fevereiro 02, 2018

Lar Doce Lar

Por Elizabeth Santos

Alimentos doces fazem a delícia da infância... da adolescência, juventude, maturidade até à velhice. Uns mais, outros menos, difícil mesmo é descobrir quem não gosta de doces.

Se a pessoa tem alguma restrição ao açúcar em sua alimentação, o caso é diferente. Não pode, não deve comer nada acrescido de açúcar natural, PONTO. Se adoçante e remédio resolvem o problema... tudo bem. Um docinho aqui, um sorvetezinho ali... Vai-se vivendo a doce vida.

Assim é até que lá da cozinha vem um aroma de bolo terminando de assar. Difícil resistir a um bolo servido com uma xícara de café, na hora certa. Para a criançada seria o cheiro do chocolate derretendo para se fazer as bolinhas negras, que serão roladas no granulado.

Dona Maria, aos seus oitenta e um anos, ia para a cozinha quando os filhos estavam no serviço, os netos na escola, e o cãozinho dormindo no alpendre. Doce pronto separava a porção de cada um, e escondia na prateleira mais alta da cozinha, o seu quinhão (diga-se de passagem, era o Senhor Quinhão). Daí Dona Maria “Formigona”, sentava-se na cadeira de balanço e comia a rapa da panela com boca boa. Se ela cochilava, a panela deslizava pela sua saia longa, e o gato se encarregava de lamber a sobra. Depois disso a panela ficava lustrosa de tão limpa!

Certo dia, estando Dona Maria Doceira sobre um banquinho, na ponta dos pés descalços para não correr perigo de escorregar, “escondendo” o doce que lhe pertencia de direito e viu chegar sua amiga. Tratava-se da Dona Landa, gente boa, de casa... que sempre ia entrando sem avisar.

Ao seu olhar de interrogação, a dona de casa (ou pelo menos dona daquela cozinha) foi explicando que estava a tirar das vistas dos familiares o doce que havia feito para degustar às colheradas durante toda a semana.

E a amiga, sem dó, veio com censura, afirmando categoricamente que tudo que tinha, ou ganhava, repartia até o fim com os de casa. Ao que Dona Maria argumentou, descendo do banquinho, que os demais iam dispor de muito tempo na vida para comer os doces que quisessem, mas ela não, pois já passava dos oitenta anos de idade.

Assim mesmo, Landa ganhou um pires transbordando de açúcar e afeto para provar.

A conversa não se encerrou ali. Falaram de bolos que mais pareciam pudins; de roscas que mais pareciam bolos; de pastéis recheados de geleias; empadas cobertas de glacê e até o lombo à Califórnia, a farofa de uvas passas, e outros deliciosos pratos mais.

Nenhuma das duas amigas lembrou-se da casinha de guloseimas da história de João e Maria. Afinal quem a construiu foi uma bruxa, e a doce conversa poderia desandar. Elas não acreditavam em bruxa, mas sabiam que ela existia!




 
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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