fevereiro 13, 2015

Sô Joel e o Carnaval


Sô Joel gostava de ser chamado assim. Começou com uma brincadeira de infância, simples teatrinho escolar, e pegou. 

_ Ei Sô Joel, chuta a bola pra lá. Manda a bola pra cá. Cabeceia. É goool!!!!!!!

Mas das coisas que ele gostava de fazer, nada lhe dava tanta alegria quanto a escola de samba que mantinha na garagem da sua casa com a patroa, Dona Ermelinda.

Os ensaios eram limitados: do dia sete de janeiro até o carnaval. Nada de misturar Natal, Reveillon, Festa dos Santos Reis, com batucada carnavalesca. Então, depois do jantar, antes da novela principal na TV, a turma reunia-se animada. Passistas, porta bandeira, mestre sala, uns avulsos fantasiados como quisessem, ou pudessem, suavam a camisas ao ritmo do melhor dos sambas.

Chegando a sexta feira do Rei Momo, além dos trinta registrados, mais uns trinta engrossavam o bloco do Sô Joel. Saiam por volta das dezenove horas, e eram dos primeiros a chegar à praça da igreja Matriz (que nem se importava se querem saber). Ali, naquela hora, havia mais donas de casa, mães de família com seus filhos pequenos, casais de meia idade, parecendo fazer horinha para ir dormir. Acontecia de, contagiados pela bateria alegre, e a descontração dos componentes do bloco, entrarem na dança e se divertirem também.

E o bloco descendo a rua principal passava em frente ao Clube dos Maiorais e... entrava! O porteiro era vizinho da turma do Sô Joel. Conhecia de sobra cada elemento. Sabia que não iam bagunçar o salão prontíssimo para o baile e concurso de fantasia da elite social da cidade a acontecer das vinte e duas horas em diante. Alegria geral! Até foto alguém ousou bater. Sô Joel quis proibir, mas a resposta convincente ‘tava na ponta da língua:

_ Fomos convidados a entrar. Não viemos de oferecidos não senhor. Que tem demais numa foto para lembrança?

Após dar algumas voltas sambando no grandioso salão, seguido pelos garçons e barmans que iriam trabalhar logo mais, o bloco vai-se embora.

Não satisfeito, entra também no Clube do Trabalhador, enfrenta aquele calor humano de ventiladores insuficientes, e sai mais bem disposto ainda recebendo o benfazejo frescor da noite na cara.

Hora de voltar! Agora satisfeitos se ufanam das próprias proezas, riem muito, e planejam o roteiro do sábado de carnaval.




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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