Por Elisabeth Santos
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SEGUNDA PARTE
Após uma noite que pareceu sem fim, o dia radiante surgiu. A luz assim, de tamanha intensidade, não me deixava enxergar nitidamente o que estaria à minha volta. Fechei de novo os olhos, aguardei uns instantes para abri-los bem devagar. Fui me enxergando aos poucos para ter certeza, que quem ali estava era eu mesma. Pareceu-me uma bobagem constatar, se o fato de estar ali sob a luz do sol seria uma verdade em minha vida. Sonho, pesadelo ou realidade? Ainda me encontrava num estado de transição. De onde para onde, eu ainda não estava certa...
- Onde estive mesmo? Por que? Com quem? E muitas outras perguntas que qualquer criança responderia, pareciam questões de um vestibular para atingir um curso superior.
Será
que era isto?
A
garganta doía. Experimentei emitir um som qualquer e ouvi uma voz
irreconhecível.
Assim mesmo comemorei o fato de ainda ter voz. Ouvir eu ouvia sim, só não pareciam sons externos. Ambientais. Era meu coração batendo, meus pulmões se enchendo e esvaziando de ar. Comecei a mexer os dedos, artelhos e... espirrei sem querer. O cheiro de álcool sempre me fazia espirrar. Então... juntei todas as sensações e celebrei a vida que voltava ao normal.
Por
onde andei, se é que andei?
O que interessava a mim naquele momento, era sair correndo de encontro aos raios de sol que clarearam a casa, traziam vida. Queria, e precisava muito, novamente sentir na pele o calor daquela luz.
Custei a ficar de pé sozinha. Apareceram então: o Édi, a Alice com o Eduardo a me ajudarem a andar. O Trovador e o Tatu, estampavam a capa do livro escrito por mim, trazido por eles.
E foi depois dessa experiência toda, que percebi um mundo diferente. À minha volta o calor humano; as pessoas com quem nunca troquei um “bom dia”; a vegetação verde amarela; os pássaros nos fios dos postes, onde tem seus ninhos; os cães e seus tutores, e os abandonados também. Para tudo e todos uma atenção especial dos passantes nas ruas.
- Mudou o mundo ou mudei eu? As coisas estavam diferentes sim. Neste primeiro olhar, depois de um bom tempo no isolamento social, seria previsível o estranhamento...
e
assim foi e é até hoje, tanto tempo passado:
-
A máscara protegendo usuário e seu semelhante.
- A medição de temperatura automática e à distância, de cada pessoa que entra e sai no comércio, prestadoras de serviço, órgãos públicos, coletivos etc.
-
A alimentação em restaurantes cumprindo o distanciamento individual estipulado.
-
Bebedouros lacrados.
- Objetos de uso individuais, em lugares públicos, higienizados antes e depois da utilização.
-
Cumprimentos com acenos de mão.
-
Maior volume de conversas nas redes sociais.
-
Encontros e reuniões pelo celular.
-
Paciência, paciência e paciência...
Até a corrida ao incerto enriquecimento financeiro não desperta o mesmo, ou mais interesse que antes...
-Será?
E
eu, cá na porta da sala de aula grito aos alunos que estiveram em recreio:
-
Corre minha gente, hoje tem historinha!
É
a vida que continua.
Vida
nua.
Só
Amor e Paz!
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