novembro 15, 2019

Ser Humano

Por Elisabeth Santos


De volta ao grande centro urbano de Belo Horizonte observo meus semelhantes. Aqui me sinto bem igual a todos que vem e vão de casa para outra viagem, ou serviço, escola, banco, igreja, compras, consultas... Pretendo achar no emaranhado de lojas que oferecem “de tudo um pouco”, uma ou duas peças do azulejo descolado da fachada do prédio pela ação do tempo. Caso não encontre, procurarei no antigo endereço das páginas amarelas da lista telefônica da vovó, o recuperador de peças desse tipo. O tal, habilidoso e paciente, era capaz de restaurar um bule com pintura chinesa em relevo, transformado em quebra cabeça de mil peças por um gato que jamais ensinou o pulo!

E assim andando sem pressa, deixo que passem os vendedores ambulantes, entregadores de marmitas, o casalzinho de mãos dadas, a sacoleira e a mãe de família. Vejo o cambista, o malabarista, o artista... Ouço a moda de viola de alguém que não vê a moeda que cai dentro do seu chapéu.

Na rua vão revezando: táxis e coletivos; motocicletas e carros de todo tipo; furgões, viaturas, ambulâncias que ninguém mais olha. Quando passa o trenzinho da alegria, enfeitado de balões coloridos sim. Ele leva de graça quem quiser conhecer o mais novo shopping da cidade. Para quem pode é uma super chance de aproveitar as ofertas da inauguração; Para quem tem tempo, um belo passeio em dia de semana; para quem está cansado de andar entre anúncios ambulantes, uma carona no momento certo...

E eu chego à galeria onde deve existir os preciosos e raros azulejos que preciso, no momento exato da propagandista da cabeleireira abanar um chumaço de cabelos pertinho do meu nariz. Que susto!

Outro propagandista grita próximo ao meu ouvido que no sétimo andar há quem compre ouro. Mais um anuncia “é três por dez, é três por dez” estendendo um pastel gigante diante das bocas. O aroma é quase irresistível...

Ser humana é o que sou.

Cuidarei de sempre ser.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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