fevereiro 01, 2019

Palpite infeliz

Por Elisabeth Santos
O mundo dos palpiteiros existe! Aqui, quando alguém fica sabendo que outro alguém está construindo casa, faz uma visita e dá um tanto de palpite. Já ouvi dizer que se conselho fosse bom ninguém dava, vendia. O mesmo diriam outros, referindo-se aos famosos palpiteiros. Aliás, se determinada pessoa resolve seguir palpites que lhe chegam aos ouvidos pode se dar mal, pois muitas vezes vêm de ideias contraditórias, e o que está a construir seu ranchinho nunca terminará.


_ Mude a escada para perto da parede que ganhará espaço no quarto; mude-a para o meio do terraço e todos ficarão próximos dos quatro ângulos; desmanche a escada e faça rampa, podendo assim descer de carrinho de rolimã; nada de escada ou rampa, compre um pedaço do terreno vizinho e economize laje.


O cara estava começando a base de sua futura moradia quando passou um desconhecido na rua e perguntou se seria dele aquela construção. O tal, da construção, disse não e ainda justificou:

_ Minha casa fica em outro canto da cidade. Esta é só a casa dos palpiteiros mesmo!
E o mundo continua igual.
Vi uma propaganda de shampoo para cabelos cacheados, onde o jingle repetia assim: _ Pare de implicar com meus cachos. Gosto de meus cabelos do jeitinho que são.
Gostei!


Tenho ido e vindo escutando, que fico melhor com a cabeleira presa entre grampos, passadores, gominhas ou redinhas. Melhor para quem, se gosto de estar assim como estou? Quando quero variar de penteado não faço cerimônia, nem peço palpites. Simplesmente mudo. Às vezes bate um desejo de dar uma resposta malcriada para qualquer um, a qualquer momento, mas essa vontade passa rápida. Afinal, o problema não é meu e de quem gosta de ter seus palpites aceitos. O que ganham com isto... Não sei.
O que eu gostaria de ganhar? Talvez uma chance de fazer uma propaganda não enganosa de um produto anti palpates.


O jingle seria de autoria do Noel Rosa:


“Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!”
E eu tiraria a primeira peruca, a segunda, e a terceira, até mostrar minha cabeleira natural. Cacheadíssima.

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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia". 

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