novembro 13, 2015

Conversa ao portão

Quadro quebra-cabeças feito pela Beth.

Parecia uma festa! Juntou-se a vizinhança no portão da Juliana para receber de volta o cãozinho sumido que alguém veio entregar.

Foi só o carro estacionar e uma dúzia de pessoas, maior parte crianças, tentando olhar mais de perto, sem conter a alegria.

Era o Bob mesmo, que estava chegando depois de ter desaparecido por três dias deixando uma família inconsolável. Muitos tinham sido os esforços para localizá-lo:

Aviso pregado no poste, falado no rádio, amigos perguntando aos conhecidos nos quatro cantos da cidade, mobilização geral enfim, e nada... Até que ao final de setenta e duas horas, um telefonema acabou com a agonia do sumiço de um bichinho de estimação muito, muito querido mesmo.

Juliana tem três filhos. Para os maiorzinhos entenderem o drama até que não foi difícil. Difícil foi acalmar o pequetito, a todo o momento perguntando do Bó. Explicar-lhe que “o Bó foi ‘bóra” era muito triste. A criança ia até à casinha do cachorro e chamava-o tentando estalar os dedinhos.

 Comentar, naquele ambiente, as possíveis suspeitas sobre o desaparecimento ficou terminantemente proibido. Até o pai da família andava entristecido sem a algazarra das crianças e o cachorrinho correndo ao seu encontro ao chegar do trabalho.

Quem achou o Bob perambulando na rodovia foi um caminhoneiro. Tinha acabado de ouvir no rádio da cabine sobre o cãozinho sumido, quando teve de diminuir a velocidade para não atropelar outro cão. Estando nas proximidades de um posto de gasolina com restaurante achou por bem parar, e almoçar. Percebeu então que um cachorro o seguia, e tinha uma coleira. Chamou-o de Bob, e o animalzinho abanou o rabo. Apontando para o Bob, perguntou ao frentista a quem pertencia o cão. Ouvindo a resposta:

_ É mais um dos animais abandonados perto de um lugar que serve alimentos. – caiu-lhe a ficha! Só pode ser o tal cachorrinho sumido.

O resto foi fácil: dois ou três telefonemas, um pão de queijo de isca, cinco quilômetros desviados da sua rota, para ver o problema solucionado. Não quis gratificação por ter se sentido pago pela felicidade de toda aquela gente aguardando o Bob ao portão.

Quem quer saber o resto da história poderá imaginar...

Particularmente gosto de pensar que se cachorro falasse, Bob explicaria assim:

-Não sou criança mais. Saí atrás de uma cadelinha linda e cheirosa, mas não soube voltar. Da próxima vez levarei um GPS.




--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leave your comments here.