Nunca vi verduras tão desenvolvidas naturalmente, como
aquelas que estavam ali diante dos meus olhos!
Nada de adubos químicos, nada de agrotóxicos! Difícil
de acreditar...
E as galinhas caipiras naquele espação protegido por
alvenaria e telhas, felizes a botar ovos nos balaios de taquaras.
A cadela mansa demais para vigiar um sítio, vai
providenciar filhotes meio a meio com um namorado bem bravo, que lhe arrumaram
para o cio atual. A torcida dos proprietários do sítio é que o cruzamento tenha
êxito. Estão precisando urgentemente de um espantador de predadores.
-Da última passagem do gato, sumiram os alcapones, periquitos raros que também
estavam sendo criados para reprodução.
-Da penúltima visita predadora, sumiram os oito
periquitos australianos. A dona deles ficou a procurar os rastros. Encontrou-os
mortinhos, empilhados dentro do ninho no oco da cabaça. Imaginando o medo que
as avezinhas deviam ter sentido na perseguição, seus olhos encheram de
lágrimas.
Continuou a busca, e nenhuma outra pista surgiu...
Chamou a vizinha para ajudar na caçada ao criminoso, e esta, depois de muita
investigação, descobriu um par de olhos de ratazana a piscar para ela, na
cumeeira do viveiro.
A partir daí Dona Suélen retirou a trepadeira florida
de vermelho e branco, a encobrir parte da tela dupla achando então, a passagem
utilizada pela ratazana! Ato seguinte providenciou a armadilha, que pegou a
danada!
E eu, querendo saber de onde vieram tantas e tão
lindas flores ao redor da casa, fui informada que a proprietária da
floricultura presenteava minha comadre sitiante, com as raízes daquelas
plantas:
As flores iam para os arranjos, buquês e coroas. As
raízes, ainda nos vasos, eram doadas. E, que beleza! Assim tão bem cuidadas
reflorindo, e dando boas-vindas aos amigos!
Também... os cabritos do sô Antônio ainda não haviam
descoberto o jardim colorido da Dona
Vizinha. O que vinham fazer ali não era uma simples visita. Ultrapassando a
cerca de arame farpado, que separava os dois sítios, os sete pintavam o sete. Mesmo que não fossem
pegos em flagrante era possível ver os gravetos que deixavam, sobras da
comilança em terreiro alheio. O que mais indignava a Comadre Suélem era a
bagunça bem debaixo da placa “Benvindos
ao meu ranchinho”. Gostava da entrada sempre limpa. Considerava perfeita a
placa entalhada a canivete pelas mãos de um artista popular, como cartão de
apresentação de sua humilde, mas acolhedora residência. Porém, quando o rebanho
caprino passava dos limites, ela ficava chateada com razão. Quem iria querer
chegar num lugar sem capricho na limpeza?
Dando a hora do café, convite feito pela prendada dona
de casa, dirigimo-nos ao espaço gourmet.
Lá bebemos café, comemos biscoito de farinha com a manteiga, de leite in natura, batido e lavado na batedeira
elétrica!
Conversamos sobre vários assuntos, trocamos receitas
tradicionais mil vezes experimentadas, e também sobre as novas tecnologias a
facilitar o preparo dos pratos, sem perda de nutrientes e sabor da roça.
De quebra, levei para minha casa folhas gigantes de
couve verde escura, originária da África dos velhos tempos.
Para quem inventou que sítio proporciona duas
alegrias: quando se compra, e quando se vende, acrescento mais uma alegria:
quando se visita amigos que vivem por lá!
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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