Obra de arte da Beth |
Quando menino prestava atenção na aula, fazia a tarefa de casa, e nem precisava estudar a mais. Saia correndo para brincar de bola e a mãe, ou sua irmã precisava ir buscá-lo no campinho, pois até da hora de jantar esquecia-se ali entretido com os amigos.
Era atento à natureza: aos sinais das mudanças de tempo nos desenhos das nuvens; aos animais ditos irracionais, às plantas, pedras, insetos... tudo que via ao redor.
A particularidade é que gostava bastante de escrever. Sua mãe pedia-lhe que fosse escrevendo o que ela ia ditando ao examinar geladeira, armários da cozinha, da área de serviço para fazer a lista de compras. Inda que tivesse letra esgarranchada, com boa vontade, qualquer alfabetizado leria o que o garoto escrevia.
Quando adolescente, o rapazinho parou de escrever cartas ao Papai Noel e vestiu-se de Papai Noel pela primeira vez, substituindo seu tio que desempenhava bem esse papel, mas por hora estava com dengue (não dengoso!)
Gostou da experiência!
Cismou que poderia melhorar o mundo!
Daí para frente não parou mais: na máquina de escrever ou no computador, descrevia situações calamitosas que via ao seu redor, endereçava a quem ele achava que poderia ajudar na solução do problema, e pondo a cuca para funcionar, ajeitava a situação. Ainda bem que o moço apreciava leitura, pois teve de ler muito!
Como cada problema era de uma origem diferente, perguntava, ia ver de perto, pesquisava na biblioteca e aí sim escrevia.
Caro Doutor; Reverendíssimo Vigário; Digníssimos; Sua Eminência; Meritíssimo Juiz; Vossa Alteza Real ou Excelência Reverendíssima...
Viraram pronomes de tratamento ou reverência frequentes em seus telegramas, suas cartas ou e-mails.
As melhores respostas que o personagem dessa crônica recebeu para distribuir foram: empregos aos desempregados; tratamentos de saúde para os necessitados; estudo para os analfabetos; proteção e justiça para todos!
A pior resposta recebida, por incrível que pareça, não foi a indiferença, foi a esperança mentirosa: Ali aguardando, todo dia telefonando para lembrar a promessa, cobrando o que achava de direito, publicando e divulgando na mídia, o cidadão sentia que precisava modificar o caminho. Tinha ido às ruas, agora haveria de ir à luta!
Eu juro que reconheci!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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