agosto 21, 2015

Encolheu


Existe um lagarto teiú vivendo aqui no bairro. Dorme no cano de PVC que conduz água da enxurrada do jardim para o meu quintal.

Faz uma visita diária à Dona Quiquinha que o recebe bem e até conversam. Pelo menos ela fala e ele fica escutando atento.

Às vezes o teiú olha pra fora do portão da garagem sem se arriscar numa voltinha além. Ouve roncos de carros e motos, rapidamente volta para sua casa sua vida salva.

Então ele é visto no quarteirão, porque passa pelos muros e cercas dos quintais. Na rua não pisa. Seus pais devem ter-lhe ensinado. 

No inverno o teiú some. Dizem que hiberna. Não sei como alguns bichos aguentam dormir tanto sem ingerir nada.

Quando reaparece surpreende a gente, e se assusta com a presença humana. Logo se acostuma com a rotina de antes, mas se não se acostuma é porque é outro. Sim o teiú acasala e surge seu filhote um belo dia na mesma boca de cano PVC em que mora sua família.

Não que a gente vigie seus hábitos, mas ao meio dia ele aponta a cara na porta da sua casa, e fica em estado de alerta para sentir segurança e prosseguir. Gosta de tomar sol, alimentar-se e fazer suas necessidades fisiológicas ao ar livre. Ama a liberdade e transita por esses espaços como se fosse o proprietário!

De vez em quando some de novo, reaparecendo sempre. Quando demora muito e nem é inverno, seu sumiço preocupa os moradores da redondeza. Um por todos, todos por um, o fato é comentado até que alguém traz a revelação:

_ Ele voltou!

_ Que bom que você viu. Cheguei a pensar que ele teria ido para a panela de algum roceiro.

_ Só o rabo dele é que desapareceu. Veja a foto no meu celular.

_ ‘tadinho!

_ Fica tranquila, pois essa espécie solta parte do rabo quando está acuado, mas depois cresce outro.

_ Ah... então ele deve ter se escondido de vergonha. Ficou bem estranho assim encolhido.





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".  

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