Macarron X Macarrão |
Disseram-me que o parisiense reconhece turista de longe.
Tive certeza que reconhece o latino americano, e o brasileiro facilmente, quando por lá estive. Nem tentarei explicar, pois não se trata do sotaque puramente, já que eu estava quieta no trem. Ao meu lado uma senhora, com vestido estampado, cabelão solto ao vento. Ali sempre havia artistas cantando, tocando algum instrumento musical, fazendo alguma apresentação artística. Dessa vez era uma mulher, e cantava “Besame Mucho”. Ia muito bem, e de vez em quando, voltava o olhar para nós, a quem “passaria o chapéu” brevemente. Anunciada a próxima parada, antes de descer, a passageira ao meu lado colocou uma moeda na mão da cantora. E aí a artista, que havia cantado em espanhol, começou em português do Brasil, com sotaque francês... “Sábado na balada... A galera começou a dançar, e passou a menina mais linda tomei coragem e comecei a falar... ai se eu te peeegoooo.”
Todos me olhavam, ou era só impressão?
Descontraí ao lembrar que parisiense não reconhece meu idioma. Escolhi a moeda de dois euros para agradecer a homenagem antes de descer na minha estação.
« _ Ô revuá a tut le mond! »
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Eu tive alguns receios ao visitar Paris:
_ Será que lá teria um café gostoso? E tinha!
_ Haveria um supermercado próximo de onde me hospedaria? E havia mais de um.
_ Algum colega pediria que eu ensinasse a fazer feijoada, ou a sambar?
Felizmente nada disso aconteceu.
Perguntaram-me sim, se eu gostava de macarrons. Respondi afirmativamente. E serviram-me umas bolachas redondas, coloridas e cobertas por um açúcar bem refinado. Eu queria comer algum alimento de sal antes do doce e pensei que ali o costume era a ordem inversa.
Depois dessa trapalhada fui descobrir que teria de pedir espaguete, ou massa, porque macarrom lá, não é o nosso macarrão.
Da mesma forma, pedir peixe é querer peixe inteiro. Se você desejar uma porção individual, há de especificar: para “pedaço de carne” use “tranche”; se for pizza, é “part”; querendo queijo use “morceau” e assim por diante.
Uma vez aprendido, aprendido está. Não se erra mais.
Afinal haja espaço para “baguete”, cordeiro, queijo e torta inteiros para uma pessoa só!
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Viajar é preciso, estar atento é imprescindível!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".