janeiro 16, 2015

Tem pra todo gosto


O Sr. Manoel tinha um amigo negociante. De tudo negociava. Reza a lenda que certa feita vendeu casa pegando fogo. Ninguém precisava acreditar nisso, mas todos ali na vila repetiam a anedota com detalhes:

Alguém chegou pro negociante oferecendo boa porcentagem, para que achasse comprador certo para sua casa próxima a um pasto verdinho. O negócio demorou tanto a desenrolar, veio o tempo da seca, fizeram queimada no pasto amarelecido, e uma fagulha fugida com o vento atingiu o madeiramento do telhado deixando a casinha sem “chapéu”. E não é que nesse dia o vendedor tinha feito o negócio? Se foi difícil pro dono do imóvel receber o preço da venda, bem mais difícil ainda foi o negociante ter a sua comissão nas mãos. Nem por isso ele desanimou dos negócios.

Conversando com o Sr. Manoel, amigo de longa data, o Sr. Negociante ofereceu-lhe em 2002 um Tempra do século XX. O tempo gasto na conversa dos dois foi curto, pois o preço estava baixo para tanta imponência e conservação. Quando este automóvel foi lançado no mercado, com propagandas à altura, não era qualquer trabalhador que poderia comprá-lo. Agora o turbo style, que algum dia havia posado ao lado de um avião pousado na pista do aeroporto, passava para dentro da garagem do Sr. Manoel com a finalidade de carregar o pessoal para a temporada da pescaria do alto Tocantins. Forte, confortável, possante, ia levar os cinco pescadores, a geladeira no enorme porta malas e a tralha toda. Quem sabe serviria até de quarto de dormir lá na beira do rio? Tão macio o estofamento especial...

Pelo menos os pescadores tiveram sorte na pesca, conseguindo em média sessenta quilos de peixe fresco de primeira qualidade, para cada um trazer pra casa. No mais, vejamos:

“O TEMPO PERGUNTOU PRO TEMPRA QUANTO TEMPO O TEMPRA TEM. E O TEMPRA RESPONDEU PRO TEMPO, QUE O TEMPRA TEM TANTO TEMPO QUANTO TEMPO TEM UM PESCADOR.”

Ninguém ali sabia desenguiçar o gigante quando teimava em não sair do lugar. Nas paradas, também os mecânicos desconheciam a técnica. Foram três dias de viagem de ida, um dia e uma noite na pescaria, e mais três dias de volta. Ainda bem que dividiam todas as despesas, e ainda tiveram muita sorte com os peixes. Ou não? Vai saber ao certo...



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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