Já pensou nesses lugares considerando apenas o aqui e o agora?
Céu e inferno. |
Céu e inferno fazem parte da crença e imaginário de grande parte
das pessoas. Escritores, poetas e filósofos usaram esses dois termos como
analogias aos estados humanos de alegria e plenitude e de sofrimento e
angústia.
Em seu livro "108 CONTOS E PARÁBOLAS ORIENTAIS", Monja Coen expõe de forma primorosa e simples algumas
questões como essa – sobre o céu e inferno - de acordo com o conhecimento
budista:
CÉU E INFERNO
Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi até Hakuin Ekaku - um eminente monge da tradição Rinzai do budismo japonês
medieval - e perguntou:
-Se existe um paraíso e um inferno, onde estão?
- Quem é você? - perguntou Hakuin.
- Eu sou um samurai! - o guerreiro exclamou.
- Você, um guerreiro? -riu-se Hakuin. - Que espécie de
governante teria tal guarda? Sua aparência é a de um mendigo!
Nobushige ficou tão raivoso que
começou a desembainhar sua espada, mas Hakuin continuou:
- Então você tem uma espada! Sua arma provavelmente está tão cega
que não cortará minha cabeça.
O samurai continuando a desembainhar a espada, avançou pronto para
matá-lo, gritando de ódio. Nesse momento, Hokuin gritou:
- Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!
Ao ouvir essas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o
samurai embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverência.
- Acabaram de se abrir os Portais do Paraíso - disse
suavemente Hakuin.
.
Os textos clássicos do budismo dizem que céu e inferno são muito
semelhantes. Em ambos os locais há uma mesa imensa com alimentos deliciosos. As
pessoas estão sentadas em cadeiras altas e com conchas longas amarradas em seus
braços, portanto não conseguem dobrar os cotovelos.
No céu, todos sorriem felizes e satisfeitos, pois as conchas são
capazes de levar os alimentos diretamente para a boca de quem está sentado do
outro lado da mesa. No inferno todos gritam e se insultam mutuamente, tentando
em vão, se autoalimentar. Assim, céu e inferno
dependem do seu estado mental de contentamento ou enfezamento.
(Monja Coen em 108
contos e parábolas orientais)
Site da foto. |
Claudia Dias Baptista de Souza nasceu em São Paulo e é a monja
zen budista brasileira, quando bem jovem viveu tempos no exterior, passou por uma vida normal em sua
época, onde desabrochava o movimento Hippie, um de seus trabalhos era o de
enrolar cabos - de fios- nos palcos onde houvessem shows. Viveu autenticamente como uma hippie em sua época, onde ter apenas
uma calça jeans era a demonstração em prática do desapego e sustentabilidade.
Fã de The Beatles e Pink Floyd e sempre muito astuta e determinada se
interessava em compreender e praticar o que seus ídolos - os quais ela
considerava muito inteligentes – vivenciavam, desse modo, conheceu a meditação o que sem dúvida foi um grande marco em sua história, pois foi
a partir daí que iniciou uma linda e nobre jornada de peregrinação tendo
em vista o Zen Budismo, o amor e a paz interior.
É interessante pensar em céu e inferno internos que acabam
pulando para fora na medida em que sentimos a graça de um ou terror do outro, o
que é interior e pequeno se torna exterior e maior na medida em que
deixamos isso acontecer. Se ponderamos que ao menos nossos céus e infernos
podem ser compreendidos, trazidos à luz, nos tornamos capazes de
administrá-los melhor.
Outra abordagem da tradição budista trazida pela Monja é a de que os "estados"
de céu e inferno são muito parecidos, o que muda é o entendimento
interior das pessoas sobre as circunstâncias em que se encontram, o olhar para o próximo,
trabalhar em conjunto, doação, sentimentos de empatia, gratidão e paz fazem do
céu um lugar paradisíaco, enquanto que sentimentos contrários a esses
tornam o inferno detestável.
Dedico
este post ao querido Merlin.
Referência:
Coen, Monja. 108 contos e parábolas orientais. 2ª ed. - São Paulo;
Planeta, 2016. 78 pp.
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Amanda estuda Filosofia e mora em Ouro Preto – MG. Lança no mundo um olhar contemplativo e é por isso que gosta trocar informações e curiosidades sobre tudo o que admira e experimenta. Acredita que as perguntas movem o mundo e o conhecimento pode ser um remédio para a alma. Escrever no Caderno de Perguntas é uma forma de passar um pouco da sua bagagem adiante.
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