junho 19, 2015

Conto da crioula doida ou da afro descendente com problemas mentais.

Artesanato mineiro.

Abro a janela de manhã e a casa da frente abre a sua. 

Cumprimentamo-nos sorrindo pela sincronia. Quem sabe, não é nada disso? Deixemos para lá as conjeturas.

Vou para a cozinha coar café, abro a porta que vai dar ao quintal, e um gato amarelo me espia e some no mato. O que esteve fazendo ali? Dormindo no capacho, só isto.

Dali a pouco, pego a vassoura para retirar folhas secas da varanda e o lagarto de um metro de comprimento (da cabeça até a ponta do rabo), para sua caminhada olhando-me fixamente.

Apronto-me para a reunião semanal, encontro-me com as colegas, e cada uma quer saber uma coisa:

_ Por que você usa essa sandália de tirinha sobrando no peito do pé?

_ Por que você leva a mão à cabeça a todo o momento?

_ A que horas seu marido virá buscá-la hoje?

_ Você usa esse tipo de roupa por que gosta?

_ Fulana contou-me que você falou tal coisa da cidade. É verdade?

E eu sorrio sem resposta certeira, pois aprendi que é o estilo da cultura do lugar estar sempre perguntando, sem nenhum interesse particular pelas respostas dadas pelo interlocutor.

Até aqui tudo bem. Sigo na convivência descontraída com o ambiente onde moro e adoro.

À tarde, sentada em frente ao WORD, escuto o telefone tocar:

_ Alô! Estou falando com a titular dessa linha telefônica?

E eu, cá com meus botões, pensando: - hoje vai dar uma crônica...

E a voz continua:

_ Notei que a senhora pagou muito mais que a média anual na sua conta desse mês...

(Resisti bravamente à tentação de responder grosseiramente).

E a voz continuou:

_ Venho fazer-lhe a proposta de um “novo plano” onde pagarazz uma quantia mensal única falando o quanto precizzarezz, e com todos os outrozz serviçozz incluzozz.

_ Quero não moço. Aqui cada qual paga o que gasta. Ninguém quer saber de pagar pelo que não gastou. Tchau e muito obrigada.

Assim desliguei.

À noite toda, meu celular, que é da mesma operadora tocou. 

Verificando pela manhã havia dezoito mensagens registradas, sem opção de apagamento. Ou eu respondia ou respondia eu.  --

- Cruz em Credo Ave Maria, acho que estou sendo observada! 

Pensei... Mas voltei ao computador colocando a tinta na impressora nova. Digitei, acionei o comando de impressão rápida, e para minha surpresa, surge na tela a seguinte mensagem:

_ Utilizar tinta original tem suas vantagens. Você acaba de ganhar a recompensa, clique aqui para escolher seu presente.

Amei aquela ideia do fabricante de vigiar quem põe cartucho Pirata numa impressora boa que nem aquela! Todo mundo gosta de ganhar um presentinho de vez em quando. Assim sendo ninguém vai reclamar da vigilância permanente, né?




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Um comentário:

  1. Muito bom!!!! Senti-me na escrita! Bem assim...
    Abraços,
    Marília

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