Em minha pequena cidade mineira havia um cinema como
única diversão permanente. Os filmes eram sempre muito bons, mesmo mostrando
realidades inatingíveis para a distinta plateia. Mostravam também as sagas de
outros povos nas conquistas de “escravos”, espaços e poder. Opostas às
“nossas”, que traziam histórias de outras populações com interesse em nosso
país e dele sugarem tudo.
Bem depois vieram filmes brasileiríssimos, exibidos
numa proporção que dava chance
igualitária aos produtores de filmes daqui em praticarem e aperfeiçoarem a
sétima arte.
Lembro-me da expectativa de meus pais ao lerem no
jornalzinho local que o nosso lindo Cine Theatro S. Joaquim ia exibir em sua
tela, padrão da época, “Ravina” de Rubem Biáfora.
Acredito que mamãe vestiu roupa de festa, papai pôs
chapéu Ramenzoni, e pegando o guarda chuva, o casal subiu a ladeira de braços
dados tudo de costume, quando o filme era importante (lançamento é que não,
porque as novidades levavam anos para ali chegarem).
A volta para casa é que foi triste... descendo a
ladeira, embaixo de uma chuvarada, cuidando pra não escorregarem, os dois
faziam comentários sinistros.
O que teria sido?
_Os demais assistentes fazendo barulho irritante com
as cadeiras? O pessoal da Torrinha, que pagava meio ingresso, assobiando no
momento que a película cinematográfica arrebentava? O estouro dos saquinhos de
papel enchidos de ar quando as pipocas acabavam? O “lanterninha” andando de lá
para cá alertando que ia colocar fora do recinto os baderneiros?
Enfim... pai e mãe chegaram em casa falando,
falando... fazendo comentários nada elogiosos ao filme. Concluíram que estavam
decepcionados por terem ido ao cinema pensado em “Sabrina”, cinderela à
francesa, e não numa “Ravina”, desconhecida personagem do que traziam na mente
como “A heroína”.
Há muita diferença entre um filme “água com açúcar”, e
outro “dramalhão tipo O morro dos ventos uivantes”. Para quem pretendeu uma
diversão, saiu frustrado até por não entender cenas silenciosas e demoradas a
criar um clima num sei de quê.
_Filme é assim mesmo e sempre haverá uma nova onda!
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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