Dizem por aí que aquele que dorme ao lado de uma criança arrisca-se a acordar mijado. Se não for assim, provavelmente acordará no chão, ou quase. Crianças pequenas, não tendo noção exata do espaço a ocupar... Vão rolando o corpo pela extensão da cama. Vão estendendo e encolhendo pernas e braços. Vão empurrando quem estiver ao seu lado.
Se um adulto move em demasia as pernas enquanto dorme, a ponto de prejudicar seu descanso noturno, uma das hipóteses é que esteja sofrendo da síndrome das pernas inquietas. Mexe-se involuntária, e irresistivelmente!
Se for hora de acordar, tudo bem. É só levantar-se e começar as tarefas que sejam de andar ou exijam movimento das pernas. Se ainda for madrugada... tomara que esteja numa cama espaçosa.
Mas o caso do Alarico era peculiar. Depois dos quarenta anos de idade, tanto ele quanto a esposa apresentaram a Síndrome das Pernas Inquietas, e a cama de casal foi substituída por uma King. O engraçado da história foi o período do Alarico descobrir o que seria aquela vontade irresistível de mover as pernas. Acordava à noite, demorava a pegar no sono novamente, observava sua esposa quietinha ao seu lado. Queria que ela tivesse também perdido o sono, mas não. Carla dormia serena.
Dali a pouco, eram os dois lutando com as pernas sem nunca terem sido jogadores de Capoeira, ou quaisquer outras atividades similares. O pior: um sempre achava que era o outro que começava a provocação. Aquilo estava começando a atrapalhar a harmonia conjugal. Além da falta de noites de descanso, os dias passaram a ser de pura irritação sem motivo.
No consultório médico é que ficaram sabendo como lidar com a novidade dupla, embora os amigos quisessem dar palpites.
Pela sabedoria popular, o gosto pela caminhada é assim explicado: deve ter se alimentado de canela de cachorro quando criança.
Para os padrinhos de casamento de Alarico e Carla, amigos íntimos e de longa data (vinte anos pelo menos), tudo se resolveria mais facilmente, com a troca da cama de casal por uma cama de solteiro!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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