Por Elisabeth Santos
Dia de Júri no Fórum ativava a curiosidade de tantas
pessoas que o salão ficava repleto. Assentos eram insuficientes. A maioria
apinhava o espaço em pé. E o júri demorava a desenrolar nas falas obrigatórias
dos advogados que pareciam competir, não para falar mais que o outro, mas para
desenvolverem melhor suas funções de acusar ou defender. O juiz sim falava
pouco, martelava quando precisava mandar fazer silêncio no tribunal,
determinava pausas ou intervalos para reunião dos jurados. O réu respondia
quando indagado. Testemunhas depunham sob juramento de dizer a verdade, somente
a verdade nada mais que a verdade. O escrevente não dava trégua ao teclado da
máquina de escrever.
...
Em 1957, uma criança poderia estar andando em meio
aquele povaréu só de curiosidade mesmo. Sem nada entender, mas tendo na ponta
da língua o sobrenome do assassino, zanzava por ali sem ser percebida pela
maioria. Um ser de pouca estatura, descalça, vestida com a extrema simplicidade
de quem não ia assistir a júri algum, mas poderia sim estar procurando por
alguém... Isto é o que ela representava ali.
Olhares adultos fixos na composição do tribunal nem a
percebiam. Queriam mesmo, naquele silêncio sepulcral, ouvir o veredicto depois
de tantos discursos. Estavam com toda atenção voltada para o réu assentado à
frente do juiz, tendo a seu lado o advogado de defesa. Nunca haveriam de perceber
a presença de uma criança na sala do júri. Ela porem, no anseio em ver de perto
o que fazia tanta gente grande em um local tão sem atrativos, ia se aproximando
do foco da sessão, guiada pelo som da máquina de escrever que nem parava nas vírgulas
pelas pontas dos dedos do escrevente. Como seria isto possível?
Acho que foi no exato momento em que não enxergando
caminho para ultrapassar a barreira humana que se apresentava à sua frente, e
confusa ia tentando passar pelo vão das pernas de um gigante... ouviu a
represália:
_ Volta pra sua casa que aqui não é lugar de criança!
E a menina caiu na real, e sumiu engatinhando. Não
correu o risco de ter a mão pisada, pois ninguém se mexia ali.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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