janeiro 03, 2020

Caixinha de Surpresas


Por Elisabeth Santos

Eis o que é um bebê recém-nascido para mim!

A ele o mundo à sua volta surpreende a cada momento. Eu fico aguardando uma reação constante a cada estímulo, mas também não é assim que acontece.

À medida que os meses passam, novidades vão aparecendo: se a criancinha chorava para entrar no banho, hoje chora para não sair; se sonorizava de vogal em vogal passa a ser monossilábico, arriscando uns sons de palavras reconhecíveis (ai= sem dor; agu=angu).

Corresponde a sorrisos, ou vai fechando os olhos e adormece; olha atentamente movimentos de pessoas, brinquedos e móbiles pendurados fora do seu alcance. Demonstra interesse por algum tempo.

Ao descobrir que tem duas mãos, tenta coloca-las na boca, e nesta tentativa acaba por arranhar o rostinho. Foram suas unhas a crescerem rapidamente exigindo monitoramento constante da habilidosa aparadora. E neste exato momento de abrir as mãozinhas... o neném as fecha fortemente. O que fazer? Distraí-lo para não chorar, pois quando não quer alguma coisa é difícil convence-lo do contrário. E a chupeta, neste caso já não é a solução. Ele empurra com a língua, e manda longe. Tenho vontade de rir. Será que posso?

Fico me perguntando: _ Como pode uma criatura tão pequenina, acabada de vir ao nosso mundo saber tanto de suas vontades?

O pior, para mim, é vê-la chorando alto quando cuidadosamente vou coloca-la no berço.

_ Puxa vida! Penso contrariada após ter facilitado seu sono cantando todo meu repertório de canções de ninar.

Tento embalar seu sono ali mesmo, sem dar colo em pé, balançado e cantado. Às vezes consigo, outras vezes não.

Não tendo como adivinhar como será hoje, trato de avisar quem está por perto e fizer barulho:

_ Haverá revezamento. Ouviram bem?

E a “Caixinha de Surpresas” irá sempre surpreender-me com um xixi ou cocô fora de hora porque para ela o tempo é todo dela. E eu sigo agradecendo a Deus, que dessa vez não foi a temperatura do bebê que subiu, a brotoeja que apareceu, ou um sonho mau que a fez acordar pedindo colo de madrugada.

_ Seria “Síndrome do Colo”? Minha avó responderia então:

_ Só esta hipótese que me faltou imaginar...





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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