março 26, 2021

Revirar o mundo, pandemia e recomeço - parte III

 Por Elisabeth Santos


6372270 © Adam Borkowski | Dreamstime.com


TERCEIRA PARTE

O Tatu e o Trovador

Em noites claras, de lua cheia, sai o caçador em busca do Tatu, que não conseguindo dormir vagueia pelos campos. O Bicho Homem tem conhecimento que não deve se alimentar da carne do tatu por vários motivos, porem ouviu dizer de fonte ignota, pelo parente de um amigo que veio de outro canto do mundo, que aquela caça se transforma numa iguaria. Está lá o caçador à espreita do retorno da provável caça à sua casa, que é uma toca. Embora humilde residência, é lá que ele vive, reproduz e cria seus filhotes. Ele tem uma família! Além disso, tatus em geral são amigos dos humanos, pois se alimentam  de formigas e cupins mantendo o equilíbrio da natureza. Não ficam soltos por aí ouvindo  prosa mole de que o planeta Terra tem canto sendo que é redondo; ou tentando assassinar pessoas.

Voltando à historinha para crianças de oito a oitenta anos de vida...

Em “noite alta, céu risonho, quando a quietude é quase um sonho”, saem também namorados, e enamorados. Os primeiros são aqueles que adoram estar em boa companhia, e vão com seus pares, trocando juras de amor sob “o luar que cai sobre a mata, como chuva de prata irradiando esplendor”. E o segundo... ah o Segundo... “Eu sou o enamorado da vida, quero viver todas as suas horas, as que prendi na mão e as que nunca alcancei.” Este, o verdadeiro amante de tudo quando é natureza, sai também a “ouvir estrelas” sem se preocupar, que os outros possam dizer dele: “decerto perdestes o senso”. Ele sai em qualquer momento do dia ou da noite, a observar toda criatura, e percebe o desespero do tatu fugindo do predador.

 Desse imaterial, enxergado no material ou simplesmente matéria, o enamorado escreve.

Escreve para quem lê, para quem tem ouvidos para ouvir, ou interpreta aquilo que lhe é lido.

E o que diz o trovador desse tempo pós pandêmico, de plena consciência ecológica?

O trovador medieval fazia poesia, que transformava em cantiga, e se apresentava à nobreza da qual era parte.

Em algum lugar do futuro, este trovador, de coração e pensamento nobres, virou compositor seresteiro. Mais pra frente, sem nunca perder a nobreza da alma, não compôs mas escolheu cantar. Inspirando-se nos sons da natureza, saiu pelo arredondado mundo novo, e encontrando-se com o tatu bola, representante do reino animal, firmaram um tratado de paz. Os dois saíram juntos, cantando a beleza que é a vida:

- Pan de lerê de  pan - de - mi, muitas coisas vi por aqui...

- Ta de ta- tu, tatu do bem, be- be- re- rê, bem, bem...

- Mu de mu- tan, de pan de pi. Ti, ti, ti, tá li...

- Ão de tro – vão de chu- va cai. Va, va, va. Vai, vai...

- Có de có - có. Có- có- ri- có. Virou, tro, ló, ló...

- Esta ami- za- de de ti pra mim será sem- pre assim... 

- E a can- ti- le- na não teve fim.

- Fi, ri, ri, ri, fim, fim.


Em noite de lua cheia dizem por aí, que aparece o Lobisomem, ou pelo menos ouve-se seu uivar incessante e nostálgico. Pura lenda que faz tremer muita gente.    



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

março 19, 2021

Revirar o mundo, pandemia e recomeço - parte II

 Por Elisabeth Santos

11757108 © Melinda Nagy | Dreamstime.com

SEGUNDA PARTE

 Após uma noite que pareceu sem fim, o dia radiante surgiu. A luz assim, de tamanha intensidade, não me deixava enxergar nitidamente o que estaria à minha volta. Fechei de novo os olhos, aguardei uns instantes para abri-los bem devagar. Fui me enxergando aos poucos para ter certeza, que quem ali estava era eu mesma. Pareceu-me uma bobagem constatar, se o fato de estar ali sob a luz do sol seria uma verdade em minha vida. Sonho, pesadelo ou realidade? Ainda me encontrava num estado de transição. De onde para onde, eu ainda não estava certa...

 - Onde estive mesmo? Por que? Com quem? E muitas outras perguntas que qualquer criança responderia, pareciam questões de um vestibular para atingir um curso superior.

Será que era isto?

A garganta doía. Experimentei emitir um som qualquer e ouvi uma voz irreconhecível.

Assim mesmo comemorei o fato de ainda ter voz. Ouvir eu ouvia sim, só não pareciam sons externos. Ambientais. Era meu coração batendo, meus pulmões se enchendo e esvaziando de ar. Comecei a mexer os dedos, artelhos e... espirrei sem querer. O cheiro de álcool sempre me fazia espirrar. Então... juntei todas as sensações e celebrei a vida que voltava ao normal.

Por onde andei, se é que andei?

O que interessava a mim naquele momento, era sair correndo de encontro aos raios de sol que clarearam a casa, traziam vida. Queria, e precisava muito, novamente sentir na pele o calor daquela luz.

Custei a ficar de pé sozinha. Apareceram então: o Édi, a Alice com o Eduardo a me ajudarem a andar. O Trovador e o Tatu, estampavam a capa do livro escrito por mim, trazido por eles.

E foi depois dessa experiência toda, que percebi um mundo diferente. À minha volta o calor humano; as pessoas com quem nunca troquei um “bom dia”; a vegetação verde amarela; os pássaros nos fios dos postes, onde tem seus ninhos; os cães e seus tutores, e os abandonados também. Para tudo e todos uma atenção especial dos passantes nas ruas.

- Mudou o mundo ou mudei eu? As coisas estavam diferentes sim. Neste primeiro olhar, depois de um bom tempo no isolamento social, seria previsível o estranhamento...

e assim foi e é até hoje, tanto tempo passado:

- A máscara protegendo usuário e seu semelhante.

- A medição de temperatura automática e à distância, de cada pessoa que entra e sai no comércio, prestadoras de serviço, órgãos públicos, coletivos etc.

- A alimentação em restaurantes cumprindo o distanciamento individual estipulado.

- Bebedouros lacrados.

- Objetos de uso individuais, em lugares públicos, higienizados antes e depois da utilização.

- Cumprimentos com acenos de mão.

- Maior volume de conversas nas redes sociais.

- Encontros e reuniões pelo celular.

- Paciência, paciência e paciência...

Até a corrida ao incerto enriquecimento financeiro não desperta o mesmo, ou mais interesse que antes...

-Será?

E eu, cá na porta da sala de aula grito aos alunos que estiveram em recreio:

- Corre minha gente, hoje tem historinha!

É a vida que continua.

Vida nua.

Só Amor e Paz!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

março 12, 2021

Revirar o mundo, pandemia e recomeço - parte I

 Por Elisabeth Santos

  


- No meio em que vivíamos tudo era muito tranquilo. Não havia pedras incontornáveis em nosso caminho, a água era boa até para navegar, as subidas e descidas faziam parte da paisagem natural. Foi lá que ouvíamos dizer: “a terra era daquelas que em se plantando, tudo dará.”

Aqui e ali se viveu de brisa e do ar do prado!

- No meio no qual vivemos hoje está tudo mudado. Até o tatu.

De toda a liberdade de ir e vir, poucas opções restaram. Assim mesmo vamos vivendo, agradecendo a vida.

Vivamos, portanto!

-Se nos é permitido ir à padaria, continuemos nossa rotina do pão nosso de cada dia, amém!

Compra-se o que se comprava antes para matar a saudade de fazer tudo sempre igual, num mundo revirado, nunca dantes navegado. Como se fosse possível, num átimo de tempo, voltar à realidade anteriormente conhecida, nem sempre devidamente agradecida.

-Pode-se ir ao mercado de alimentos perecíveis ou não. Líquidos, sólidos ou pastosos...

Produtos de higiene, limpeza, ou beleza... Utensílios diversos, para os diversos moradores de nossas casas.

-Para a pessoa circular fora da moradia é necessário proteger nariz e boca. Para o novo vírus não circular, torna-se imprescindível também a higienização das mãos e antebraços na ida e na volta de qualquer lugar.

É pelas mãos indo ao rosto, que o Corona Vírus chegará às vias respiratórias do então novo hospedeiro. Sem nem mesmo ser convidado, ou pelo menos perguntar:

-Vossa Senhoria quereria hospedar-me?

É por isso que nós humanos usamos máscaras. Assim protegidos podemos ir a tantos outros locais necessários, como banco, farmácia, médico ou dentista.

Tudo que pudermos solicitar à distância, e receber no domicílio, será útil.

Locais com muita gente aglomerada... nem passar perto! Ali a chance de esbarrar em alguém já contaminado é bem maior. E olha, que o hospedeiro do intrometido poderá não apresentar sintoma algum, viu? Silencioso e bem escondido, para ninguém o achar e querer acabar com sua raça, lá está ele... o COVID 19.

Chegadas as primeiras notícias da descoberta de um vírus com características perigosíssimas num mercado de Wuhran na China reuniram-se entendidos do assunto para estudar como seria o enfrentamento. Pelo poder e força daquele vírus reproduzir e se espalhar rapidamente, a chance de pegar o mundo todo seria grande. A palavra Pandemia deve ter caído ali como trovão seguido de raio queimando gargantas prestes a dizer: -Não! Isso não. Não estamos preparados para uma reviravolta mundial deste porte!

Engraçado... O mundo preparado belicamente, monetariamente, espacialmente e quaisquer outras coisas mentes... e lá vem um vírus a nos virar e revirar o mundo sem que tivéssemos nada pronto para encara-lo. Nem vacina, remédios, insumos, materiais descartáveis ou aparelhagem adequada, eletrônicos, profissionais treinados, hospitais especializados suficientes, leitos...

E COVID 19 andando a passos largos ia chegando lá, ali e acolá, e nós brasileiros cumprindo distanciamento social para dar tempo de nosso país preparar-se. Tudo muito difícil porque fornecedores não davam conta das entregas a tempo e a hora.  Estiveram servindo a população humana terráquea. E, sem saberem ao certo, serviram aos desumanos que tentavam, egoisticamente, levar alguma vantagem Pandêmica ou “Pandemônica”. Junto vieram interesses políticos nada corretos. Eleitoreiros mesmo.

 Cada qual puxando a brasa para sua sardinha, ou melhor dizendo, puxando votos para  seu partido. Os partidos? Repartidos e divididos em tasquinhas, se lascaram. A hora seria de solidariedade com o sofrimento alheio, mas muitos se alhearam.

De novo a população salvou o momento através do voluntariado. Era, é e será sempre o povo a dar o exemplo. Esse sim conhece o sofrimento de precisar, e não ter. As doações empresarias e de particulares foram chegando, os grupos organizados foram distribuindo.

Entidades filantrópicas, religiosas, dentre outras sérias, confortando aos desesperados, oferecendo a eles o que o vil metal não compra.

E como o isolamento social, além da máscara e do álcool gel, se fizeram necessários, não só o comércio, mas os artistas, as redes sociais, rádios, canais de TV se reinventaram.

Quase todos estão propondo alternativas para os serviços que ofereciam ou  apresentavam em tempos normais. Através das palavras de ordem: Fique em Casa; Nós Estamos Com Vocês; Serviços de Saúde a Postos; Colaborem Evitando Aglomeração, já espalham resultados positivos alcançados.

Um cantor fez um show musical em casa, colocou no Youtube, e timidamente foram  aparecendo outros. Como nós da Terra Brasilis amamos um estrangeirismo, adotamos o termo “Live” pronunciando Láivi. As bandas que se apresentaram gratuita e virtualmente mantinham distanciamento de dois metros de um componente para outro.

 Até patrocinador apareceu, de boa vontade, para custear gastos indispensáveis que algumas apresentações teriam de fazer por conta própria. A beleza da união de forças esteve e está em toda parte. A recompensa vem da satisfação em fazer o bem sem olhar a quem, literalmente. O artista não vê seu público, não escuta seus aplausos, mas sabe que ele ali está.

É de emocionar qualquer um. Até o Édi!

Não surpreendeu que certa banda, através de pesquisa, foi muito solicitada e a cidade ofereceu-lhe espaço, num estádio de futebol, para o dia “D”. A surpresa sim, veio através dos inúmeros comentários do público agradecido. Num cálculo aproximado, daria seis

vezes mais o que as arquibancadas comportariam!

Aquela frase “todo artista deve estar onde o povo está” é lembrada a todo instante:

estamos em casa, mas recebendo estímulo, solidariedade, e a alegre companhia das artes em geral, pelos meios de comunicação.

É nessas horas que vivenciamos as mil e uma utilidades dos avanços tecnológicos que, mesmo não nos levando em fuga pra lua num ônibus espacial, traz até onde estamos o conforto de compartilhar com amigos, olhos nos olhos, tantas emoções, que na verdade só aumentam.

Tempos de COVID 19: escolas fechadas, atividades esportivas suspensas, igrejas vazias, produção parada, saudades imensas... Empregos faltando, serviço sobrando, temores voltando, lembranças de guerras contadas pelas pessoas mais anosas.

Muita preocupação, briga sem razão, troca de acusação... total confusão.

Noticiário numérico em tempo real, do começo ao final, ou do fim aos confins.

Noticiário falso, tendencioso, investigativo maldoso da origem viral. Hipóteses levantadas, cientificamente sondadas, sendo declinadas. Sem tiro ou apito começa a corrida.

Todos querendo se livrar do mal, trabalhando incansavelmente, buscam para a problemática uma boa “solucionática”. - E o que há de? Cadê, minha gente?

Num espaço de tempo, que parece não passar, unem-se esforços, trocam-se conhecimentos, e experiências. Vai-se descartando caminhos percorridos que deram em nada, caçando alternativas, juntando indícios de quase acertos, todas as possibilidades enfim de cada cultura do planeta. E não é que começou uma união contra o inimigo comum?

Para o mundo revirado chega enfim o recomeço!

Já foi dito, em verso, prosa e outras maneiras: tudo o que foi não será de novo o que já foi um dia, mas podemos repetir com o mais alto grau de esperança... o que foi bom poderá vir a ser bom algum dia. Não precisará ser exatamente igual.

O processo pelo qual estamos passando nesse ano de 2020 nos ensina muito:

- Está sendo uma revirada forçada, e dolorosa sim. Quem sabe a desumanidade estaria se  alastrando num mundo em guerra por coisas valiosas, que não permanecem depois da morte? Uns precisando sobreviver com dignidade, muitos os explorando, expondo a  miséria humana por quimeras?

-  Ou seria uma reviravolta para o bem de um planeta agonizante? Se o Bem Feito estivesse acima do Mal Feito, ou se aquele estivesse em pé de igualdade com esse, precisaríamos desse alerta mundial?

- Ainda há tempo! É o alerta da natureza, que consegue produzir na adversidade. A Pandemia de hoje talvez seja só para nos lembrar que a cada ação mal direcionada, há de ser vista uma reação inesperada, que conseguirá parar a humanidade desesperada. - Esta seria a resposta do trovador.

- Andamos esquecendo nossos verdadeiros valores? E este andar estava sendo penoso e resolveu-se pela corrida rápida num caminho enxergado como fácil, sem prever consequências desastrosas?   

- A vida é o valor maior! Para cuidá-la há de se ter devoção. Preservar moral e ética.

Respeitar diferenças culturais, dirimir divergências possíveis, aceitar diferenças que opassar do tempo naturalmente traz, e tantos outros valores, que alguém poderá concluir que se quer uma perfeição impossível de acontecer.

- Teríamos de viver uns pelos outros, e não cultivar o extermínio, mas sim “combater o bom combate!” que já foi modelo de esperança no convívio pacífico almejado, e quiçá conquistado.

E o que nós temos de sobra é a esperança!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 29, 2021

A primeira primavera

 Por Elisabeth Santos


_ Já se passaram as quatro estações do ano e eu completo um ano de vida!

A gente sente e lê no brilho dos seus olhinhos, o quanto ele está feliz com a grande aventura que é viver. Rafael não sabe se expressar com palavras, mas dá a entender aos que estão ao seu lado, o quanto gosta do nosso mundo.

Passou pelo período de cólicas, experimentou vacinas doídas, fez controle de desenvolvimento na clínica, foi ungido na pia batismal...

Atentou, e se encantou com outros seres vivos a quem foi apresentado. Divertiu-se bastante.

A cada novidade pareceu perguntar: - O que é isso?

A cada resposta ouvida, mas não compreendida, fez sua própria classificação através do contato com a boca. Aprendeu o sim e o não, imitando a cara da “gente grande” cuidadosa de sua integridade física. Aprendeu e imitou, mas não conseguiu ainda obedecer. A gente sabe que ainda não é a hora certa, mas não deixa de dar exemplo, e se alimenta junto com ele para mostrar-lhe... como crescer saudável.

E daí que o Rafael fez careta para algumas frutas, comeu bem os legumes, e com a própria mão levou à boca ovo cozido e carne em pedacinhos. Sem dispensar totalmente o leite materno, bebe água, suga a mamadeira para o complemento alimentar.

Quando o menino, segurando na grade do berço ficou em pé, mesmo que meio bambo, foi uma festa para os fotógrafos de plantão: madrinha, tios e avós corujas de carteirinha!

Ao seu balbuciar ininteligível todos foram interpretando o que gostariam de ouvir:

- O neném pronunciou meu nome!

- Não. Ele me chamou, isto sim!

- Que nada. Até bico fez para dizer “vovô”.

E todo mundo entendeu o que quis, e ficou certo disto.

Só sei que o filhote de gente é muito esperto mesmo. Sabe quando alguém vai sair, e estende os bracinhos para ir junto passear. Pede um pedaço do que estão a mastigar perto dele. Engatinha para perto de objetos não identificados como brinquedos. Enfim, se sente atraído por coisas diferentes.

É um explorador nato, que vai aprender através de uma curiosidade que parece não ter fim.

Parabéns criançada que faz um ano de vida no mês de agosto! Tudo há de ser ao gosto de vocês. São os meus votos!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 22, 2021

Escrevendo novela

Por Elizabeth Santos

   


Se o produtor de um filme quer sucesso de bilheteria tem que estar atento às imagens que precisa mostrar; as necessárias a passar realismo ao espectador; às que apenas sugerem acontecimentos, e por fim, aquelas imagens misteriosas a despertar a curiosidade, e manter o interesse para assistirmos até o final.

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Então aparece um cara montando cavalo, escondendo um punhal no cano da bota, e pegando a estrada no galope ligeiro... e a gente deduz que vai haver briga.

Dali a pouco, num suntuoso cenário interno, de adornos, flores e jóias surge uma família de três gerações, e a conversa é sobre uma mudança de país. Fácil, fácil quem assiste ao filme sabe que ali estão pessoas ricas, e novidades surgirão.  

Se em determinada cena é mostrado o galã roubando um beijo da mocinha é para o público daquele filme entender, que ali está um personagem ousado. Nem precisará roubar outros beijos.

E daí, numa escuridão chuvosa, um vulto se move sorrateiramente, esbarra e derruba algo que pode ser uma lixeira! No cinema ninguém consegue disfarçar o susto, aliviado somente quando em determinada janela brilha uma luz, e...

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_ e... o quê?

Nestas poucas linhas, temos elementos suficientes para desenrolar um filme completo de, mais ou menos, duas horas de duração.

Novela não é assim! Novela é algo enovelado semelhante a um novelo de fio que poderá desenrolar e tecer tramas de todo e qualquer tipo sob um título, ou uma etiqueta só.

Novela tem várias horas de duração, é dividida em capítulos recheados de episódios, muito mais personagens, histórias dentro de uma história maior, e diversos tipos de enfoque.  Ela vai ao sabor da onda, digo ao gosto do(a) diretor(a), segundo o índice de audiência. Tem muitos patrocinadores, pois existem alguns embutidos que ofertam indumentárias, adereços, produtos perecíveis, serviços e marcas, que aparecem aqui e ali, e até inoportunamente.

Uma novela poderá surgir de um fato corriqueiro. Aos roteiristas caberá a contextualização, a continuidade, a finalização etc. O imprevisto está à espreita. Pode acontecer de um personagem secundário crescer na preferência popular e passar para primário. De um outro ter que sair de cena, mudando-se para local ignorado, ou até morrer de mal súbito, por não estar merecendo audiência.

Se o problema é prender a atenção do público, filma-se mais de um final. Daí algum meio de comunicação divulga o que será desvendado no último capítulo, e é só surpreendê-lo utilizando a segunda, a terceira ou a quarta opção, já pronta.

Outra coisa, que às vezes acontece é a novela precisar ser emendada devido à data propícia ao início da outra, que irá substituí-la. Mal (ou bem) comparando, pensemos no fio de uma linha fina, sedosa, de uma cor resplandecente emendado num fio de outro novelo, sem nada em comum com o inicial, só por falta de matéria prima... Pode acabar em um terrível desastre! Por isso mesmo, inicio de novela é tão monótono. Aparece um mundo de coisa que poderá gerar a liga com a extensão necessária naquele momento crucial: alguém mexendo numa velha caixa de fotografias, bem lá no iniciozinho dará origem a um assunto novo; ou uma simples paisagem; pessoa que retorna; ponto de vista, opinião, ou mesmo um sentimento que mude. Quase tudo será válido desde que se respeite o espectador.

Não vale mudar o que o personagem demonstrou ter como característica principal e virá-lo do avesso, para desvirá-lo em dez dias, só para seguir o calendário.

Seria como encher linguiça com carne estragada.



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janeiro 15, 2021

Sociedades Protetoras

Por Elizabeth Santos


Embora difícil, ainda encontramos pessoas altruístas, que se preocupam com animais domésticos abandonados. Creio serem aquelas em muito menor número que estes, e por essa razão ainda nos deparamos com tantos casos sem solução.
Por Elisabeth Santos


Embora as soluções para tais problemas venham surgindo, e sejam bem divulgadas nas redes sociais, parece estarmos longe de um “basta definitivo” no abandono. Quem possui cães ou gatos em idade adulta terá que sujeita-los à castração, se não deseja responsabilizar-se pela metade da ninhada. Eles, os filhotes, irão aparecer em algum local das proximidades, e tem chance da paternidade reconhecida sem DNA.

Gatos são bem mais difíceis de serem mantidos confinados. Ágeis e doidinhos por liberdade vão sair namorando pelo mundo afora, ao menor descuido dos seus donos.

Parabenizo Organizações Não Governamentais, que a cada dia tem novas boas ideias na proteção dos bichinhos sem teto, sem alimento, sem tratamento de saúde, sem donos responsáveis enfim.

Esses seres humanos munidos de compaixão, que colocam alimento e água às criaturas da natureza; montam casinhas a serem distribuídas em pontos estratégicos de áreas urbanas; recolhem animais de rua em canis; promovem feiras de adoção; cuidam deles como se fossem seus pets queridos!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 08, 2021

Juro que vi e vivi

Por Elisabeth Santos

Não tive o gosto de conhecer meus ‘vôs paterno e materno que faleceram jovens, por assim dizer. Avó, só conheci a materna. Tínhamos contato apenas viajando de Minas para São Paulo, e vice versa. Quem nunca experimentou férias na casa da vovó, deve imaginar a coisa melhor do mundo infantil. Já disseram que avós são mães com açúcar, e eu afirmo que sim. Nos idos de 1950 a 60 minhas inesquecíveis férias foram com ela. Até na hora de passar iodo no machucado da gente que caia da jabuticabeira, vovó Mariana achava um sopro para amenizar a dor. Ela era doce, mesmo quando ralhava. Aquele tanto de neto e neta correndo de lá para cá em seu jardim, quintal e porão, de vez em quando esbarrava em suas orquídeas, e merecia o pito. Muito raro de acontecer, mas no desajeito da pré-adolescência, quando desconhecemos a extensão de braços e pernas, aconteceu sim.

 Ir à casa da vovó, acompanhando mamãe numa visita de fim de semana só para matar saudades, era um importante acontecimento. Eu curtia desde o momento de arrumar mala, acordar às quatro horas da manhã a pegar o trem de ferro, a viagem todinha pela serra da Mantiqueira, e... (suspense) a chegada à estação donde tomávamos lugar numa charrete e mamãe coordenava: - Rua Cinco, passando pelo centro, por favor.

Já existia táxi com cavalos dentro do motor a gasolina, mas criança que eu era, preferia o bicho de carne e osso a puxar minha condução. Acho que, naquele instante, por poucos minutos me identificava com aquele personagem ilustrando livro infantil, numa montaria, ou carruagem. Era de uma emoção vibrante jamais esquecida, percorrer os extensos quarteirões até o destino certo.

 Tocando a campainha, a porta se abria num clique.

Era minha querida vovó aparecendo no alto da escada de entrada, que simplesmente puxando um barbante, destrancava a porta lá embaixo. O truque estava no barbante que acompanhava o corrimão, e acionava o trinco a que estava amarrado. Como esquecer a magia desse instante?

As conversas de mãe e filha eram intermináveis, e eu ia direto ver a Benedita a cozinhar o almoço, arrumar a mesa, e ajudá-la a carregar mala e frasqueira para nosso quarto.

 Sempre levávamos ovos caipiras, queijos e doces da roça para Cruzeiro, que com ares de cidade grande já os tinha poucos a oferecer à população. Em troca trazíamos para nossa casa em Campanha roupas compradas prontas, enxoval e até sapatos.

Vovó era muito católica e tinha um terço que rezava com os netos todas as noites, quando eles já estavam em suas camas para dormir. Se, ao término, algum insone continuava acordado puxando prosa com um(a) primo(a), ela voltava com o terço. Depois do segundo, antes que completássemos o rosário, quem não havia pego no sono fingia dormir.

Tínhamos carinho e respeito por ela por todo o tempo que convivemos, mas não deixávamos de lado as traquinices e ‘vó Mariana parecia entender isto muito bem. Foram quarenta e três netos e netas a passarem pelo colo dela ao longo dos anos!

Para o meu enxoval pedi-lhe de presente, que fizesse uma toalha de crochê para meu novo lar. Passadas cinquenta primaveras cá está a toalha guardada com muito amor. Só a utilizei em ocasião especial como reunião de família e alardeava: -Vovó teceu para mim.

Quanta saudade!

Ela quem me ensinou a fazer o doce denominado Miscelânea, depois de uma reunião de família, quando sobrou uma tigelona de salada de frutas. Melhor explicando: -Minha mãe já havia morrido. Fui administradora da casa por uns meses. Não sabendo o que fazer com aquela sobremesa meio murcha, muito aguada, e ainda assim boa, perguntei à vovó Mariana como poderia aproveitar aquilo. E ela, criada em fazenda com pomar, e muitos irmãos ávidos por doces foi para a cozinha comigo. Juntas calculamos o açúcar cristal proporcional às frutas, despejamos num tacho de cobre e nos revezamos na colher de pau até encorpar.

- Que delícia!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".