Por Elisabeth Santos
Depois de ouvir contarem curiosidades de personagens, esculturas e túmulos de alguns cemitérios do mundo, resolvi relatar um causo da minha cidade.
O pequeno cemitério estava localizado no alto de um morro, pois em ocorrência de enchente no rio, não seria atingido trazendo danos e tristeza às famílias dos mortos.
Cercado por muro não muito alto, o portão ladeado de palmeiras, oferecia uma nostálgica vista do casario e igreja, ao pôr do sol.
Para a molecada, o interesse voltava-se para os coquinhos das palmeiras. Atirando pedras, acertavam alguns, e tinham de pular o muro para busca-los.
Para enamorados, o interesse maior era pelo local de pouco movimento, principalmente ao anoitecer.
Eis que numa noite sem lua, dois moleques repartiam assim seus coquinhos:
_ Um pra mim, um pra você; um pra mim, um pra você...
Isto do lado de dentro do cemitério, com portão fechado.
E o casalzinho aos beijos do lado de fora, encostado ao muro, ouvindo aquilo sem saber de quem seria a voz a sussurrar:
_ Um pra mim, um pra você...
De início, não se preocuparam em sair dali, mas ao ouvirem a frase:
_ Corre a pegar aqueles dois que vão sumir na cova aberta!
Lívidos, dispararam a correr ladeira abaixo.
E os moleques, a dividirem os frutos redondinhos, que ora escapavam rolando, ouvindo tropel e gritos assustados pularam o muro, correram pra casa, esquecendo o que tinham ido buscar no cemitério.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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