novembro 20, 2015

Bonequinha, bonequinha.

Bonequinha de porcelana.

Num convívio pacífico lá estão no Guarda Louça da titia: preto velho com seu cachimbo; Iemanjá Rainha das Águas; Santa Terezinha; e perdida no meio de copos, licoreira e compoteira, uma bonequinha branca.

Com cara de menininha, já completou 76 anos!

Graciosa, embora com vestido fora de moda, olha, pisca e dorme com seus olhos azuis de contas!

Visitantes curiosos querem saber da dona da casa (e da cristaleira) se não haveria lugar mais adequado para aquela princesinha.

Não. O tempo dela de estar nos braços de uma criança já passou.

Passou também seu tempo de moradora de uma caixa de brinquedos.

Restou-lhe o tempo que tem vivido: exposta naquela quase vitrine.

Não há olhar feminino que não seja atraído pelo seu olhar sonolento.

Querem dar-lhe um banho... Mas se o batom sair, quem vai pintar-lhe? E se a cola da emenda das duas bandas de plástico soltar-se, que habilidosas mãos vão consertá-la?

Querem trocar sua roupinha amarelecida pelo tempo... Não podem descaracterizá-la! Tem origem francesa seus tecidos e adornos nos cabelos.

Então ... que fique lá!

Encantada e encantadora aguardaria o beijo do príncipe?

Ninguém sabe ao certo o que ela deseja para o futuro, ou qual será seu destino.

Um museu de brinquedos? Lá sumida na sua pequenez, na prateleira de grandes e suntuosas bonecas?

Vai mudar de casa e de dona? Vai achar gente boa que nem os que a rodeiam agora?

O futuro é uma incógnita, embora alguns sonhem em oferecer-lhe outra vida: de neném, menininha ou de madame.

Até hoje o que ninguém sabe ao certo é, se ela vai aceitar...



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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