julho 18, 2014

Não valeu

Pintura naif da Beth

Café com leite, carta branca, bobinho e até galinha choca eram denominações para a criança que ia brincar de pique pega ou de esconder com as outras, sem ser levada a sério. Corria-se atrás dela, mas não valia pegá-la. Por que? Motivos diversos como: pouca idade; baixa estatura em comparação aos outros participantes; não dominar a contagem de 1 a 30; desconhecimento das outras regras da brincadeira, etc. Não se tratava de uma discriminação já que o “bebê” divertia-se também.

_ Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete... vinte e nove, trinta, TRINTA E UM DE JANEIRO GALINHA NO POLEIRO... Lá vou euuuuuuuuuuuuuuuu!

Com a contagem e o grito de guerra acima, ia o PEGADOR procurar os amigos do pique esconde. 

Se ia depressa e direto num colega poderia ouvir o protesto:

_Não valeu! Não valeu porque você não tampou os olhos direito e viu meu esconderijo.

_Ta bom, ta bom... vou contar de novo. 

E haja imaginação para descobrir tantos novos locais para a criançada se esconder. Se fosse no quintal, era cada cantinho do porão, muro, telhado ou num galho da árvore. Se dentro de casa, embaixo da mesa, da cama, atrás da poltrona, dentro de armário, banheira, atrás de portas e janelões.

Até que uma das crianças precisou ir ao banheiro urgentemente, e no aperto nem a porta trancou. O procurador da brincadeira de pique entra de supetão e o escondedor grita:

_ NÃO VALEU!

De vez em quando presenciamos algum fato que exige “vista grossa” de quem passa pela rua. São flagrantes de pessoas que se sentem tão à vontade em público como se estivessem em suas próprias casas.

Acho que a profissão de vigia tem seus momentos menos tensos, risíveis, quase anedóticos. E com tantas câmeras “sorria você está sendo filmado” não tem porque o cidadão comum ser surpreendido e reivindicar com a frase: _Não valeu! – a não ser que seja pegadinha televisiva.

Na vida moderna não há muita chance de se esconder. Nem na escuridão.


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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Um comentário:

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