agosto 29, 2016

Já pensou sobre céu e inferno?

Já pensou nesses lugares considerando apenas o aqui e o agora? 

Céu e inferno.

Céu e inferno fazem parte da crença e imaginário de grande parte das pessoas. Escritores, poetas e filósofos usaram esses dois termos como analogias aos estados humanos de alegria e plenitude e de sofrimento e angústia. 

Em seu livro "108 CONTOS E PARÁBOLAS ORIENTAIS", Monja Coen expõe de forma primorosa e simples algumas questões como essa – sobre o céu e inferno - de acordo com o conhecimento budista: 

CÉU E INFERNO 

Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi até Hakuin Ekaku - um eminente monge da tradição Rinzai do budismo japonês medieval - e perguntou: 

-Se existe um paraíso e um inferno, onde estão? 

- Quem é você? - perguntou Hakuin. 

- Eu sou um samurai! - o guerreiro exclamou. 

- Você, um guerreiro?  -riu-se Hakuin. - Que espécie de governante teria tal guarda? Sua aparência é a de um mendigo! 

Nobushige ficou tão raivoso que começou a desembainhar sua espada, mas Hakuin continuou: 

- Então você tem uma espada! Sua arma provavelmente está tão cega que não cortará minha cabeça. 

O samurai continuando a desembainhar a espada, avançou pronto para matá-lo, gritando de ódio. Nesse momento, Hokuin gritou: 

- Acabaram de se abrir os Portais do Inferno! 

Ao ouvir essas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o samurai embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverência. 

- Acabaram de se abrir os Portais do Paraíso - disse suavemente Hakuin. 
                                                                                      . 
Os textos clássicos do budismo dizem que céu e inferno são muito semelhantes. Em ambos os locais há uma mesa imensa com alimentos deliciosos. As pessoas estão sentadas em cadeiras altas e com conchas longas amarradas em seus braços, portanto não conseguem dobrar os cotovelos. 

No céu, todos sorriem felizes e satisfeitos, pois as conchas são capazes de levar os alimentos diretamente para a boca de quem está sentado do outro lado da mesa. No inferno todos gritam e se insultam mutuamente, tentando em vão, se autoalimentar. Assim, céu e inferno dependem do seu estado mental de contentamento ou enfezamento. 
(Monja Coen em 108 contos e parábolas orientais)

Site da foto.

Claudia Dias Baptista de Souza nasceu em São Paulo e é a monja zen budista brasileira, quando bem jovem viveu tempos no exterior, passou por uma vida normal em sua época, onde desabrochava o movimento Hippie, um de seus trabalhos era o de enrolar cabos - de fios- nos palcos onde houvessem shows. Viveu autenticamente como uma hippie em sua época, onde ter apenas uma calça jeans era a demonstração em prática do desapego e sustentabilidade. Fã de The Beatles e Pink Floyd e sempre muito astuta e determinada se interessava em compreender e praticar o que seus ídolos - os quais ela considerava muito inteligentes – vivenciavam, desse modo, conheceu  a meditação o que sem dúvida foi  um grande marco em sua história, pois foi a partir daí que iniciou uma linda e nobre jornada de peregrinação tendo em vista o Zen Budismo, o amor e a paz interior. 

É interessante pensar em céu e inferno internos que acabam pulando para fora na medida em que sentimos a graça de um ou terror do outro, o que é interior e pequeno se torna exterior e maior na medida em que deixamos isso acontecer. Se ponderamos que ao menos nossos céus e infernos podem ser compreendidos, trazidos à luz, nos tornamos capazes de administrá-los melhor. 

Outra abordagem da tradição budista trazida pela Monja é a de que os "estados" de céu e inferno são muito parecidos, o que muda é o entendimento interior das pessoas sobre as circunstâncias em que se encontram, o olhar para o próximo, trabalhar em conjunto, doação, sentimentos de empatia, gratidão e paz fazem do céu um lugar paradisíaco, enquanto que sentimentos contrários a esses tornam o inferno detestável. 

Dedico este post ao querido Merlin.



Referência: 
Coen, Monja. 108 contos e parábolas orientais. 2ª ed. - São Paulo; Planeta, 2016. 78 pp.


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Amanda estuda Filosofia e mora em Ouro Preto – MG. Lança no mundo um olhar contemplativo e é por isso que gosta trocar informações e curiosidades sobre tudo o que admira e experimenta. Acredita que as perguntas movem o mundo e o conhecimento pode ser um remédio para a alma. Escrever no Caderno de Perguntas é uma forma de passar um pouco da sua bagagem adiante.

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