julho 11, 2014

A fábula atual

Pintura naif da Beth

O gambá da cidade foi visitar seu primo no campo. Chegando lá viu, e passeou na beleza da paisagem, admirou-se das enormes extensões de terras, pastos e plantações e resolveu atender a insistência dos parentes ficando uma boa temporada por lá. Já no terceiro dia começou a passar mal dos aparelhos digestivo e respiratório. Para completar o quadro de indisposição, sentia tonteira e teve de ficar dormindo dia e noite sem fazer nada. A conselho do membro mais idoso da família do gambá do campo, jejuou por dois dias, e apresentando melhoras resolveu voltar para a cidade. O primo e sua companheira falaram juntos:

_ Vamos acompanhá-lo para acudi-lo no caso de você sentir fraqueza no caminho.

Assim partiram na fresca da noite enluarada.

Antes do nascer do sol estavam chegando à residência do primo da cidade. Era o forro de uma casinha abandonada, no quintal de uma casa de laje, muito bem construída. 

O primo da cidade comeu uns maracujás do pomar ali existente, e de sobremesa beliscou um pedaço de abacate e logo lhe voltaram a cor e a disposição naturais. O gambá e a gamboa do campo nem queriam mais voltar para suas terras. Estavam achando uma maravilha aquelas frutas orgânicas, aquela água artesiana, o abrigo seguro, a ausência de predadores.

Assim teve início o êxodo rural de animais silvestres de médio porte.


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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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