ia ficar preocupadíssimo: __ Isto é abandono de incapaz. Só pode! Além do mais tem alguém aqui me ameaçando. A Cuca (do Sítio do Pica Pau Amarelo) é assustadora e eu não quero ser pego por ela. E se eu não conseguir dormir?

................................................................................................................................................................

“_ SENHORA DONA SANJA COBERTA DE OURO EM PÓ, DESCUBRA O VOSSO ROSTO QUE NÓS QUEREMOS VER!”

Cantávamos de mãos dadas em volta da tal personagem que se encontrava no meio da roda. Ela assim respondia:

“_QUE ANJOS SÃO ESTES QUE ANDAM POR AQUI, DE DIA E DE NOITE EM VOLTA DE MIM?”

E as crianças da ciranda... melodiosamente:

“_ SOMOS FILHOS DO CONDE E NETOS DO REI. MANDARAM-NOS ESCONDER DEBAIXO DE UMA PEDRA.”

Então a D.Sanja corria a ver se pegava para si um dos inocentes que havia corrido para debaixo da “pedra” sem ter tido tempo de se esconder.

Ora veja, será que temos aí um complô para destituir a família real?

Por que então filhos de nobres, estavam fadados a viver escondidos a mando do palácio?

E D. Sanja, descobrindo seu rosto, a correr para pegar um que fosse daqueles anjos? Seria a salvação ou a perdição? Afinal ela não tinha feições definidas antes de tirar sua capa de ouro...

................................................................................................................................................................

“_BALANÇA CAIXETA!

_BALANÇA VOCÊ!

_DÊ UM TAPA NA BUNDA E VÁ SE ESCONDER!”

Essa era uma brincadeira de pique esconde. Para participar, as crianças ficavam meio abaixadas, com as mãos na parede. Tinham de se sujeitar a levar uma palmada para então correrem a se esconder de quem contava de um a trinta antes de procurá-las.


Sem comentários!  Continua na próxima semana, aguarde.


--
Elisabeth Carvalho Santos (63) desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leave your comments here.