Por Elisabeth Santos
Abri a porta e ela entrou olhando rapidamente os quatro cantos da sala, cumprimentou-me com um beijo e quis logo saber dos carneirinhos que viu ali há uns anos.
Então ela se lembrava da minha casa... Surpreendi-me!
Fomos ver os carneiros e coloca-los posicionados como
se fossem uma família: pai, mãe e filho.
Conversamos de variedades e ofereci-lhe bolo de
chocolate. Não quis, mas sugeriu ser o bolo de leite condensado bem mais
gostoso para acompanhar o refresco que lhe servi. Ao perguntar-lhe sobre sua
nova receita de bolo respondeu-me que os ingredientes eram os mesmos de
qualquer outro, porém com leite condensado.
_ Sobre o bolo pronto?- tive de perguntar-lhe.
_ Não. É misturado na massa.
Então fomos experimentar a novidade, colocando tudo na
tigela da batedeira, substituindo leite e açúcar pelo conteúdo da caixinha de
leite condensado. O bolo cresceu, espalhou um cheiro convidativo pela casa,
assou rapidamente e ficou muito saboroso. Enquanto lanchávamos minha visitante
explicou que já não apreciava o de chocolate por achar muito popular. Entendi
que ela realmente queria experimentar um sabor novo, inventado na hora. Para eu
ser mais exata, inventado no instante que ela visualizou a caixinha da iguaria na
prateleira da despensa.
Na piscina não podíamos entrar devido ao sol forte... Então
sugeri termos juntas uma hora artística. Cantamos, dançamos na maior alegria e
decidimos fazer pinturas. Eu risquei meu desenho antes de pintá-lo. Ela não.
Direto nos pincéis e tintas espalhou personagens por espaços bem definidos,
criou tonalidades e fez questão dos detalhes. Explicou-me quais seriam os
detalhes que gostaria de ver em sua arte. Percebendo minha cara espantada...
abriu uma revista colorida e virando as páginas ia apontando:
_ Olha isto aqui. É um detalhe. Olha este outro,
também é um detalhe.
Só pude responder:
_ Tá bem. Já entendi.
Rumamos para o quintal a procurar o lagarto, mas só
encontramos uma lagartixa que foi colocada num vidro. Achando um besouro o pusemos
no mesmo frasco.
Sem achar outros bichos mortos, colhemos alguns limões
verdes que não queriam desprender do galho, uma pitaya madurinha, e demos por
encerrado o período de caça e colheita.
Ao sentarmos à mesa do jantar, com as mãos cheirando a
sabonete, a conversa era outra:
_ Não quero a carne porque não gosto que gente mate
bicho para comer.
Também não vou usar canudo para beber limonada porque
não quero que vá para a natureza com o lixo para o golfinho engolir pensando
que é uma minhoca e depois morrer.
_ Tudo bem. Comeremos omelete. Amanhã faremos soja no
lugar da carne. E nada de canudo de plástico para tomar refresco. Somos gente
grande, beberemos no copo.
Lembrei-me que aquela sabedoria toda vinha dos seis
anos de vida da pequena, e que eu com meus sessenta bem vividos ainda teria
muito que aprender ali. Por exemplo:
_ Ouvir crianças ou estrelas! Quem sabe parar uns
momentos para ouvir uma criança estrela?
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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