dezembro 12, 2014

Ansiedade

Quadro Naif da Beth.


A prosa ao telefone rolou assim:

_ Alô Dona Téia estou ligando para lhe dizer,

_ E eu queria mesmo saber se posso diminuir aquele risco de bordado para caber no tecido que você trouxe para eu bordar.

_ Sei que estou precisando decidir sobre a toalha de mesa aí com você, mas chegou gente aqui de...

_ Já sei. Chegou visita cerimoniosa aí, e você teve de fazer as honras da casa sem poder resolver assuntos urgentes.

_ Nada disso. Chegaram nossos parentes de São Paulo, e 

_ Vieram de avião? 

_ Vieram como de costume, porque

_ Imaginei que com a falta d’água eles não iam conseguir ficar atoa lá.

_ Vieram trazer o

_ O filho deles para ver os bisavós já velhinhos e doentes.

_Não. Vieram trazer os dólares para você viajar no ano novo.

_ Nossa! Por que você não falou logo mulher!

_ Porque sua ansiedade não deixou que eu terminasse uma frase sequer.

_ Ansiosa é você querendo falar primeiro.

_ Eu que liguei amiga.

_ Pois estou calçando meu chinelinho para ir aí agora buscar meu presente!

E desligou sem ao menos despedir-se e agradecer.

A parenta ficou a ouvir o som do telefone desligado na sua orelha, quando a campainha da porta tocou assim: diiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim doooooooooooooooooooooooom!





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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