março 24, 2017

Bagagem extraviada

Por Elisabeth Santos
Algumas coisas que levamos na bagagem.
Saiba mais sobre esse gatinho fofinho aqui.

As crianças estavam em seus quartos, mas não tinham pegado no sono.

Ouviram que chegou de viagem o tio querido e um zunzunzum de mala extraviada. Sem saber ao certo o significado daquela prosa, viraram pro canto e dormiram que nem anjos. Se levantassem da cama sem chinelinhos, teriam de lavar os pés. Se provassem as guloseimas, que era de costume o tio viajante trazer, teriam que escovar os dentes de novo.

Melhor virar pro canto, dormir, e no dia seguinte saberem das novidades.

Em volta da mesa do café da manhã o assunto era o extravio da mala do tio, no trajeto feito de São Paulo à sua terra natal. O ônibus até que era bom, mas numa das últimas paradas, uma passageira deve ter confundido malas semelhantes. Nem foi conferido direito o número da etiqueta, pois era de noite e chovia. Assim sendo levou a mala do tio Alex e deixou a sua, ora vejam!

As crianças perguntaram como foi que o tio soube da troca, e ele respondeu que sua mala tinha um descascado, e aquela outra era nova em folha.

As crianças perguntaram se foi preciso olhar o que havia dentro e ele balançando a cabeça afirmativamente, explicou que o motorista abriu para confirmar a queixa.

Nessas alturas da narrativa, olhares curiosos de todos indagavam sobre o conteúdo.

E o Alex, embaraçado, disse que era um mundo de ursinhos de pelúcia, caminhõezinhos colecionáveis e uma boneca loura, dentro de uma caixa muito chique.

Protesto geral.

Verdade ou invenção... O tio teve de gastar seus trocados para agradar as crianças inconformadas com a lucrativa troca não concretizada.

Passados uns dias, a Empresa de Ônibus trouxe a bagagem extraviada por um descuido e todos de casa tiveram oportunidade de conferir se estava tudo lá.

Até hoje relembrando o fato as pessoas envolvidas dizem que o ursinho azul ia ser de uma, o caminhãozinho de outro, a boneca vestida de dourado da menina menor. Todos sonharam serem destinatários dos tais presentes.

Não pensaram nem um minuto na tristeza da proprietária da outra mala tendo de aproveitar roupas, calçados, perfume e desodorantes masculinos.

_ Foi ela quem trocou, tentavam justificar.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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