Em qualquer parte do mundo a cegonha passa deixando um
bebê para um casal. É lenda das mais antigas, que livrava os pais do neném da explicação
às outras crianças:
_ De onde vêm os bebês.
_ De onde vêm os bebês.
Acreditavam os adultos de boa fé, que a inocência
infantil teria de ser preservada a qualquer custo, até que atingisse a idade da
razão.
Nos dias atuais poderá acontecer dos filhos mais
velhos estarem explicando aos pais como as crianças vão se formando no ventre
materno pós-concepção. Os livros de Ciências Naturais vistos e revistos na
escola trazem todas as informações. As consultas à Internet complementam.
Aqui, neste exato momento estou abordando somente a
incansável cegonha que vem de muito longe entregando os filhos aos seus pais.
A dúvida maior quanto à Dona Cegonha vem do fato
concreto:
_ No meu país nascem crianças todos os dias do ano, sem que alguém tenha visto uma ave denominada Cegonha, ou outra com seu decantado bico longo sobrevoando as cidades, e os campos trazendo bebês.
_ No meu país nascem crianças todos os dias do ano, sem que alguém tenha visto uma ave denominada Cegonha, ou outra com seu decantado bico longo sobrevoando as cidades, e os campos trazendo bebês.
Há bastante tempo ocorreu a um infante alertar sua
mamãe:
_ E se você for
ao mercado e demorar, e a cegonha chegar aqui em casa para entregar o neném?
E o maiorzinho que ali perto se encontrava assim
corrige:
_ Não seja bobo, nenéns vêm dentro dos repolhos que estão plantados na roça.
_ Não seja bobo, nenéns vêm dentro dos repolhos que estão plantados na roça.
E o priminho, que era desta turminha resolve dar sua
versão:
_ Nada disso que vocês estão a falar. Eu, por exemplo,
nasci num dia de chuva. Minha mãe estava à porta da casa e pegou-me na
enxurrada.
_ Como assim?
_ Foi ela mesma que me contou. Teve um sonho certa
noite, que no próximo dia primeiro de abril, ia cair uma chuva forte. A
enxurrada formada na sarjeta haveria de trazer um bebezinho lindo como eu. Era
para ela pegar, e bem depressa levar-me para dentro de casa, vestir-me com a
camisolinha bordada pela vovó, e ir deitar-se. Eu, ficando pertinho do seu
corpo, estaria aquecido e com uma cor parecida com a dela.
Historinha fácil de entender.
Já em família numerosa o indício de que chegou um
irmãozinho, ou irmãzinha poderia ser ainda mais fácil adivinhar: a porta pela
qual as crianças passavam ao acordarem de manhã estaria fechada. A saída
emergencial seria utilizada para que todos pudessem tomar café e seguir para a
escola.
Quando ouviam o choro de um neném, logo em seguida
aquela porta, que esteve trancada era aberta. Vinda do quarto do papai e da
mamãe, uma simpática senhora com uma maleta bem segura em sua mão esquerda.
Sim, ela quem trouxe a irmãzinha daquela criançada, dentro da maleta, ora
bolas!
Depois, aquelas crianças saíam correndo pelas
calçadas, batendo de porta em porta dos vizinhos a anunciar:
_ A mamãe ganhou neném!
Se alguém exclamasse perguntando: _ Que benção! E como
está passando sua mamãe?
E se fosse eu a responder, com meus cinco aninhos,
diria bem assim:
_ Mamãe está feliz, “sorrisando”! Dona Vitória está “tite”. Agola num tem mais neném na maletinha dela.
_ Mamãe está feliz, “sorrisando”! Dona Vitória está “tite”. Agola num tem mais neném na maletinha dela.
_Ora bolas!
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".