Por Amanda Jardim
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Seriado Lúcifer |
Um pouco de meu discorrer sobre a Série levando para o lado da Ética e Filosofia. Aviso: pode conter spoilers leves.
Lúcifer cujo significado do nome é aproximado de “portador da Luz” e “Luz da manhã” diz alguns escritos era um dos Anjos mais queridos de Deus, seu criador.
Podemos tratar esse assunto como algo fantasioso, mitológico ou Religioso, mas também supondo que há pessoas que acreditam na existência real do que é isso na representação desse personagem e de outros envolvidos na trama.
A série mostra que no início, Lúcifer Morningstar (traduzindo ficaria mais ou menos -> “portador da Luz, Estrela da manhã) foi condenado a governar o inferno... Até que “resolveu tirar umas férias...” Então temos como protagonista no início da série Lúcifer como um Sr. "Playboy", boa pinta com muitos carros, dono de uma boate em Los Angeles se divertindo e envolvido em, digamos coisas e fatos “superficiais”; sexo, drogas e mulheres que regam seu cotidiano em abundância. Ele tem um demônio que é condenado à obedece-lo personificado no papel de uma mulher forte e lutadora, sem paciência que também está ainda para entender o sentido de sua existência.
Hammmm, chegamos no ponto: Lúcifer, o guardião do inferno, que foi condenado a punir os pecadores, resolveu tirar umas férias no mundo dos humanos, desse modo, ele precisou se personificar como um humano, como o corpo de um (assim como o demônio que se personificou como mulher para acompanha-lo e protege-lo na jornada, ele precisou e assim se fez como um homem poderoso e popular).
Pois bem, os Demônios são anjos caídos, mas não deixam de ser anjos, criados pelo pai, Deus. A todo o momento Lúcifer menciona “meu pai”, seja para culpa-lo, ou para tentar explicar algo que ocorre com ele ou com a humanidade. O Fato é que Lúcifer entende que é filho e entende que seu Pai é maior e mais poderoso.
Passando isso, ao decorrer dos episódios, nosso personagem principal começa a se perguntar e se sentir instigado sobre os humanos -> Eles não têm as mesmas capacidades/propriedades (matéria, forma de pensamento, sentimentos, emoções etc.), mas, uma vez que esses anjos caídos resolveram a se personificarem como humanos, eles acabam também se sensibilizando e enxergando a vida com outros olhos, não à toa Lúcifer se sente necessitado à consultar sempre uma psiquiatra, que além de virar uma amiga, o ajuda em todas as ocasiões, principalmente quando é para ele entender o sentido de algo em seu cotidiano.
É fato que o Sr. Morningstar, assim como todos os seres divinos que vem procura-lo (sim, outros anjos, não caídos, entre outros, vêm tentar resgatá-lo da terra e leva-lo de volta para o inferno) trata a humanidade, os humanos, cada ser humano como se fosse uma verdadeira escória, é assim como eles enxergam os humanos, como menos capacitados, como atrasados que só pensam em si mesmos cometendo pecados até morrer, sem se importar com mais nada. Roubar, matar, mentir etc. Então começa a perceber que não são todos os humanos assim, que existem humanos que se importam genuinamente com o BEM, em fazer o Bem ao próximo, se importam com o outro, se dedicam a isso. O que deixa toda a divindade da trama muito confusa. Por algumas vezes vemos Lúcifer tentando entender o outro, se entender e entender seus sentimentos (já que agora também é um ser humano, não se safou de sentimentos ruins, estranhos e também dos bons/ superar sentimentos ruins e chegar aos bons) ele até começa a entender o que é empatia, se apaixona, sofre por alguém que não seja ele mesmo, protege alguns, quer se vingar de outros, ou seja; é tomado por paixões mundanas e humanas, não só pecados superficiais, desde as que fazem bem às que fazem mal.
Umas das curiosidades engraçadas é que toda vez que ocorre algo de MAL ou ruim e o argumento de justificativa é usado em seu nome ou como quando o culpam por crimes, querem dizer: culpam o capeta, tinhoso, lúcifer, Sr. do inferno, demônio; ele se revolta e quer fazer justiça: julgar e castigar os responsáveis e o faz com maior facilidade trabalhando com o departamento de Polícia de Los Angeles.
*Interessante
-> Ocorre no cotidiano, por costume, de quando algo de ruim acontece, ou
alguém faz algo muito errado, no sentido ético/moral ou pela da Lei, de
colocarmos a culpa no demônio. Pois então, o Demônio fica furioso com isso,
porque entende que cada um age como bem entende, tendo a Liberdade de Escolha
para fazer o bem ou o mal. E somente quem comete esses erros são os verdadeiros
responsáveis pelas consequências.
Além disso,
outra questão relevante é: toda vez que Lúcifer tem o poder de voltar ao
inferno ou colocar alguém lá, o inferno se mostra de uma forma muitíssimo
pertinente para nossa reflexão, isto é, para quem já pensou ou se interessa por
esse tipo de assunto mais “filosófico” ou de ponto de vista ético, ou teológico,
é que quando a pessoa morre e vai para o inferno, o inferno seria basicamente o
eterno retorno dos sentimentos de culpa e arrependimentos maiores de sua vida.
A alma – no caso - ficaria sujeita ao castigo de reviver aquelas situações que
mais lhe causaram remorso/culpa/ira e por fim o arrependimento, e ela não
pode voltar, aquelas situações ficam se repetindo infinitamente. Esse seria o
Inferno ou o castigo dado pelo “príncipe do inferno” para todos que ali estão,
no caso até para ele mesmo. (Posso estar sendo ousada em escrever isto, mas há
embasamento em interpretação de textos de alguns autores filósofos e outros
para fazê-lo).
A questão da
CULPA vem sendo trazida na série de forma sutil, porém muitíssimo relevante. O
que há por baixo dos panos, não se engane, é o que há de mais valoroso, pois o
que mais vemos é festa em boate, mulheres de corpos magníficos, drogas,
suspense e drama policial com bastante tiros e tudo mais que ganha holofotes e
chama atenção do grande público, porém, não podemos deixar de lado as questões
mais intrínsecas da trama que o autor gostaria de trazer. Sua genialidade
demonstra muitas leituras e pesquisas em Filosofia, Ética e Teologia no
mínimo).
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O Grito de Edvard Munch e Depressão de Vincent Van Gogh
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A leitura do
inferno por alguns autores é exatamente essa, a de não estar bem consigo mesmo
e com os outros por ter cometido erros e se sentir e conseguinte ser culpado
por ações ou falta delas. Esse seria o inferno, o estado desse sentimento de
culpa, se sentir culpado e por consequência se auto punir em um mar de lamúria,
arrependimento e tristeza, onde não se consegue enxergar um céu azul
significando a liberdade com pássaros a voar, nem mesmo um verde de grama e
esperança a simbolizar, apenas as trevas e escuridão a remoer o que fez e se
arrepende e o que gostaria de fazer diferente se pudesse voltar naquele
instante. Não à toa ouso eu mesma dizer que desde KANT à Nietzsche e também
outros filósofos mais contemporâneos como Dworkin -> é importante que se
pense e se viva Ética, uma Ética onde você não se arrependeria de suas ações ou
falta delas. Na Ética se deve pensar que é realidade que você vive concomitante
com os outros, e a partir disso, o que você fará com a sua vida (sendo que ela
está interligada a outras vidas) de modo que não se arrependeria quando
“chegasse a hora de partir” e houvesse a possibilidade de ir para o “inferno”.
Como você está
vivendo a sua vida? Está vivendo de forma que estaria satisfeito se chegasse a
um ponto onde a vida parasse e ficasse voltando e voltando infinitamente em sua
mente e coração no ponto desse momento? Você age consigo mesmo e com os outros
de forma que te deixe agraciado, satisfeito e orgulhoso de si mesmo?
Essas são
algumas questões que ficam em aberto para cada alma que teve a paciência de ler
este artigo até o final.
Agradeço:
O Seriado
Lúcifer está em sua terceira temporada no Brasil. Pode ser assistido pela
Netflix ou pela Fox.
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Amanda estuda Filosofia e mora em Ouro Preto – MG. Lança no mundo um olhar contemplativo e é por isso que gosta trocar informações e curiosidades sobre tudo o que admira e experimenta. Acredita que as perguntas movem o mundo e o conhecimento pode ser um remédio para a alma. Escrever no Caderno de Perguntas é uma forma de passar um pouco da sua bagagem adiante.