Por Elisabeth Santos
Pegaram-me de surpresa hoje. Ouvi e atendi o
interfone: _ Oi Arlete, sou eu Cristina. Preciso muito falar com você!
Não acionei o trinco eletrônico do portão, mas fui ver
se era a Cristina que eu estava pensando. Pela tela do circuito fechado pela
câmera de segurança seria difícil identificação sem zoom. Era uma desconhecida.
Aproximei-me dela através do portão e escuto esta:
“_ Pelo amor de Deus, me ajude. Minha filha tomou
veneno, foi levada pro hospital de Varginha e eu preciso ir pra lá. Não tenho
trinta reais pro ônibus, o Serviço Social da prefeitura já fechou. Pedi naquele
comércio ali e eles disseram para eu pedir emprestado à senhora, que me
socorreria.”
Eu tinha reparado que ela tremia muito, pois seus
braços estavam bem perto de mim, atravessados na grade de metalon da entrada do
jardim. A única coisa que consegui responder com lucidez foram as seguintes
palavras: _ Não precisa pedir pelo amor de Deus. Vou ajuda-la.
Entrei em casa a procurar uns trocados porque costumo
usar débito em cartão. Gastei uns minutos, voltei a entregar os trinta reais à
desesperada pedinte, que ainda nervosa mostrou-me a perna com uma veia
“pulando” e... sumiu.
_ Deus lhe pague, Deus lhe pague! – Foi o que consegui
ouvir. O esperado: _Devolverei qualquer dia desses!- Eu não ouvi não!
Aí... o pessoal de casa perguntou-me sobre o que
aconteceu e respondi-lhes o que escrevi acima. Também falei para olharem a
gravação na câmera.
_ Conheço essa larápia velha de guerra. Vive de
trambique. - disse um.
E eu, a vítima, tive de ouvir algumas admoestações,
reprimendas ou pitos mesmo.
O que vimos juntos na câmera foi a veracidade dos
fatos por mim narrados; e mais o antes, e o depois do “conto da vigarista”.
Antes de tocar o interfone no portão da casa, posto que, veio preparadíssima
pro golpe de mestra, comprimiu com as duas mãos a veia da panturrilha direita.
Está lá no filme. Isto deve ter causado a tremedeira necessária para que eu
cresse em seu palavrório, talvez tenha até provocado as lágrimas que brilharam
em seus olhos.
E eu?
Eu fiquei naquela de: _E agora Maria José? Você, tão
experiente, tão alertada pra esse tipo de coisa... cair que nem uma patinha na
lagoa?
Não tenho justificativa a não ser esta: _ Fui pega de
supetão!
Elisabeth Santos / Fevereiro de 2019
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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