fevereiro 12, 2019

Auxílios na hora certa

Por Elisabeth Santos
O que não pode faltar no Arraiá?
Bandeirinhas, bingo e mesa cheia de quitutes.
 
Maria do Carmo resolveu casar-se após muitos anos morando debaixo do mesmo teto com o Osmar. Trocou ideias com amigas que sugeriram a ela “embarcar” na cerimônia coletiva a acontecer no meio do ano na cidade em que residiam. Ducarmo pesquisou juntamente com o “namorido” chegando à conclusão de que não era muito aquilo que queriam não:

_ De cinco a vinte e cinco casais, todos com parentes e padrinhos, reunidos num mesmo local haveria de ter cerimônia demorada, ambiente confuso, bem cansativo e ainda sujeito a imprevistos diversos.


As colegas ponderaram que mesmo assim poderia ser econômico, bonito, cheio de emoção, e com a vantagem de muita badalação na mídia.

Quem continuou a fazer oposição aos argumentos da turminha foi o próprio candidato a noivo oficial. Osmar parecia não se interessar em sair no noticiário inda mais sendo que havia demorado a decidir-se pela oficialização. Convenceu então a futura noiva a pesquisar, e apresentar-lhe outras ideias.

Analisando prós e contras ficaram as amigas dela ventilando possibilidades diferentes:

_ adquirir o terno do noivo, os vestido da noiva, e daminha, num brechó chique; solicitar o espaço no centro comunitário do bairro onde residiam; chamar o coral da terceira idade para os cânticos convencionais; De favor, estava claro, etc e tal.

_ pedir emprestado os trajes; realizar uma festa no jardim da firma em que os noivos trabalhavam; etc e tal.


_ alugar tudo depois de desgastante pesquisa de preços e devidas negociações com firmas especializadas; começar a pagar com antecedência as lembrancinhas a serem distribuídas; lua de mel num resort litorâneo com preços especiais para o inverno, etc e tal.

Ao reunirem-se, no último feriadão antes do casório, para decisão final a respeito do evento mais importante daquela “familhona”... Ninguém se surpreendeu mais com a resposta negativa ora da noiva, ora do noivo, e a concordância de ambos só com os “etc e tal”.

Não sabiam eles que ali no grupo estava alguém a ponto de perder a paciência e falar bem alto, já afastando a cadeira para retirar-se do ambiente, que aos poucos ficara pesado:

_ Eu tenho a solução acertada para vocês dois: _ Irão se casar na festa junina do nosso bairro, vestidos com as roupas que quiserem, presença maciça de todos que moram por aqui, comes e bebes com fartura, e principalmente música, dança, e alegria infinita!


Antes de se ouvir no pequeno auditório a ordem:

 _ Calma, calma, Dona D’Alma!


Os noivos gritaram do lado de lá:


 _ Taí... Gostamos da ideia! Vamos em frente, viabilizar esta possibilidade, pois a Junina local está a poucos dias de acontecer.

Dona Encrenca, surpresa com a pronta aceitação, fez a pergunta que não queria calar, a que o quase ex noivo, de uma união já consolidada esclareceu prontamente:

_ Sempre fui louco por festa junina (louco todo mundo ali já desconfiava), porém meus pais nunca consentiram a mim e meus irmãos participarmos de alguma. O argumento era indiscutível: um tataravô falecido no dia de Santo Antônio, um bisavô falecido no dia de São João, e uma avó deles, no dia de São Pedro. Em respeito aos ancestrais mortos há tempos, ninguém dali em diante participaria de tais festividades. O tempo passando, eu sem ter aquele gostinho de comemorar com alegria os santos do mês de Junho, fiquei rabugento. Nem desejava mais dançar quadrilha. Hoje acredito que essa é a hora oportuna e quero muito experimentar uma festa junina para deixar feliz até quem estiver em outro plano.

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Dos etc e tal... fazia parte o casamento civil, no cartório, dentro dos trâmites legais, diante do juiz de paz, tudo certinho.

No dia seguinte sim: _  Convidados e padrinhos com roupas vistosas de autênticos caipiras; noivo e noiva vestidos a caráter; o ministro de Deus abençoando; e o caminho da roça... seguiu o caminho da Lua de Mel num hotel fazenda.

 Sim, absolutamente sim, era isto que todos os envolvidos desejavam. Tinham certeza que os noivos mereciam isto e muito mais. Algo que ficasse lembrado para sempre com muito gosto por eles, pelos filhos que já estavam bem crescidinhos, e à altura daquela união que aguardou tanto por um sonho realizado.


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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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