Catedral de Campanha, sul de Minas. |
Quando criança achava “Semana Santa” uma semana monótona e sem graça. À medida que aprendeu a ler, e foi matriculada no catecismo católico, além de continuar achando isso, tinha muitas perguntas, e poucas respostas de adultos.
A semana Santa, começada no domingo de Ramos, tinha ares de acontecimento real e não de aniversário de um acontecimento bíblico. Para aquela criança de seis anos, as pessoas ficavam tão sérias, compenetradas, caladas, que a entrada de Jesus em Jerusalém estava ocorrendo naquele dia. Não era a comemoração de uma lembrança.
Na Semana Santa nenhuma criança fazia birra, brigava ou desobedecia aos mais velhos. O clima era diferente.
Na quinta feira Santa existia uma penitência para os adultos: ficarem calados do meio dia às cinco horas da tarde! A menina tentava fazer o mesmo sem conseguir, mas o pior mesmo era perguntar algo no horário do almoço e só obter resposta quase ao anoitecer. A sexta feira era bem mais sacrificada ainda. Além de não se comer carne às refeições, algumas pessoas faziam jejum completo. Como é que aguentavam? Nem que crianças quisessem imitá-los não conseguiriam. Tinham o hábito das quatro refeições e mais umas frutas ou guloseimas salpicadas durante o dia.
Quanto às cerimônias na igreja, achava-as muito demoradas. Muitas vezes dormiu de cansaço naquele banco desconfortável, e ganhou colinho para voltar para casa. Procissão? Gostava mesmo de ver os andores e as janelas enfeitadas; as roupas dos anjos, e a banda tocando. Só que na semana Santa, as músicas eram fúnebres, muito tristes mesmo, e ela sentia medo.
Aliás, a imagem em tamanho natural, de Jesus machucado, carregando sua cruz, atemorizava-a. Aquele cabelo natural caído aos ombros, balançando no ritmo das passadas de quem levava o andor... dava a impressão de ser não uma imagem com olhos de vidro, mas uma pessoa de verdade!
O sábado Santo movimentava a igreja, o entorno, a praça, a cidade toda enfim. Vinham muitos fiéis das roças, famílias inteiras para as casa de seus parentes...
O domingo de Páscoa, dia em que se comemora a ressurreição de Jesus, começava cedo com o bimbalhar festivo do sino. Aleluia, Aleluia!
À missa dominical, todos de roupas novas, felizes desejavam uma boa Páscoa aos amigos. O almoço especial reunia familiares com saboroso cardápio. A sobremesa, invariavelmente era chocolate, às vezes em forma de ovinhos, que encantavam a menina.
E ela cresceu, entendeu o sentido daquele cerimonial todo, que algum dia lembrar-se-ia saudosa.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
Bom de ser lido! Nas entrelinhas, acho que é isso: algo de muito profundo em todas as comemorações da Semana Santa. Mas, para entendê-las, é necessário desprendimento do que é material. É entrar no mundo do simbolismo, da Fé.
ResponderExcluirLindo texto.
Abraço,
Marília